Faixa da ANEL na manifestação do dia 25 de janeiro

O PT e seus defensores querem dividir o povo brasileiro colocando, de um lado, quem torce pela seleção e espera assistir aos jogos e, de outro, quem critica o megaevento e está nas ruas se mobilizando

As jornadas de junho do ano passado abriram uma nova situação política no Brasil, colocando governantes na defensiva, pressionados pela mobilização popular.  A política saiu dos gabinetes e tomou as ruas, quando milhões de jovens protagonizaram manifestações históricas.

Passaram-se mais de sete meses e a burguesia ainda não conseguiu reestabilizar o país. Em 2014, seguirá tentando derrotar a juventude e os trabalhadores. No meio desse caminho, está a Copa do Mundo. O PT quer se aproveitar do megaevento esportivo para fortalecer seu governo e disputar em melhores condições a sucessão presidencial. Quer transformar a paixão do brasileiro pelo futebol e a torcida pela seleção em apoio à candidatura de Dilma.

Porém, os donos do poder no Brasil podem esperar muita resistência. Muito antes do carnaval, a juventude já deu sinais de sua disposição em continuar em luta, contras as desigualdades sociais e em busca de seus direitos. Agora, é preciso massificar nossa luta, retomando a perspectiva de marcharmos aos milhões nas ruas.

Brasil é o campeão das injustiças
A campanha governista em torno da Copa do Mundo vem ganhando força na mídia e nas redes sociais. No último mês, as páginas de Facebook do PT e da presidenta compartilharam o slogan #vaitercopa, iniciando uma operação de propaganda dos possíveis benefícios do país sediar a competição.

Organizações de juventude, como a UNE e sua direção, a UJS, vêm também recrutando voluntários para trabalhar no megaevento. Na opinião dos aliados do governo federal, organizar protestos denunciando as injustiças da Copa do Mundo é enfraquecer Dilma e facilitar a volta da direita conservadora ao poder.

 Porém, toda essa publicidade, que conta com a ajuda da grande imprensa, é artificial e não pode esconder a dura realidade. O único legado da Copa do Mundo serão as injustiças provocadas por sua realização no Brasil. São remoções forçadas, turismo sexual, privatização dos espaços públicos, morte de operários, elitização dos estádios, criminalização da pobreza, repressão e um longo etc.

Somos todos Fabrício! Abaixo a repressão e a criminalização!
Nas últimas semanas, foram realizadas as primeiras manifestações do ano contra as injustiças da Copa do Mundo. Em São Paulo, no dia 25 de janeiro, mais de três mil pessoas foram às ruas protestar e sofreram uma violenta repressão da Polícia Militar. O sábado acabou com 135 ativistas presos, vários espancamentos, atropelamento e um jovem, Fabrício Chaves, alvejado por três tiros.

A violência da PM paulista é apenas um aspecto da contraofensiva repressiva que as autoridades públicas vêm promovendo. A burguesia quer recuperar o controle das ruas a qualquer custo, utilizando-se da criminalização dos movimentos sociais, com prisões, inquéritos e perseguições.

O governo federal já gastou mais de cinquenta milhões de reais em armas não letais para reprimir os protestos, incluindo pistolas de choque elétrico, granadas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Tropas de Choque e novos batalhões serão, igualmente, criados para fazer a segurança da Copa do Mundo.

Esse aparato militar será acompanhado de medidas jurídicas. O Senado deve aprovar em breve o projeto de lei 728/2011 que visa tipificar o crime de terrorismo, no qual serão enquadrados ativistas e movimentos sociais.

FIFA go home!
Diferente da propagando oficial, a Copa do Mundo não vai trazer mais investimentos, empregos e desenvolvimento ao Brasil. Muito pelo contrário, sua realização vai provocar inúmeros ataques à soberania nacional.

O Congresso Nacional, sob a orientação do governo federal, vem aprovando uma série de medidas que subordinam o Brasil aos desmandos da FIFA. A Lei Geral da Copa, por exemplo, concede uma série de privilégios à entidade, passando por cima da legislação comum e do Estatuto do Torcedor.

A Lei institui zonas de exceção nas cidades-sede, garantindo isenções fiscais aos patrocinadores do megaevento, abrindo caminho à flexibilização de direitos trabalhistas. Por outro lado, os acordos assinados outorgam um controle completo da FIFA sobre os produtos comercializados nas regiões dos jogos.

Além disso, o Estado brasileiro criou novos tipos penais, prevendo até a detenção de ambulantes que venderem mercadorias com imagens ligadas ao mundial. Esses crimes serão julgados rapidamente por tribunais especiais, instalados ao redor dos estádios, sem proteger o direito à ampla defesa dos acusados. 

Queremos transporte, moradia, saúde e educação padrão FIFA!
 O povo já percebeu o imenso contraste entre os enormes custos da Copa do Mundo e a situação caótica dos serviços públicos. Todas as ingerências da FIFA e injustiças estão sendo financiadas com dinheiro público. Menos de 20% dos gastos com o megaevento serão cobertos pela iniciativa privada.

Os governos, federal, estaduais e municipais, já desperdiçaram mais de vinte bilhões de reais em novos estádios luxuosos, aeroportos e obras de infraestrutura. Enquanto isso, saúde, transporte e educação agonizam sem investimento estatal.

As verbas públicas consumidas na preparação das cidades e a corrupção dos superfaturamentos são uma gigante transferência de capital às multinacionais e empreiteiras. A própria FIFA deve lucrar mais de dez bilhões de reais no Brasil.

Massificar as mobilizações em 2014
O PT e seus defensores querem dividir o povo brasileiro colocando, de um lado, quem torce pela seleção e espera assistir aos jogos e, de outro, quem critica o megaevento e está nas ruas se mobilizando. Se essa polarização se impuser, nosso movimento será, inevitavelmente, derrotado.

Os trabalhadores e a juventude, infelizmente, não estão contra a Copa do Mundo, pois ainda enxergam no mundial uma festa do futebol, repleta de craques e grandes espetáculos. Por isso, não querem inviabilizar a competição. Entretanto, mesmo aqueles que esperam ansiosos pelos jogos, são contra as injustiças que a Copa do Mundo gera e aprofunda. Há muita disposição de luta por direitos sociais e mais democracia.

Nós, da juventude do PSTU, estamos nas manifestações e nos somamos à luta contra a FIFA e os governos, responsáveis pelo aumento das desigualdades sociais em nosso país. Mas, em nossa opinião, o eixo #nãovaitercopa, defendido por alguns grupos que convocaram os primeiros atos do ano, está equivocado, pois corrobora com a falsa polarização que o governo federal quer criar. E, dessa forma, não serve à principal tarefa do momento: massificar as mobilizações.

Desde as jornadas de junho, quando milhões de pessoas questionaram os poderes estabelecidos no país, as manifestações de rua perderam força e, hoje, organizam apenas alguns milhares. Esse refluxo conjuntural é produto, principalmente, da repressão covarde dos governos e da manipulação da mídia que amedrontam a população. Por isso, não podemos usar táticas e políticas sectárias que não colaboram com a mudança desse cenário.

A política do movimento não pode ser vanguardista, sem dialogar com a massa que torce pela seleção brasileira e não acha possível impedir a realização da Copa do Mundo. A imensa maioria do povo pobre não vai atender ao chamado do #nãovaitercopa.

Devemos ter em mente essa análise e buscar, tomando em consideração o atual nível de consciência, mobilizar cada vez mais setores. O movimento precisa se perguntar: qual eixo vai ao encontro dessa necessidade? Responder corretamente à questão é o primeiro passo da vitória!