Marcha do Dia 20 de Novembro em São Paulo
Romerito Pontes
Secretaria de Negras e Negros do PSTU

 

Estamos na semana da Consciência Negra e as entidades do movimento negro devem decidir com quem efetivamente querem caminhar. Se vamos dar soco no vento ou acertar em cheio o inimigo racista.

O racismo não é um fenômeno abstrato, ele tem base real, tem suas origens, tem aqueles grupos que necessitam mantê-lo porque é dele que se beneficiam. A burguesia deste país não consegue respirar sem o racismo, pois isso tem a ver com a sua formação histórica. Ela é uma classe social filha da escravidão que herdou o latifúndio, as riquezas que nosso povo produziu em mais de 350 anos, o controle das forças policiais que reprimiam as revoltas negras e que de tudo fizeram para branquear esse país após a abolição.

Esse grupo e seus governos são os responsáveis pela situação de pobreza, miséria, abandono e genocídio da população negra. A burguesia neoescravocrata tem cor, tem classe social e partidos políticos que vai do PT até o PSDB. E hoje, infelizmente, o pugilista favorito da burguesia e do imperialismo é o governo Dilma (PT/PMDB) que, com o ajuste fiscal, tenta jogar o custo da crise econômica nas costas dos trabalhadores, sobretudo dos negros e negras.

Foi esse governo que extingui a SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e dias depois renovou a ocupação militar do Haiti iniciada em 2004. Os R$ 3,2 bilhões que Lula e Dilma já gastaram para reprimir os haitianos poderiam ajudar os milhares que aqui chegam e sobrevivem sem as mínimas condições humanas. O PT afronta o movimento negro e nós, negros, já não temos nenhuma justificativa plausível para defender Dilma, a não ser como cúmplice do seu racismo estrutural.

Resistência
Por outro lado, há muita resistência país afora protagonizada, sobretudo, pela juventude e pelas mulheres negras. O 20 de Novembro precisa refletir isso. A Marcha da Periferia, uma iniciativa que nasceu no Maranhão em 2006 e se espalhou por todo o país, se apresenta como um espaço privilegiado para a construção de um pólo de luta conseqüente contra o racismo.

Dezenas de organizações como o Movimento Negro Quilombo Raça e Classe, o Luta Popular, Movimento Hip Hop Quilombo Urbano e Quilombo Brasil, Movimento Quilombola do Maranhão (MOQUIBOM), CSP-Conlutas, ANEL,  Espaço de Unidade de Ação e CSP-Conlutas, ajudam a construir a Marcha da Periferia.  Essa Marcha resgata o espírito do 20 de Novembro como uma data em que a resistência se sobrepõe à conciliação de classes e tem como pauta as reivindicações históricas do povo negro. Ela terá como centro a luta contra o “ajuste fiscal racista” de Dilma e todos os demais ataques ao povo negro do campo e da cidade, por isso traz como tema “Zumbi +20”.

O governismo pretende mais uma vez empurrar o 20 de Novembro para sua zona de conforto. Iniciativas de última hora e em defesa do governo Dilma começam a se esboçar, alguns com o tema ““Zumbi + 20”. Alguns prefeitos e governadores também querem transformar o 20 de Novembro em um piquenique governista e não em dia de luta. Eles querem negar Zumbi e nós queremos reafirmá-lo.  A negrada quer lutar, quer sobreviver, quer enfrentar seus inimigos. As entidades do movimento negro terão que decidir se vão refletir essa necessidade real e objetiva ou se irão sucumbir ao apelos dos governos.

Quem nega Zumbi e Dandara nega a luta do povo negro
Zumbi entrou para a história por negar três vezes o poder da Coroa Portuguesa. Primeiro, porque, mesmo sendo alfabetizado e coroinha de uma igreja, preferiu fugir com apenas 15 anos e se juntar aos quilombolas de Palmares, onde se transformou numa grande liderança. Segundo, porque Zumbi, assim como Dandara, não aceitou o acordo defendido pelo seu tio Ganga-Zumba com o governo da província de Pernambuco, que prometia conceder liberdade aos negros de Palmares desde que se submetesse à Coroa Portuguesa.

Para Zumbi e Dandara, a luta deveria ser pela liberdade de todos os negros. E por último, porque preferiu a morte a se entregar aos opressores de seu povo.  As mais importantes das fontes históricas são as experiências deixadas pelo nosso povo. Para lutar contra os ataques de Dilma e da oposição da Direita (PSDB, DEM, etc) é preciso resgatar a verdadeira experiência de Palmares e não deixar que a burguesia use nossas referencias históricas contra os interesses do nosso próprio povo.

ESPECIAL A REVOLUÇÃO SERÁ NEGRA, OU NÃO SERÁ