Lula fecha o ato unificado das centrais no dia 15 de março em São Paulo. Foto Romerito Pontes
Mariucha Fontana

A tarefa imediata da classe trabalhadora é derrotar as reformas e o ajuste do governo Temer e do Congresso Nacional, e para isso construir a Greve Geral. Essa tarefa exige e impõe uma ampla unidade para lutar.

O dia 15 de março demonstrou a disposição de luta da classe e também que uma data unificada de luta em torno a uma pauta de derrota das reformas e de fato contra o governo tem alta capacidade de mobilização. A Greve Geral do dia 28 de abril tem potencial, portanto, para ser talvez a maior ação da classe trabalhadora em décadas, de construir a derrota do governo e de abrir novos horizontes.

No dia 15 de março, tivemos uma atitude oportunista e divisionista da Frente Povo Sem Medo de tentar transformar o ato em São Paulo, e de todo esse dia de lutas e paralisações, num evento da “Frente Ampla” e palanque eleitoral para a campanha Lula 2018. A Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo têm todo direito de fazerem atos em defesa de Lula. Mas, tentar transformar atos que devem ser unitários em atos eleitorais pró-Lula divide o movimento e é puro oportunismo.

Esse debate voltou a ocorrer em torno de ações do dia 31 de março. Originalmente apresentadas como atos da Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo “contra o golpe”, “em defesa da democracia e de Lula”, sob o controle destas organizações, mas como se fossem de todo o movimento. Foi necessário explicitar o caráter de tais manifestações. Se eram unitárias, deviam ter a pauta comum das centrais e coordenação unitária, e não coordenação apenas destas frentes e com a pauta de Lula 2018.

Então, o primeiro motivo de combate a essa campanha é o fato de tentarem colocar uma campanha eleitoral em prol de Lula 2018 no centro da conjuntura, quando a tarefa não é campanha eleitoral, é Greve Geral. E quando esse projeto Lula 2018 divide uma mobilização que pode unir noventa por cento da classe trabalhadora e inclusive a enorme maioria dos setores médios.

Não é à toa que as mobilizações chamadas pelo MBL (em favor das reformas e de Temer) foram um fiasco. A imensa maioria que foi às ruas contra Dilma e a corrupção, são também contra Temer e contra as reformas. E não é à toa também que a classe trabalhadora lidere e hegemonize as manifestações atuais, pois elas partem da defesa dos seus direitos.

Chamar mobilizações em torno a Lula 2018, ou querer transformar as lutas contra as reformas em uma campanha de Lula divide. Atos e mobilizações contra as reformas devem ter pauta comum, coordenação comum e todos partidos e organizações que apóiem a luta devem poder falar.

Unidade para lutar não implica em unidade sobre a saída política para o país

Se para lutar contra as reformas devemos fazer a mais ampla unidade, sobre as saídas para o país temos obrigação de combater projetos de conciliação de classes e programas capitalistas.

A mobilização da classe operária, dos trabalhadores, dos setores populares, deve servir para avançar num projeto da classe trabalhadora contra o capitalismo e a burguesia. Em base a esse projeto, a classe deve disputar também os setores médios. Uma Greve Geral deve acumular em consciência e organização em direção ao horizonte socialista.

Seria um desastre, depois de tudo, buscar usar a mobilização popular para fortalecer um projeto eminentemente eleitoral e um projeto de governo Lula novamente, em torno de um projeto de aliança com empresários e banqueiros em busca de “crescimento econômico capitalista”, em vãs promessas de um governo menos pior, de um mal menor.

Ao contrário, devemos golpear juntos contra Temer e as reformas, mas disputar duramente um programa anti-imperialista, anticapitalista, socialista e revolucionário para o país. Como dizia Lenin: golpear juntos, mas marchar separados.

No lugar do ajuste da burguesia e do imperialismo, devemos defender a suspensão do pagamento da dívida pública, o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal, a estatização do sistema financeiro sob o controle dos trabalhadores, a proibição da remessa de lucros para o exterior e a expropriação das multinacionais, prisão e confisco dos bens de corruptos e corruptores, incluindo a estatização sem indenização e sob controle dos trabalhadores das empresas dos corruptores, como a Odebrecht, por exemplo. Isso exige um governo socialista dos trabalhadores, sem corruptos e sem patrões, que governe através de conselhos populares.

Um governo Lula-Ciro Gomes em aliança com partidos burgueses, empresários e banqueiros é um filme que já vimos: isso só levou ao retrocesso da consciência, da organização da classe e do próprio país.

O Brasil precisa de uma revolução socialista

O terceiro motivo para combater esse projeto Lula 2018 é que nossa estratégia deve ser fazer uma revolução socialista no país e não um governo para administrar os negócios da burguesia.

Um governo que governe através de Conselhos Populares, capaz de romper com o imperialismo e enfrentar o capitalismo e isso não será conquistado através de eleições, mas sim da mobilização direta da nossa classe.

A Greve Geral pavimenta esse caminho. Querer desviar para o terreno eleitoral esse potencial de mobilização que pode colocar o poder dos trabalhadores como tarefa no período, é um projeto completamente reacionário.

Originalmente publicado no Opinião Socialista nº 533