Matheus Gomes é militante da juventude do PSTU

O Opinião Socialista entrevistou Matheus Gomes, militante do PSTU, membro do DCE da UFRGS e do Bloco de Lutas pelo Transporte Público de Porto Alegre (RS). Recentemente, Matheus foi alvo da repressão policial do governo de Tarso Genro (PT). Teve sua casa invadida pela polícia e foi indiciado por “formação de quadrilha”. Confira a entrevista.

Opinião SocialistaComo foi a ação da polícia em sua casa?
Matheus Gomes – Tudo aconteceu no dia 1º de outubro. Uma ação coordenada da Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de diversos ativistas e organizações políticas que compõem o Bloco de Lutas aqui em Porto Alegre. Eles chegaram a pedir a nossa prisão preventiva, mas isso foi negado pelo juiz. Eu não estava em casa, mas eles procuraram meu pai e disseram que, se eu não fosse até lá, iam arrombar minha porta. Foi da mesma forma que faziam na época da ditadura militar. Os policiais entraram e logo perguntaram por armas e drogas. No final, levaram textos de teoria marxista, materiais políticos como panfletos, fichas de filiação do PSTU, adesivos, cadernos e o meu notebook. Também foi assim na casa dos outros companheiros. A polícia já tinha invadido a sede da Federação Anarquista Gaúcha antes. Desta vez, invadiu também o Espaço Cultural Moinho Negro, com o mesmo objetivo: buscar provas para afirmar que somos uma quadrilha especializada em roubos, saques e depredações.

Que objetivos estão por trás da investida policial?
Matheus –
De cara, é possível perceber o conteúdo político da investida. A polícia e o governo Tarso, do PT, querem transformar os principais dirigentes e figuras públicas das mobilizações em criminosos. O inquérito diz que eu sou líder de uma facção perigosa, que comete crimes. Também cita todas as organizações políticas, estudantis, sindicais e populares e tem um mapeamento completo dos ativistas, com relatos desde 2012, o que revela que há monitoramento e infiltração de agentes da polícia nas reuniões, assembleias e outras atividades do movimento.

É uma tentativa de criminalização de todo o movimento. Querem nos desmoralizar frente à sociedade, relacionando a nossa luta justa por direitos sociais básicos, como o passe-livre, educação e saúde públicas e de qualidade, com atos criminosos. Não cometemos crime algum, apenas organizamos as manifestações, direito que consta na própria Constituição Federal. Nesse momento, podemos ver o verdadeiro papel das instituições do Estado, como a polícia e o Judiciário, que é de atuar a serviço dos governos e da classe dominante. Tarso está a mais de mil dias sem cumprir a Lei do Piso Nacional dos professores, e nada acontece com ele. Nós, que ousamos denunciar o conluio entre os governantes e empresários, somos considerados criminosos.

Qual é a responsabilidade do governo do PT nesta ação?
Matheus– Tarso e a cúpula do PT sabiam de tudo. O próprio delegado responsável pelo inquérito confirmou. A repercussão negativa da ação acuou o governo e a polícia, que acabaram abrindo mão de levar adiante outros mandados, mas a máscara de Tarso já caiu. Há algumas semanas, veiculou nas rádios e na televisão uma propaganda do PT afirmando que Tarso tinha construído novas formas de participação popular e dialogado intensamente com os movimentos de junho. É uma mentira completa! Tarso tentou cooptar o Bloco de Lutas e não conseguiu. Agora tenta calar a nossa voz, usando métodos da ditadura militar que foi tão combatida pelo governador no passado.

Uma das principais promessas de Tarso era construir uma relação amigável com os movimentos sociais, que derrotaram a governadora Yeda, responsável pelo assassinato do sem-terra Elton Brum e pela dura repressão aos professores. Mas Tarso está seguindo o mesmo caminho. Não dialogou com a greve da educação, jogou bombas nos professores e agora chegamos ao escândalo do indiciamento de três educadores, presos após um protesto por portarem uma bandeira do CPERS [Sindicato dos professores do RS]. A polícia os responsabilizou por depredações durante a manifestação. O PT passou de impulsionador do movimento para repressor. Os ativistas do nosso estado estão concluindo sua experiência com o PT. Recentemente, tivemos a expulsão do PT do Bloco de Lutas, após a dura repressão ao ato dos indígenas e quilombolas em frente ao Palácio Piratini.

Como o movimento reagiu à repressão?
Matheus– A reação do movimento está forte. Na mesma semana do ataque, fizemos uma plenária com a presença de mais de 50 organizações e uma centena de ativistas que organizou as mobilizações do dia 10 de outubro, em frente ao Palácio Piratini e da Prefeitura Municipal./p>

O PSTU aqui do Rio Grande do Sul impulsiona uma campanha para exigir a retirada imediata de todos os inquéritos, a apuração dos abusos policiais cometidos e a demissão do secretário de Justiça do Estado. Também exigimos o fim do monitoramento das organizações e a perseguição aos ativistas, que já receberam ameaças da polícia. A repressão do Estado não vai abalar nosso sonho de transformar a realidade. As mobilizações de junho abriram essa possibilidade em nosso país e temos certeza que novos levantes virão. É a única forma de derrotar a ofensiva dos governos e da burguesia. Vamos continuar em luta para levar essa tarefa adiante.

*Entrevista Originalmente publicada no Opinião Socialista n° 470