Dia 1º de julho, os rodoviários (as) entraram em greve por aumento de salários e melhores condições de trabalho. Seria mais uma campanha salarial, como todo ano, mas existe algo de diferente neste ano de 2013, e era a Oposição Rodoviária de Verdade/ CSP- Conlutas.

O sindicato dos rodoviários (as) da região metropolitana do Recife, Mata Norte e Mata Sul, é presidido por um mesmo pelego há 33 anos, o Sr. Patrício Magalhães. Todo ano o presidente do sindicato decreta greve, mas sequer vai às garagens. Deixava as empresas contratarem motoristas substitutos e as greves já nasciam mortas, sem causarem nenhum impacto na sociedade. Mas desta vez foi diferente.

Surgimento da Oposição Rodoviária de Verdade/CSP-Conlutas

Em 2012, após o sindicato realizar a mesma rotina – votar a greve, não fazer piquete e fechar acordo rebaixado – os trabalhadores se rebelaram e fizeram mais protestos, parando os carros nas ruas do centro do Recife. Neste momento entraram em contato com militantes do PSTU e da CSP-Conlutas, e começaram a se organizar numa oposição sindical. De agosto de 2012 até junho de 2013, produziram cerca de oito boletins informativos a categoria, boletim este chamado “Corrida para a Luta”.

No dia 14 de junho, os trabalhadores (as), respondendo o chamado da Oposição Rodoviária de Verdade, paralisaram o Recife por três horas, das 6h às 9h da manhã, e no dia 20, em meio ao protesto geral por mudanças no país e que no Recife teve uma manifestação com mais de 100 mil pessoas, a ORV-CSP-Conlutas chamou uma paralisação de horas, entre as 16h às 17h. A patronal e o judiciário ficaram assustados e mandaram recolher os carros às 14h, descaracterizando o protesto. Mas os rodoviários foram à manifestação geral uniformizados e distribuíram um manifesto da CSP-Conlutas contra o governador do estado, Eduardo Campos (PSB), onde o mesmo tinha um nariz de Pinóquio pelas mentiras que disse em seus programas eleitorais. A partir daí estava claro que a campanha salarial não seria igual há outros anos.

A greve

Foram quatro reuniões marcadas no MPT (Ministério Publico do Trabalho), onde, na verdade, apenas duas reuniões efetivamente existiram: a primeira que apresentou a pauta para a patronal, e a última na qual os empresários apresentaram a proposta de 3% de reajuste. Assim, a greve foi decidida para o dia 1º de julho, data base da categoria. O MPT, por sua vez, ainda decidiu que a greve era legal e que 30% da frota tinham que rodar.

A categoria inicia o primeiro dia de greve retirando os carros das garagens, sob orientação da ORV/CSP-Conlutas, já que a patronal havia começado a contratar trabalhadores (as) para substituir os grevistas, mesmo com a proibição desta prática pelo MPT.

Ao tirarem os carros da garagem a ideia era fazer a greve nas ruas. A partir das 9 horas, os trabalhadores começaram a estacionar os carros pelas ruas do Recife, nos terminais. A patronal responde com a ordem de recolher os carros, coisas que a maioria não obedeceu.

O pelego, a patronal e a justiça vendo a força da greve, decidem antecipar o julgamento marcado para o dia 3 de julho. Marcam a audiência de conciliação para a noite do  dia 1° e julgamento para a tarde de 2. A ORV/CSP-Conlutas, em meio a esta manobra, exigiu sua participação nas  negociações, mas o pelego do sindicato disse que reconhecia apenas a “oposição da CUT”, que meses antes era vista andando de carro junto com diretores do sindicato.

A audiência não avançou. E o segundo dia de greve foi mais radicalizado. A patronal e o presidente do sindicato prepararam-se para terminar a greve. Com a radicalização da categoria, o governo do estado faz um ensaio de intervenção e chama a ORV/CSP-Conlutas para discutir uma possibilidade de acordo, e também realiza a intermediação da reunião entre a ORV/CSP-Conlutas com o desembargador relator do processo. Detalhe: o desembargador foi advogado das empresas de ônibus por anos.

