Escola ocupada em Diadema (SP)

São Paulo vive um novo respiro das lutas sociais: o movimento de jovens estudantes secundaristas contra o projeto de reestruturação das escolas estaduais chega, nesse momento, ao seu auge de radicalização e expansão. Já são mais de 150 escolas ocupadas em todo o estado.

A proposta do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de fechar 94 escolas e de reorganizar os ciclos do ensino fundamental e médio, apresentada em setembro, gerou indignação dos estudantes. Eles saíram às ruas em manifestações em várias cidades no mês de outubro.

Quando as mobilizações diminuíram e pareciam chegar ao seu limite, o movimento estudantil secundarista ganhou força sem precedente a partir das ocupações de três escolas, iniciadas no dia 9 de novembro. A onda de ocupações começou nas escolas de Diadema, no centro da cidade, na escola Fernão Dias, no bairro de Pinheiros, na capital paulista, e na escola Salvador Allende, em Itaquera, periferia de São Paulo.

Essas foram apenas o estopim. Em poucos dias, dezenas e dezenas de ocupações se proliferaram pautando a grande imprensa e polarizando a sociedade. Em apoio à causa, professores, familiares, vizinhos, artistas, sindicatos e outros movimentos populares passaram a se reunir nas ocupações.

Alckmin e Dilma inimigos da juventude e dos trabalhadores

A eclosão do movimento secundarista paulista se insere no processo de indignação dos trabalhadores e da juventude com a crise econômica e social e com os governos. Eles estão jogando a crise nas costas da classe trabalhadora, da juventude, especialmente jovens negros das periferias, e de todo o povo pobre.

A política de ajuste fiscal dos governos Dilma (PT) e Alckmin (PSDB) promovem cortes de gastos sociais e privatizações para pagar a dívida pública aos banqueiros e dar dinheiro público aos grandes empresários.

Em São Paulo, estamos assistindo à privatização da Sabesp, companhia de abastecimento de água, e do metrô, o congelamento dos concursos públicos e dos  salários dos servidores, o desmonte das universidades estaduais. O fechamento das escolas e a demissão de professores e demais funcionários da educação são parte desse plano.

Alckmin e Dilma, PSDB e PT, vivem brigando nas eleições, mas aplicam a mesma política. Ambos concordam em fazer a juventude e a classe trabalhadora pagar os prejuízos da crise econômica que eles mesmo provocaram. Não foi por acaso que, até o meio do ano, a presidente já havia cortado mais de R$ 11 bilhões da educação.

Reportagem
Salvador Allende é escola de luta!

Nas manifestações de rua contra a reorganização escolar do governo Alckmin, quem olhava as faixas com os escritos “mais escolas, menos prisões” não imaginava que seu significado atingiria um alcance tão concreto na vida dos alunos da Escola Estadual Salvador Allende, em Itaquera. Em reunião de negociação frustrada com a Diretoria de Ensino da região, na Zona Leste da capital paulista, os estudantes receberam a notícia de que sua escola se tornaria um Batalhão da Polícia Militar.

Dentro de um território tomado pela violência e pelo abandono consciente dos governos, a ocupação estudantil da escola Salvador Allende é um ato de defesa e retomada de um dos poucos patrimônios da quebrada onde cresceram.

A Salvador Allende é conhecida por ser escola de gente maloqueira. Não tem estrutura, tem violência por perto. Mas fechar não pode ser a solução. A escola tem que ficar aberta e melhorar justamente por causa disso”, diz uma aluna que coordena a comissão de segurança da ocupação.

Há muitos anos, os moradores da COHAB II, onde fica a escola, exigem reformas no bairro, principalmente maiores investimentos nas áreas sociais, como saúde, educação e moradia. Porém apenas recebem das autoridades criminalização da pobreza e violência policial. A PM paulista é a mais violenta do país, vitimando centenas de jovens negros inocentes por ano nas periferias da grande São Paulo, os mesmos jovens que lutam hoje por seu direito de estudar perto de casa.

São meninos e meninas, menores de idade, que se transformaram na vanguarda das lutas políticas e sociais do Brasil. Muitos deles tinham como única perspectiva, além da dura vida de um trabalhador comum morador da periferia, o envolvimento com o crime. Agora, são jovens protagonistas de um processo de mobilização, cheio de sacrifícios e riscos pessoais, que ganharam o apoio e a solidariedade de diversos setores da sociedade, particularmente de trabalhadores e trabalhadoras.

Não é só pelas escolsa, é pelo direito ao futuro

A vivência da ocupação cria novas expectativas nos estudantes ativistas e uma maior consciência de sua exploração e opressão

Um grande aprendizado dos estudantes mobilizados é entender que a organização é fundamental para garantir a vitória. A divisão de tarefas entre as comissões internas, as regras de funcionamento das assembleias democráticas e a necessidade de tomar decisões políticas sobre os rumos do movimento são alguns aspectos do desafio de construir uma existência completamente diferente da vida cotidiana.

A falsa democracia dos ricos, por exemplo, é questionada permanentemente dentro de um espaço onde quem decide, quem vota, também se responsabiliza pela execução das tarefas. Adolescentes que devem respeito à família, subordinam-se aos patrões, apanham da polícia e são constrangidos por diretores escolares, de repente, agem coletivamente, conscientes de que a organização coletiva é imprescindível para a sobrevivência da ocupação.

A luta dos estudantes secundaristas paulistas é uma rica experiência histórica, na qual o povo está recuperando o caráter público do espaço escolar, caráter completamente deturpado pelas políticas públicas dos governantes, que visam sucatear e privatizar, cada vez mais, o ensino público brasileiro, negando o direito dos filhos da classe trabalhadora, da juventude negra e periférica, à educação de qualidade.

A vivência da ocupação, absolutamente distinta de qualquer outra na realidade dessa juventude, cria novas expectativas nos estudantes ativistas e uma maior consciência de sua exploração e opressão. A luta atual é para manter o pouco que possuem. No entanto, ela abre a possibilidade de novas mobilizações por aquilo que desejam ter, pois aprenderam como reivindicar seu direito ao futuro. “Não queremos lutar para não fechar a escola e continuar na mesma. Aprendemos com junho de 2013, quando congelamos o preço do busão e no ano seguinte a tarifa foi pra R$3,50. A gente tem que lutar pela gente tem que lutar pela escola que a gente quer, tem que descobrir junto o que ela pode ser”, explica um aluno da Salvador Allende durante reunião das escolas ocupadas.

Publicado no Opinião Socialista nº 509