Enquanto fechávamos esta matéria, já eram 25 escolas ocupadas e diversas assembléias ocorrendo para aprovar novas ocupações em outras escolas. O movimento estudantil carioca, que já foi um dos mais dinâmicos e combativos do país, que conquistou o passe-livre, colocou milhares nas ruas pelo Fora Collor e que, durante anos e mais anos, foi ponta de lança na defesa da educação e na luta pelos direitos dos estudantes, parecia estar em silêncio.

No dia 21 de março, no entanto, os estudantes do C.E Prefeito Mendes de Morais romperam esse silêncio com a primeira ocupação. O grito preso na garganta foi libertado e ecoa por todas as escolas do estado do Rio de Janeiro: “ocupa tudo”.

Ocupa tudo para defender a educação
Não é de hoje que as escolas de todo o país vem sofrendo com sucateamento da educação pública com os sucessivos cortes de todos os governos (Federal, estaduais e municipais). Essa situação de caos na educação gerou uma situação onde os profissionais do setor estão sem salários e as escolas sucateadas sofrem desde a falta de materiais básicos até de professores e funcionários.

Essa situação gerou a greve deste ano e fez com que os estudantes, adolescentes entre 14 a 18 anos, se colocassem em movimento. As ocupações se espalham como um rastilho de pólvora por todo estado.

Os estudantes estão ocupando escolas e as reivindicações vão desde o fim das “saunas” de aulas, melhores condições de ensino, apoio à greve dos profissionais de educação, aumento do currículo mínimo (principal reivindicação dos colégios de formação de professores), até a defesa do passe-livre, democracia nas escolas, entre outras reivindicações. Essa luta é contra todos que atacam a educação.

Outro aspecto bastante positivo é a livre organização dos estudantese a forma democrática com que eles lidam com todos os aspectos da administração da escola ocupada. Discutem e formam comissões de segurança, limpeza, alimentação, comunicação e outras. Em assembléias verdadeiramente democráticas, muitas vezes acaloradas, eles discutem tudo. Desde quem é responsável por dar entrevista até quem pode ou não entrar na escola. Dão uma lição para aqueles que não acreditam na autorganização.

Todo apoio às ocupações
Os estudantes secundaristas estão mostrando o caminho a ser seguido: o caminha da luta. Obviamente, essa luta está só no inicio e é muito difícil saber qual será o seu desfecho, mas uma coisa é certa. A vitória dos estudantes dependerá da combinação de dois fatores: suas próprias forças e a solidariedade de todo movimento social organizado.

A solidariedade de todos é muito importante, pois eles já enfrentam tentativas de desocupações, via policía sem mandado judicial ( no caso do C.E. Chico Anysio), ameaças do conselho tutelar e até de pequenos grupos incentivados por professores fura-greves e pelo governo que ameaçam fisicamente as ocupações. É urgente é necessária a solidariedade as ocupações até a vitória.

As meninas no poder

O C.E. Heitor Lira, primeiro colégio de formação de professores a ser ocupado, é formado por 90% de mulheres. Essas meninas são verdadeiras guerreiras, já enfrentaram até o grêmio da escola que convocou a polícia pra desocupar. Em um episódio na sexta feira dia, dia 8 de abril, enfrentaram um ato pela desocupação da escola organizada por uma professora (incentivada pelo governo) que contou com apoio de mais três escolas, juntou entre 15 a 20 pessoas que prometeram desocupar a escola na marra, elas resistiram e continuam com a ocupação viva, com debates, rodas de conversas e assembléias. Elas demonstraram o poder e a força que tem mulheres organizadas na luta por seus direitos.