Polícia invade shoppings de São Paulo e agride jovens da periferia

Passeio de jovens da periferia apavora a classe média e a burguesia

“Um ‘rolezinho’ acabou em confusão, no início da noite de ontem, no Shopping Metrô Itaquera, Zona Leste de São Paulo. A Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar cerca de 3 mil jovens, enquanto lojistas fechavam as portas.” (O Estado de S. Paulo, 12/1/2014)
 
Lojistas assustados fecharam suas portas para impedir a entrada de milhares de jovens da periferia em diversos shoppings da grande São Paulo, acionaram a polícia que prontamente respondeu com balas de borracha e “detenções para averiguação”. Até juízes de plantão, também frequentadores desses ambientes, despacharam liminares proibindo a “aglomeração e a baderna”.
 
O Shopping JK Iguatemi colocou um aviso na porta e impediu a entrada até de funcionários. O sistema das portas automáticas foi desligado, e todos eram revistados na entrada.
 
O fenômeno parece se espalhar por outras grandes cidades do país. O chamado “rolezinho” tem causado espanto em alguns desatentos frequentadores do que representam os centros do consumismo capitalista. Não se trata mais de pequenos burgueses perfumados, típicos frequentadores desses espaços, mas da fina flor da exclusão, a juventude pobre e negra que vêm das periferias para causar furor e desordenar” o ambiente.
 
Se os ventos de junho que varreram as ruas do país de norte a sul tiveram uma face, parte dela foi a revolta das massas populares, essa mesma juventude que é alimentada todos os dias com a ideologia de que viver bem é consumir. Ao mesmo tempo, é submetida a empregos precarizados e vive afastada do centro, em bairros sem infraestrutura, tratada como gado num sistema de transporte coletivo caro e de péssima qualidade.
 
O “rolezinho” da periferia é mais uma expressão do novo momento político que vivemos. As pessoas estão descobrindo as ruas, recuperando o espaço privatizado do shopping para o protesto popular. Ainda que a contradição do pertencimento seja algo como “nós também queremos ser consumidores”, é bastante progressivo que milhares de jovens da mesma classe social se unam para dizer que do jeito que está não dá mais.
 
As pessoas não são cegas o suficiente para não ver que o governo está torrando bilhões de reais para que um pequeno punhado de grandes capitalistas faturem com a Copa, enquanto a vida segue dura e difícil para o povo trabalhador. Se em junho o levante foi por R$ 0,20, a tendência é que agora seja por muito mais. Afinal, para romper com a brutalidade da polícia, para romper com um governo que de trabalhador só tem o nome na bandeira que de vermelha tornou-se amarela e perdeu a vergonha na cara, só com muito “rolezinho”, churrasco de “gente diferenciada” e muita mobilização de rua, com ações diretas que enfrentem tudo isto pra construir algo novo.
 
 
*Avanilson Araújo é militante do Movimento Luta Popular, advogado e mestre em Ciências Sociais