Foto: Arquivo PSTU

 
O Rio de Janeiro vive momentos intensos de lutas, que na verdade já vêm se desenvolvendo há alguns anos. Desde a greve dos bombeiros e profissionais de educação em 2011, há um maior acirramento da luta de classes. Mas foi a partir das Jornadas de Junho que os movimentos sociais partiram para a ofensiva e colocaram contra a parede o governador do Estado, o prefeito e a presidenta Dilma. O movimento pelo “Fora Cabral” foi gigantesco e acelerou a renúncia do governador.
 
De junho pra cá, vivemos as mais importantes lutas das últimas décadas. Milhões foram às ruas contra as injustiças da Copa do Mundo. Eram jovens e trabalhadores questionando o aumento do preço das passagens e todas as injustiças sociais. Questionava-se desde a contradição entre os altos gastos da Copa em comparação com a situação da saúde e educação, até as remoções forçadas de milhares de famílias.
 
Essas mobilizações de rua serviram para mostrar ao conjunto da classe trabalhadora que era preciso lutar e era possível vencer. Foi assim que os garis deram um exemplo de força dos trabalhadores, derrotando a prefeitura e conquistando suas reivindicações. Agora, inspirados nos garis, várias categorias deflagram greve e preparam suas lutas. A greve dos rodoviários é um sintoma do descontentamento dos trabalhadores com as péssimas condições de vida e salário. Neste período, vale também destacar as fortes greves operárias no COMPERJ e na PETROBRAS. São esses trabalhadores da construção civil e da área do petróleo, os grandes responsáveis pelas riquezas do nosso Estado, pelo peso da área petrolífera na economia do Rio de Janeiro. Enquanto a PETROBRAS engorda o lucro de seus acionistas estrangeiros, se afundando em negociatas escusas, os trabalhadores pagam a conta com a ameaça de retirada de direitos e um avanço da privatização da empresa.
 
Os episódios de violência policial nas manifestações escancararam para todos o papel da Polícia Militar. As torturas, assassinatos e sumiços, são praticados cotidianamente nas favelas cariocas em nome de uma suposta pacificação. A política das UPPs, longe de acabar com o tráfico, apenas substitui a opressão dos traficantes pela da polícia. Diante do aumento da militarização das favelas e da violência policial, os moradores foram também a luta. DG, Cláudia e Amarildo se tornaram símbolos da resistência popular nas favelas contra essa política de segurança assassina do governo PMDB/PT.
 
Nas eleições: um programa classista e socialista
Nesta conjuntura, chegamos às eleições para governador. Vivemos uma democracia dos ricos, onde todos os nossos direitos políticos estão limitados a votar a cada dois anos e assistir sempre ao mesmo resultado. As promessas se reciclam e nada muda. As eleições são um jogo de cartas marcadas, dominadas pelos grandes partidos que têm sua campanha sustentada pelos grandes empresários.
 
O PSTU é um partido diferente. Participamos das eleições não para eleger candidatos a todo custo ou porque acreditamos que pelo parlamento as coisas podem melhorar. Mas simplesmente para levar aos milhões de trabalhadores um programa socialista e revolucionário de ruptura com a ordem vigente. Utilizamos as eleições, portanto, para disputar a consciência dos trabalhadores de que as opções políticas burguesas não resolvem seus problemas, pelo contrário, são os responsáveis pelas péssimas condições de vida, pelos baixos salários, pela violência, pelo sucateamento dos serviços públicos. É assim, pois estes governos sejam do PT, PMDB, PSDB ou PR, atendem aos interesses dos ricos e poderosos, fazendo de tudo para garantir os lucros dos grandes empresários.
 
Mas não basta dizer que as diversas opções burguesas não servem e nem podem atender às reivindicações apresentadas nas Jornadas de Junho e na luta cotidiana da classe trabalhadora. Precisamos apresentar uma alternativa da classe trabalhadora. Ou seja, uma candidatura que seja um ponto de apoio às incontáveis lutas dos trabalhadores, se transformando numa plataforma para as reivindicações das greves das diversas categorias, denunciando todas as situações revoltantes a que os trabalhadores são submetidos. Partindo disso, apresentamos como saída para o nosso Estado um programa socialista. Isso significa dizer que para resolver todos os problemas mais sentidos pelos trabalhadores e jovens, precisamos mudar o sistema social em que vivemos, atacar os privilégios e lucros da burguesia e defender um Rio de Janeiro para os trabalhadores. Só assim podemos ter uma candidatura que defenda, até as últimas consequências, as reivindicações surgidas nas Jornadas de Junho e as demandas dos trabalhadores.
 
Por uma frente de esquerda no Rio de Janeiro
Nestas eleições e com estas propostas, defendemos uma Frente de Esquerda no Rio de Janeiro entre PSOL, PSTU e PCB. A frente não é um princípio para nós. Os partidos têm o direito de apresentar as suas candidaturas próprias e é natural que o façam. Nossa estratégia na eleição é levar nosso programa ao maior número de trabalhadores possível e ganhá-los para essas posições.
 
Consideramos a frente muito importante no Rio de Janeiro nesta eleição, porque acreditamos que podemos alcançar um grande número de trabalhadores e jovens com um programa que responda, minimamente, às demandas de junho e as greves de nossa classe. Nesse sentido, estamos articulando reuniões com setores do PSOL do Rio que estão dispostos a construir a frente (infelizmente sua direção majoritária já descartou essa possibilidade) e também com os camaradas do PCB. Queremos transformar esse desejo em ação através da realização de um ato público para batalharmos juntos pela Frente de Esquerda.
 
Sabemos das diferenças programáticas profundas entre nós. Apesar disso, consideramos estes partidos, neste momento, aliados importantes nas lutas que estão em curso. Não propomos uma frente com nosso programa acabado. Desejamos sentar de forma democrática e discutir um programa, inclusive com ativistas e organizações independentes, mas, para nós, este deve ter um marco: as reivindicações dos trabalhadores e jovens que se expressaram nas ruas desde junho e qual será a nossa política para implementar essas reivindicações. Além disso, esta frente deve ter alguns critérios como o não recebimento de dinheiro da burguesia, nenhuma coligação com partidos burgueses e o respeito ao peso das organizações componentes. Em 2012, consideramos desrespeitosa a proposta do PSOL de frente apenas na majoritária, pois esta seria uma frente que beneficiaria apenas o PSOL.
 
Este texto é parte de um esforço sincero e honesto para a construção de uma Frente de Esquerda no Rio de Janeiro, que respeite o peso das organizações e dispute a consciência da classe trabalhadora.