Na verdade, o resultado do julgamento foi o mesmo de todos os anos. Assim, o protesto de 14 de junho foi julgado ilegal, a greve foi julgada abusiva e determinou-se um reajuste de 7% e ticket- diária de alimentação de R$ 6,15. Como os rodoviários (as) estavam presentes a revolta foi geral. Logo após o julgamento começaram a ligar, mandar mensagens e, por meio do facebook da ORV/CSP-Conlutas a ordem de manter a greve foi dada.

Auto-organização em meio à greve

Em meio à greve, os trabalhadores junto com ORV/CSP-Conlutas, marcaram uma assembleia e votaram a destituição da diretoria do sindicato. Começaram a coleta de assinaturas, que segue nas garagens e terminais, para enviar ao MPT e exigir a eleição de uma junta governativa e a marcação de eleições limpas e democrática. A mais de 20 anos da não existência de eleições na categoria.

A repressão do Governo Eduardo Campos

Após o julgamento a patronal retira a maioria dos carros das ruas, o governo organiza bloqueio no centro da cidade obrigando a população a caminhar quilômetros. Era uma tentativa de jogar a população contra os rodoviários (as). Mas a manobra não deu certo. Todas as enquetes e pesquisas indicavam um apoio massivo à greve. Mais de 80% a categoria apoiava a greve. Isso porque os salários miseráveis dos motoristas (R$1.500,00), e cobradores (R$ 690,00) e um ticket alimentação diário de R$5,33 se tornavam insuportáveis.

Em declarações à imprensa o sindicato imprensa exige que polícia intervenha, investigue e prenda os agitadores da CSP-Conlutas. O governo Eduardo Campos também se pronuncia, dizendo que vai prender, e pede para as empresas demitirem em massa.

No final do terceiro dia a ORV/CSP-Conlutas chama a categoria e a população para o protesto da tarifa zero. Assim abrem as portas para a população entrar de graça nos ônibus. Se existe problemas no transporte público na cidade é por culpa das empresas e do governo. Por isso é justo que o povo não pague passagem. A patronal com medo recolhe todos os carros da rua. Fica claro o lockout das empresas contra a greve dos trabalhadores (as).

No quarto dia, amedrontam a categoria com a ameaça do desemprego em massa e deprisões. Um trabalhador havia sido preso e só foi liberado com pagamento de fiança de R$2.000,00. Todas as lideranças da greve estavam sendo monitoradas desde de suas casas, seus telefones e pelas ruas do Recife.

O recuo

A ORV/CSP-Conlutas, por meio de sua página no facebook, propõem o recuo da greve tendo como garantia a readmissão dos grevistas já demitidos, o não desconto dos dias parados e estabilidade provisória de três meses. O sindicato pelego, junto com CUT, a patronal e o MPT se reúnem no sábado, dia 6, e assinam um acordo nestes termos.

A ORV/CSP-Conlutas seguirá organizando a categoria para a defesa de quem for demitido, caso a patronal não cumpra o acordo. Seguirá o abaixo assinado para a derrubada do pelego, e caso a justiça não acate isso, vamos à eleição sindical no início do ano que vem.

Não tivemos a vitória econômica que esperávamos, mas tivemos uma vitoria política contra o ditador Eduardo Campos. O povo ficou ao lado dos rodoviários (as), desmascaramos o pelego e sua nova amiga, a CUT. Também demos um salto na organização dos rodoviários (as). Além disso, chamamos a atenção da sociedade para a caixa preta do chamado sistema de transporte público do Recife e região metropolitana. Exigimos a abertura dos registros e dos caixas das empresas que prestam um serviço de péssima qualidade. O governo do estado, em meio a uma nova licitação, nada faz, pois parte dos empresários são políticos da base aliada do governo Eduardo e de Dilma.