Gravação mostra tentativa de um acordão para salvar todo mundo, inclusive Lula

A revelação de diálogos realizados entre o atual ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, gravados em março e divulgados agora pela Folha de S. Paulo, aprofundam ainda mais a crise de um governo que mal começou e já sofre um tremendo desgaste.

As gravações trazem à tona um fato que é cada vez mais conhecido por todos: o governo Temer se resume a uma coalizão de corruptos, grande parte egressos do governo Dilma como o próprio Jucá, cujo objetivo é de se safar enquanto dá continuidade ao ajuste fiscal e aos ataques preparados durante o governo do PT.

No final da tarde desta segunda, Romero Jucá anunciou o seu afastamento do governo. Mas a crise está longe de terminar.

“O Michel faz um grande acordo”
Os diálogos estão nas mãos da Procuradoria-Geral da República e deixam nítido que um dos fatores para a votação do impeachment na Câmara era barrar, ou “estancar a sangria” da Lava Jato. Romero Jucá e Machado são investigados pela operação e ambos alvos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal.

As gravações são repletas de ameaças e autoconfissões de culpa. “Estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês“, diz Machado em determinado momento sobre as investigações. Ambos defendem “uma coisa política e rápida“, precisando, para isso, convencer Renan Calheiros a superar sua resistência a Michel, “porque Michel é Eduardo Cunha”.

Romero Jucá aconselha Machado a procurar Renan Calheiros e José Sarney, a fim de articular o fim da Lava Jato. Jucá defende ainda um “pacto nacional” com o STF. “Delimitava onde está, pronto“, dizendo ainda que tinha falado com ministros do STF nesse sentido. Os diálogos ainda botam o PSDB na roda. “Todo mundo na bandeja para ser comido”, como diz Jucá, sendo “o primeiro a ser comido” o Aécio.

Os diálogos mostram também que, diante da situação do governo, o impeachment não era a melhor solução, mas sim uma licença ou renúncia de Dilma. “O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém agüenta mais“.

 

São todos iguais
A conversa entre Machado e o senador, atual ministro e presidente do PMDB, Romero Jucá, mostram o antro de corrupção que é esse governo e esse Congresso Nacional. Tanto a antiga base do governo Dilma, do qual Romero Jucá era líder, quanto a oposição burguesa capitaneada por Aécio e o PSDB.

Ao contrário da tese do “golpe”, mostra a busca desesperada por um grande acordão que incluísse o PMDB, os empreiteiros e inclusive Lula. Estão todos no mesmo barco. Indica ainda que, embora política e seletiva, a Operação Lava Jato não é totalmente controlada pela oposição burguesa. Estão todos apreensivos sobre quem mais pode aparecer nas gravações de Sérgio Machado. Sabe-se que Renan Calheiros e Sarney foram gravados. A voz de quem mais vamos ouvir nos próximos dias?

Esse país vai “voltar à calma”?
A revelação do áudio mostra que, no curso dos últimos acontecimentos, as coisas não saíram conforme o script. Primeiro, o impeachment que não era a primeira opção, embora fosse necessária a “solução Temer”. Depois, o afastamento de Cunha pelo STF, o homem que esteve e ainda está por trás de Temer. E agora, a revelação dessa conversa escandalosa.

Um elemento interessante do diálogo é a preocupação de Romero Jucá com um ambiente de “calma”. Conter a crise é uma necessidade não só dos políticos picaretas do Congresso, mas também dos grandes banqueiros e empresários, que precisam de estabilidade para impor seus planos de ajuste e ataques, como a reforma da Previdência e trabalhista.

Calma, porém, é tudo o que esse governo não vai ter. Com pouco mais de uma semana, Temer já extinguiu ministério, voltou atrás, sofreu desgaste com as declarações desastrosas de seus ministros, e agora vê seu principal ministro e articulador cair. Tudo isso em meio a  um repúdio generalizado de seu governo entre a população. Vai se confirmando que o governo Temer é ainda mais fraco, frágil e expressa uma divisão interburguesa que encontra dificuldades de se acomodar tal é a profundidade dessa crise econômica e social.

Fora Temer, Fora todos! Eleições Gerais Já!
Se não é verdade que houve “golpe”, é verdade que esse governo Temer é ilegítimo. Esse Congresso Nacional corrupto e financiado pelas grandes empreiteiras não tem qualquer legitimidade para colocar no poder quem quer que seja. Além do mais, Temer é a continuidade do governo Dilma, foi eleito sob o mesmo estelionato eleitoral e, no Planalto, pretende aplicar e aprofundar as mesmas políticas que Dilma tentava e não conseguiu.

É necessário e urgente derrubar Temer, Romero Jucá, Renan Calheiros e todo esse governo e Congresso Nacional corruptos e marionetes dos banqueiros e grandes empreiteiras. Mas não para que volte Dilma, como defendem setores ligados ao PT, ou menos ainda para cacifar Lula para 2018. Temos que derrubar todos eles e exigir eleições gerais já, sob novas regras.