Diante do aprofundamento da crise política e econômica, trabalhadores e juventude vão à luta

O ano de 2015 não vai terminar em dezembro. O ano que começou com ataques históricos do governo do PT à classe trabalhadora viu o aprofundamento do desgaste do governo e da ruptura de parcelas expressivas da população e dos trabalhadores com esse partido. Grandes manifestações encabeçadas pela classe média precipitaram uma crise política que, aliada à crise econômica, desembocou na tramitação do processo de impeachment da presidente.
 
Do lado de cá, a classe trabalhadora deu mostras de que segue viva e lutando. As greves de metalúrgicos contra as demissões, dos operários do Comperj e a grande greve dos petroleiros passaram, muitas vezes, por cima das direções governistas e mostraram a disposição de luta da classe. O ano termina com uma grande vitória dos secundaristas em São Paulo contra o governo Alckmin (PSDB).
 
Mas 2015 também mostrou o avanço da barbárie capitalista, com o crime socioambiental da Samarco, em Mariana (MG), e a crise dos refugiados na Europa.
 
 
JANEIRO
O ano já começa quente. O governo Dilma, logo após as eleições anunciou o novo ministro da Fazenda, o ex-diretor do Bradesco, Joaquim Levy, implementa um novo pacote de ataques aos trabalhadores, com a restrição ao seguro-desemprego, ao abono salarial (PIS), à pensão por morte e ao auxílio-doença. Anuncia, ainda, um corte bilionário no orçamento, de R$ 65 bi, incluindo R$ 7 bi na educação. Essas medidas seriam responsáveis pelo aprofundamento do desgaste de Dilma, principalmente entre os mais pobres.
 
No ABC paulista, os operários da Volkswagen realizam uma vitoriosa greve de 11 dias e revertem a demissão de 800 operários. No Rio, operários do Comperj vão à luta contra as demissões em massa e a falta de pagamentos de salários e direitos.
 
Na Grécia, o Syriza vence as eleições com um discurso contra a Troika e os planos de austeridade, mas Tsipras, primeiro-ministro eleito, forma um governo com um setor da direita, o partido Gregos Independentes.
 
 
FEVEREIRO
Trabalhadores da GM de São José dos Campos (SP) cruzam os braços contra a demissão de 798 trabalhadores. Após seis dias de greve, a montadora recua das demissões.
 
Operários do Comperj, demitidos e com meses de salários atrasados, radicalizam a luta contra as demissões. Em manifestação histórica, no dia 10, fecham a ponte Rio-Niterói.
 
Em Brasília, o deputado do PMDB Eduardo Cunha é eleito presidente da Câmara, ponto alto da carreira iniciada nos braços de PC Farias no final dos anos 1980.
 
No Paraná, os servidores estaduais dão um grande exemplo de luta, enfrentam a repressão do governo Beto Richa (PSDB) e derrubam pacotaço contra o funcionalismo.
 
 
MARÇO
No dia 15 de março, manifestações multitudinárias, reunindo majoritariamente setores da classe média, vão às ruas contra o governo Dilma. A maioria (56% segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT) se manifestava contra a corrupção.
 
 
ABRIL
No dia 15, várias manifestações ocorrem no país contra o PL das Terceirizações e as MPs de Dilma. É o Dia Nacional de Luta, convocado por CSP-Conlutas, CUT, CTB e outras centrais.
 
Com Eduardo Cunha à frente da Câmara, projeto da redução da maioridade penal começa a tramitar. No mesmo período, o menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos, foi morto com um tiro de fuzil disparado pela PM no Complexo do Alemão, no Rio.
 
Professores no Paraná enfrentam dura repressão do governo Beto Richa (PSDB), que retomou o ataque contra a Previdência do funcionalismo. No dia 29, a PM ataca os servidores com selvageria, causando indignação em todo o país.
 
 
MAIO
Novo dia nacional de lutas e paralisações, chamado por CSP-Conlutas, CUT, UGT e Intersindical, toma conta do país no dia 29. Maior que o dia 15 de abril, a disposição de luta dos trabalhadores mostra o desgaste do governo contra os ataques à classe.
 
Em Brasília, o governo define o corte recorde no orçamento, aumentando para R$ 70 bilhões, incluindo R$ 11,2 bi da saúde e quase R$ 10 bi na educação. Minha Casa Minha Vida foi o programa que mais perdeu: mais de R$ 6 bi.
 
O funcionalismo público inicia uma grande greve que duraria mais de três meses.
 
 
JUNHO
O 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas reafirma uma alternativa de luta para a classe trabalhadora e aprova chamado à greve geral. O congresso reuniu 1.702 delegados e 373 entidades, expressando as lutas mais importantes que ocorriam no momento, como a mobilização operária no Comperj e dos metalúrgicos contra as demissões.
 
