Foto: Rafael Barbosa (de celular)

 
O Rio Grande do Norte vive uma situação de lutas impressionante. A educação está parada; a saúde, além do colapso geral, tem os funcionários do Estado em greve há quase um mês; os médicos estão realizando uma greve de advertência; e os servidores municipais programam sua paralisação para o dia 30 de agosto. Na segurança pública, estão em greve não somente os investigadores e escrivães, mas também os delegados. Os policiais militares realizaram uma passeata na semana passada exigindo melhores condições de vida e trabalho e ameaçam, se não forem recebidos pela governadora, não participar do desfile de 7 de setembro.
 
“Um Estado que não fornece saúde, educação e segurança publica serve para o que?” pergunta Simone Dutra, coordenadora do Sindsaúde e dirigente do PSTU.
 
Rosalba está ficando só
A crise esta se refletindo no governo de Rosalba Rosalba Ciarlini (DEM). Os secretários indicados do PMDB, pelo senador Garibaldi Alves Filho, se exoneraram. Eles estavam na SETHAS, CEHAB e Potigás. Com isso, fica sacramentado o rompimento do partido com o governo Rosalba. O próprio deputado Henrique Alves disse que, confirmada a posição de Garibaldi, não restaria outro caminho para o partido a não ser romper com o governo.
 
Para o PMDB romper e entregar cargos num governo, é porque a situação está muito crítica. O PR, do Deputado João Maia, afirma que seguirá o mesmo caminho. Ele tem a Secretaria de Turismo. Enfim, partidos aliados anunciam rompimento, e lideranças políticas burguesas estão se afastando, deixando a governadora isolada.
 
Isso terá reflexos na Assembleia Legislativa, pois, dos 24 parlamentares, 14 faziam parte da bancada da situação ou da base aliada. Com estas rupturas, Rosalba pode perder nove deputados estaduais, incluindo o presidente da Assembleia Legislativa. Já havia rompido, o PV no início do ano, o que perfaz dez deputados.
 
O governo Rosalba beira a ingovernabilidade, pois terá 20 parlamentares na oposição, uma vez que dez deverão mudar de lado, somando-se aos outros dez que já são oposição. Quem pensa em entrar com o impeachment da governadora esta fazendo as contas, pois são necessários dois terços dos votos da assembleia para derrubar o governo, ou seja 16.
 
Mas o inferno de Rosalba não para por aí. O presidente nacional do DEM, senador José Agripino, comentou que “fez o que pode pela governadora”, como se de fato a situação estivesse no fim. O deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM) afirma que, no governo Rosalba, há “falta de diálogo, falta de consideração, falta de respeito aos deputados (…) O governo se acha autossuficiente”.
 
Governo pede ilegalidade da greve da saúde
O governo de Rosalba entrou com um pedido de ilegalidade da greve dos trabalhadores da Saúde. O juiz deu ao sindicato um prazo de 72 horas para se manifestar sobre o tema. Mas a greve continua forte, e mais ações radicalizadas estão acontecendo esta semana.
 
Além disso, o Sindicato dos Servidores da Saúde (Sindsaúde) protocolou uma denúncia no Ministério do Trabalho contra o governo do Estado. A ameaça de cortes de pontos e gratificações e a solicitação de listas com nomes dos grevistas é uma forma de intimidar e constranger os servidores. “Desta forma, o governo encontra-se em descumprimento a lei de greve, em uma atitude ilegal”, afirma Adonyara Azevedo, advogada do Sindsaúde.
 
Reforçando esta posição e em clara demonstração de apoio à greve, os chefes e coordenadores do Hospital Walfredo Gurgel se recusaram a enviar o nome dos servidores em greve para a secretaria de administração. “Entendemos que tal ato fere a Constituição Brasileira e se caracteriza como assédio moral coletivo, repudiado por nossa atitude ética e de bom senso”, afirmaram em nota pública.
 
Os servidores da saúde estão em greve desde o dia 1º de agosto e cobram, entre outras reivindicações, a convocação de concursados e a implantação de uma tabela salarial já aprovada na campanha salarial passada e transformada em lei, mas não cumprida pelo governo. O secretario adjunto da Saúde, Macelo Bessa, seguindo os passos de seu antecessor, que está em férias em Buenos Aires, mente descaradamente quando afirma que o governo está disposto a dar quatro das cinco principais reivindicações. Depois de quase uma semana de acampamento em frente à residência da governadora, os servidores estaduais da saúde ainda aguardam o início efetivo das negociações.
 
A única resposta do governo é a divulgada em um ofício: “tão logo os servidores encerrem o movimento grevista e retornem às suas atividades laborais, será designada uma comissão paritária a ser composta por servidores do Searh, Sesap e Sindsaúde para reformulação da tabela”. As conclusões da comissão seriam apresentadas somente no mês de novembro para serem pagas em março de 2014. “A proposta do governo é que acabemos com a greve sem contrapartida, formando uma comissão que só se manifestará daqui a 60 dias e que submete o comprimento da tabela salarial às possibilidades orçamentárias da atual gestão. Isso não atende as nossas reivindicações e por isso as negociações continuam emperradas”, informou o sindicato através de sua assessoria de imprensa.
 
Enquanto isso, o acampamento em frente à residência da governadora continua, transformando-se numa referência para o movimento social potiguar. Os servidores estão determinados a não abandonar o local enquanto não houver um avanço concreto das negociações. “O sistema público está em colapso, e o cidadão que paga seus impostos e não tem acesso aos serviços essenciais não pode continuar arcando com as consequências da falta de diálogo entre o governo e as categorias”, declarou João Antônio de Assunção.
 
Como demonstração de radicalização, os servidores da saúde, quando souberam que a governadora realizaria um ato de doação de veículos para a Companhia de Água num palco armado no estacionamento, ocuparam, simbolicamente, o local do prédio da Caern, na Avenida Senador Salgado Filho, e impediram o ato. A assessoria de imprensa da Caern confirmou que a solenidade foi cancelada, e que a governadora teve de fugir pelos fundos. Enquanto isso, os cantos de “Fora Rosalba” eram entoados pelos grevistas com grande apoio popular.
 
A Associação dos Delegados da Polícia Civil do Estado (Adepol) se reuniu ontem com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte (OAB/RN), Sérgio Freire, para tratar da greve dos delegados. Segundo a presidente da entidade, Ana Cláudia Saraiva, o governo ainda não apresentou respostas às reivindicações da categoria. “Neste momento, estamos visitando as delegacias do interior para fazer um diagnóstico definitivo de adesão”. Na pauta de reivindicações dos delegados civis, está a convocação dos concursados, a melhoria das instalações físicas e a aquisição de novos equipamentos de segurança. Segundo a delegada Karla Viviane, da Delegacia Especializada de Homicídios, “falta desde de papel até combustível para as viaturas nas delegacias”. A OAB-RN apoia o movimento grevista, e uma comissão liderada por ela busca abrir diálogo com o governo.
 
Com a continuidade e o crescimento das greves e da insatisfação popular, o “Fora Rosalba” deixou de ser uma palavra de ordem simplesmente e passou a ser uma tarefa imediata do movimento. Por isso, o PSTU defende a formação de um Comitê Fora Rosalba, que centralize as ações para derrubar a governadora.