Isamara Filier e o filho de oito anos, mortos pelo machismo
Redação

Poucos minutos antes do dia 1º de janeiro de 2017, o técnico de laboratório Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, matou a tiros a ex-mulher, mais 11 pessoas, sendo 8 mulheres, durante o réveillon familiar no bairro Vila Proost de Souza, em Campinas (SP). Mais três pessoas ficaram feridas. O crime foi premeditado: o assassino, que se suicidou após o feminicídio, levava 10 bombas presas ao corpo e deixou um áudio gravado no celular e cartas com amigos endereçadas ao filho e à namorada.

Segundo testemunhas e as cartas, a motivação para matar as mulheres e as outras vítimas foi a guarda do filho que Sidnei disputava com a ex-mulher, Isamara Filier, de 41 anos, de quem estava em processo de separação. As cartas avisavam que Sidnei queria, segundo suas palavras, “pegar o máximo de vadias da família juntas”. Além disso, trechos de uma das cartas despreza a luta por direitos humanos e o feminismo.

Num caso de feminicídio como este, que chamou a atenção de todo o país, algumas questões se mostram bastante evidentes. A primeira é que este não é o único, nem o primeiro e nem o último caso de feminicído do país. Infelizmente, as estatísticas, as manchetes dos jornais e revistas, deixam isso bem claro. A violência contra a mulher no Brasil é uma epidemia. Da mesma forma como os assassinatos de negros e negras na periferia e de LGBT’s.

A segunda coisa que fica evidente é que leis como a Lei Maria da Penha não foram capazes de diminuir a violência contra as mulheres. E isso se dá por diversos fatores. Não é possível combater a violência contra as mulheres se não existir emprego para elas, se não existir casas e abrigos, se seus filhos não tiverem escola e saúde públicas, gratuitas de qualidade; enfim, se os governos não investirem de fato parte do orçamento público no combate à violência doméstica. O que não tem sido feito desde a aprovação da referida lei em 2006.

A terceira questão é que se faz mais do que necessária a autodefesa das mulheres. O exemplo das mulheres do bairro Menino Chorão em Campinas deve ser compreendido e seguido. No capitalismo, o que pode proteger as mulheres são sua auto-organização e autodefesa e não apenas uma lei.

Por fim, em momentos de crise econômica o capitalismo se utiliza de todas as formas de opressão para manter seus lucros e justificar seus ataques à classe trabalhadora. Precisamos organizar a classe trabalhadora contra essas ideologias, que nos dividem.

É preciso ir além da democracia burguesa
Os governos não resolvem os problemas das trabalhadoras. É preciso organizar as mulheres para lutar por uma sociedade socialista.

  • Efetivação da lei contra o feminicídio!
  • Salários iguais para homens e mulheres na mesma função.
  • Construção de lavanderias, restaurantes públicos, gratuitos e de qualidade para libertar as mulheres do serviço doméstico.
  • Construção de creches públicas nos locais de trabalho, moradia e estudo, em tempo integral, para todos os filhos da classe trabalhadora, gratuitas, de qualidade e com profissionais capacitados.
  • Implementação dos Centros de Referência da Mulher, financiados pelo Estado, para dar assistência social e garantir apoio jurídico e psicológico às mulheres vítimas de violência.
  • Criar mecanismos de punição exemplar a todos os agressores de mulheres: violência física e psicológica, assédio moral e sexual.
  • Criar políticas de combate e punição ao machismo, que transforma as mulheres em objetos sexuais, como nas propagandas de cerveja.
  • Criar políticas de saúde pública que atendam às mulheres em todas as fases de sua vida e não apenas na reprodutiva; que deem conta da diversidade (negras, jovens, lésbicas, trans, idosas, portadoras de necessidades especiais).
  • Contraceptivos gratuitos nas Unidades Básicas de Saúde (DIU, pílula, pílula do dia seguinte, camisinha feminina e masculina, etc.) sem burocracia.
  • Criminalização da LGBTfobia.
  • Aprovação da Lei João Nery, pelo Direito ao Nome Social.
  • Por uma Educação Inclusiva. Vai ter Debate de Gênero, sim!
  • Atendimento ao aborto legal em todos os hospitais, sem necessidade de apresentação do boletim de ocorrência; descriminalização e legalização plena do aborto.
  • Aborto legal, gratuito e seguro!
  • Nenhuma confiança nos governos! Fora todos eles! Por um governo socialista, dos trabalhadores, baseado em conselhos populares!

Laura Leal e Parintins Lima, de Campinas (SP)

Publicado originalmente no site do PSTU-Campinas