Mais uma vida sacrificada em nome da homofobia, mais um grito pela necessidade da aprovação imediata do PLC 122A noite que abre a oportunidade para que as pessoas discriminadas sintam-se à vontade para sair à rua como são é a mesma noite que ajuda a esconder preconceituosos e assassinos. Foi na calada da noite de sábado, dia 26 de novembro, que mais uma travesti foi assassinada em Campinas. Nas imediações do Botafogo, ela foi encontrada morta usando uma blusinha azul e com a calcinha abaixada. Tinha em seu corpo marcas deixadas por golpes de bloco de cimento.

Segundo informações dos jornais da cidade, a vítima levava consigo receitas médicas em nome de Cláudio Lúcio Miranda de Almeida e era portadora do vírus HIV. Os jornais também conversaram com uma moradora das imediações que disse conhecer a travesti. Bernadete Barbosa de Couto, dona de uma pensão, contou que teria encontrado com ela na noite do crime, quando a vítima teria buscado abrigo em sua casa. Bernadete disse que ela estava embriagada e drogada (por esse motivo não lhe concedeu abrigo) e acompanhada por um jovem garoto – que chegou a lhe perguntar se ela era mesmo mulher, ao que Bernadete respondeu se tratar de uma travesti. Os policiais que atenderam a ocorrência não descartam a possibilidade de crime homofóbico, mas afirmaram que o caso será investigado pelo setor de homicídios da polícia.

Em 2010, o assassinato da travesti Camile Gerin, a Cotonete, chocou Campinas. Ela foi morta a pauladas por Roberto Rubens de Macedo, encontrado pela polícia logo após a agressão, preso, mas liberado em seguida. Camile não morreu na hora. Ficou internada no hospital Mario Gatti onde faleceu. O assassino disse ter agredido Cotonete para se defender, já que esta teria se mostrado agressiva quando ele recusou seu convite para um encontro íntimo.

No Brasil, país recordista mundial de assassinato de LGBTs, sabe-se que pelo menos um não-heterossexual morre a cada 36 horas. E a homofobia não é crime no país. O Projeto de Lei Complementar número 122 (PLC 122), que implica na criminalização da homofobia, está desde 2006 esperando aprovação no Congresso Nacional. Embora discursem contra a homofobia, os governantes não tem movido uma palha para construir políticas que combatam a violência homofóbica. Lula poderia ter cobrado do parlamento a aprovação do PLC 122, mas o que fez foi colocar no papel o projeto Brasil Sem Homofobia, que nunca foi aplicado na realidade.

Dilma, continuidade do governo Lula, antes de iniciar o seu mandato assinou um compromisso com os setores mais conservadores da sociedade em que defendeu a “família” e prometeu não alongar a polêmica que havia sido levantada durante a campanha eleitoral sobre o aborto ou a união civil entre homossexuais. Com isso, Dilma já mostrou que além de não defender os direitos dos homossexuais prefere estar do lado daqueles que ajudam a propagar a ideologia homofóbica que tanto vem matando no país em que hoje ela é presidenta.

Quem mais sofre com a homofobia são os LGBTs mais pobres, que não têm como pagar pelos caríssimos guetos onde se pode vivenciar sua sexualidade sem riscos. Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais pobres são obrigados a enfrentar cotidianamente a violência homofóbica nas ruas das grandes cidades. Entre 2006 e 2009 os casos de denúncia de agressões físicas contra não-heterossexuais revelam que 20% são em casa, 2% no trabalho e 78% no espaço público, ou seja, é na rua que a população LGBT está mais ameaçada. E, de todas as letrinhas da sigla adotada pelo movimento, os grupos mais atingidos são os que estão sobre a representação dos Ts, as travestis e as transexuais, vítimas mais frequentes de agressões e assassinatos por motivação discriminatória.

Sabemos que o problema da homofobia não se resolve com a aplicação do PLC 122: é necessário realizar uma transformação de toda a sociedade em suas bases materiais – econômicas – para que desapareçam as bases que fabricam as opressões. Só o socialismo será capaz de acabar com a exploração do trabalho e, com isso, exterminar as ideologias que oprimem grupos por causa de seu gênero, etnia ou orientação sexual. No entanto, a aprovação da lei que criminaliza a homofobia é um avanço no sentido de manter os não-heterossexuais vivos para continuar lutando pela nova sociedade.