No mesmo período, ocorria o 3º Congresso da ANEL, que marcou o crescimento da entidade e aprovou a campanha contra a redução da maioridade penal.
 
 
JULHO 
Na Grécia, o governo do Syriza aceita novo plano de austeridade mesmo após plebiscito popular dizer não ao memorando. Tsipras consolida, assim, uma grande traição ao povo grego.
 
O governo Dilma assina a Medida Provisória 680 que impõe o chamado Programa de Proteção ao Emprego (PPE) que reduz salários para manter os lucros dos empresários.
 
 
AGOSTO
Novas manifestações contra o governo tomam as ruas no dia 16. Agora, convocadas de forma mais explícita pelo PSDB, Cunha e demais setores da direita. CUT e demais setores governistas convocam manifestações no dia 20 para apoiar Dilma.
 
A GM de São José dos Campos anuncia demissões em massa nas vésperas do Dia dos Pais. Após 12 dias de greve, os operários conseguem anular as 800 demissões.
 
Zé Dirceu é preso novamente, agora durante a investigação da Operação Lava Jato.
 
Em Osasco e Barueri, 13 pessoas são assassinadas em chacina praticada por policiais militares. 
 
 
SETEMBRO
No dia 18, mais de 15 mil marcham na Avenida Paulista contra o governo e a falsa alternativa de Temer, Cunha e Aécio. Com forte presença operária, a Marcha Nacional dos Trabalhadores, convocada pelo Espaço Unidade de Ação e uma série de entidades dos movimentos sociais e populares, mostrou que existe um espaço para a construção de uma alternativa de classe ao governo e aos demais blocos da burguesia.
 
No dia 19, mais de 1.200 ativistas participam do Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras, em São Paulo, para reafirmar a construção desse campo classista. O encontro aprova um chamado ao PSOL e ao MTST para fortalecer essa alternativa
 
No dia 23, o PSTU e a LIT perdem uma grande e histórica camarada. Cecília Toledo, a Cilinha, jornalista, diretora e dramaturga, falece após uma incansável luta contra o câncer.
 
Na Europa, explode a crise dos refugiados. A foto do menino sírio afogado na praia de Bodrum, na Turquia, se transforma em símbolo dessa tragédia humanitária.
 
 
OUTUBRO 
O mês começa com Dilma promovendo uma reforma ministerial, entregando ministérios para comprar apoio político no Congresso pra seguir aplicando o ajuste fiscal. Um dos ministérios é o da Saúde, entregue a um aliado de Cunha. Mas, ao invés de restabelecer sua base aliada, a crise política só se aprofunda.
 
São reveladas as contas secretas de Eduardo Cunha na Suíça, com farta documentação comprovando as maracutaias do presidente da Câmara. 
 
Em São Paulo, estudantes e professores começam manifestações contra o projeto do governador Geraldo Alckmin (PSDB) que previa o fechamento de 93 escolas.
 
 
NOVEMBRO 
No dia 5, o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco arrasa o subdistrito de Bento Rodrigues, mata ao menos 20 pessoas e polui o Rio Doce. Mais de 600 ficam desabrigados nesse que foi o maior crime socioambiental do país.
 
Manifestações reúnem milhares de mulheres em todo o país contra Cunha e seu projeto que dificulta o atendimento às vítimas de estupro. 
 
No dia 13, a maior série de atentados terroristas da história da França mata 130 pessoas e deixa 200 feridos. 
 
É realizada a Marcha Nacional da Periferia em 14 estados e em mais de 20 cidades no país. Nascida no Maranhão em 2006, a marcha deste ano foi a maior já ocorrida. Unindo pautas específicas com nacionais, a Marcha da Periferia denunciou o genocídio que vitima a juventude negra pela PM racista. Denunciou ainda o governo Dilma, assim como os governos estaduais, cuja política econômica e ajuste fiscal fustigam sobretudo a população negra, principalmente as mulheres negras, que sofrem mais com o desemprego e os ataques aos direitos. A militância do PSTU teve presença fundamental, com o lema “a revolução será negra, ou não será”.
 

Petroleiros realizam uma das maiores greves da categoria contra o plano de desinvestimentos da estatal. 
 
Estudantes secundaristas da rede pública de São Paulo começam onda de ocupações de escolas contra o projeto de reorganização de Alckmin.
 
 
DEZEMBRO
No dia 2, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, autoriza abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Até então, vigorava um acordão entre PT e PSDB para sustentar o deputado no cargo em meio às denúncias de corrupção.
 
Em São Paulo, os estudantes secundaristas conquistam importante vitória com o anúncio da suspensão do projeto de reorganização de Alckmin. Secundaristas ocuparam cerca de 200
escolas em todo o estado e faziam manifestações diárias em vários pontos, todas duramente reprimidas pela PM.