Estudantes retiram o busto de apoiador da ditadura pela segunda vez, em 2014
Maria Vitória, do Rebeldia (PR)

Não à recolocada do busto Suplicy de Lacerda! Ditadura nunca mais!

A nova gestão do DCE da UFPR, em sua primeira sessão de Conselho Universitário, votou a favor da recolocada do busto de Suplicy de Lacerda, um legítimo agente da ditadura militar a favor da privatização das universidades brasileiras, nos jardins da universidade.

O busto foi arrancado do seu suporte duas vezes pelo movimento estudantil, a primeira em 1968, em resposta à ameaça do início da privatização do ensino público e ao acordo MEC-USAID. E a segunda em 2014, durante a “descomemoração” dos 50 anos do Golpe Civil-Militar que colocou o Brasil em uma ditadura que duraria duas décadas.

No ano passado, o busto foi restaurado a pedido do então reitor Zaki Akel, e a recolocação no lugar original foi pautada no COUN. Enquanto representantes dos estudantes fomos os mais ferrenhos na oposição à recolocada da estátua. Não sem muito custo conseguimos dividir o conselho e segurar a votação por algumas sessões. Em assembleia, nós estudantes dos cursos de História aprovamos uma carta aberta ao COUN e mais tarde um parecer que defendia que o busto não fosse devolvido ao pedestal original e fosse doado ao Museu Paranaense. Tomamos essa decisão por duas razões.

A primeira, porque defendemos que é inadmissível seguir homenageando um agente da ditadura, e um busto, a não ser que dentro de um museu, sempre consistirá numa homenagem. Após orientações da Comissão Nacional da Verdade de retirada de todos as homenagens aos ditadores, pontes, ruas, avenidas, escolas tiveram seus nomes trocados. Trocados. Não foi colocada uma notinha de rodapé nas suas placas, ou uma plaquinha de bronze falando da ditadura num canto.

A segunda razão, não que o primeiro motivo já não seja suficiente, é que acreditamos que o pedestal vazio, só com uns restos de cimento, é marca da memória do movimento estudantil desde a década de 60. Porque a nossa memória é, infelizmente, construída assim, às cotoveladas (no caso, marretadas), e raramente em figuras custosas de bronze. Logo, recolocar o busto no lugar, ainda que com alguma plaquinha a mais falando do envolvimento de Suplicy com a ditadura, seria um apagamento da história da luta dos estudantes, e por que não, de todas e todos aqueles que lutaram contra a ditadura militar.

Após algumas sessões intermináveis e angustiantes do COUN que se ocuparam quase que completamente desse assunto, e que naquela saboneteada não resultaram numa votação (possivelmente porque o então reitor sentiu que se votasse, perderia para nós), a pauta do busto magicamente sumiu das convocatórias do COUN.

Agora em 2017, com outra gestão de reitoria e outros representantes estudantis, a pauta voltou e o conselho votou, em unanimidade, pela recolocação do busto – o que o reitor classificou várias e várias vezes como um “momento histórico”. Ia dizer o quanto é lamentável que isso foi realizado pelo atual reitor Ricardo Marcelo, que não só tem formação em História como teve (e pelo jeito vai continuar tendo) apoio da maioria dos professores do DEHIS-UFPR. Mas nem quero focar nisso. Porque o mais triste e o que mais merece a nossa atenção é que a bancada estudantil, os conselheiros que deveriam ser os mais radicais, insistentes e eloquentes na defesa da não recolocação, não só votaram a favor como ainda lançaram nota comemorando essa resolução. Essa decisão, que eu junto de, tenho certeza, muitos outros colegas, avalio como um retrocesso nas políticas de memória da ditadura militar, não está sendo fácil de “explicar”. E no que depender de nós, nunca será!

De fato, é um momento histórico este, o momento que marca o retorno de uma representação estudantil na UFPR que fala manso com reitoria, que evita conflito. Vamos deixar de ter representação estudantil perante a reitoria, para ter representação da reitoria entre os estudantes. Nada que não esperávamos dessa gestão, nada que não reflita direitinho a atuação conciliatória das organizações que a compõe (PT e seus satélites). Nessa primeira sessão do COUN, “só” rifaram a nossa memória. E o que vão entregar em seguida?