Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Fotos Agência Brasil
Mariucha Fontana

O governo anunciou o projeto de privatizar 57 estatais, começando pela Eletrobrás, 18 aeroportos, entre eles o aeroporto de Congonhas em São Paulo, rodovias e até a Casa da Moeda, o que já é até simbolicamente uma atitude de país colonial. Um país que até a sua própria moeda será produzida por multinacional já mostra bem que tipo de burguesia tem e o grau de entrega e falta de soberania a que se dispõe. O governo diz que ela dá prejuízo. Será? Se desse prejuízo ninguém ia querer comprar, muito menos multinacionais.

A história, porém, é bem outra. Todas estas estatais são rentáveis e aquelas que precisam de investimentos, como em todas as demais privatizações que aconteceram, o governo vai entrar pesado com os investimentos necessários e as empresas privadas vão é lucrar. O governo vai é fazer caixa momentâneo, conseguir alguma entrada de dólares para sinalizar para os banqueiros internacionais que ele tem caixa para pagar a dívida que está explodindo com os juros estratosféricos pagos no Brasil. A Eletrobrás, responsável, por 37% de toda geração de energia do país, pode ser entregue por R$ 20 bilhões, sendo que fatura mais de R$ 60 bilhões ao ano.

O governo está beneficiando duplamente o capital internacional e os banqueiros com essas negociatas, atacando a pouca soberania do país e aprofundando a exploração da classe trabalhadora e da maioria do nosso povo.

A crise capitalista internacional e brasileira é de responsabilidade das grandes empresas e bancos internacionais e nacionais e dos respectivos governos capitalistas e neoliberais (sejam eles chamados de “direita”como o Temer e FHC ou os ditos de “esquerda”, como Lula e outros como ele pelo mundo). O sistema capitalista que nos esfola aqui embaixo, enquanto produz um punhadinho de bilionários e corruptos aqui e no mundo, precisa aumentar ainda mais a exploração para garantir e aumentar os lucros dos seus “investimentos”. Eles não estão investindo em novas fábricas porque não está dando o lucro que eles precisam. Nesse momento de crise, os capitalistas fazem duas coisas: primeiro jogam a crise nas nossas costas, com desemprego, diminuição de salários, retirada de direitos. Segundo, brigam entre eles, os mais fortes comem os mais fracos e tiram o concorrente do mercado.

Para eles é vantajoso “investir” esse capital parado na dívida brasileira e forçar que se pague juros de agiota cada vez maiores e é vantajoso também comprar a preço de banana empresas rentáveis e ocupar mercado. Por isso estão dispostos a comprar o Brasil: as terras (que o Temer já liberou), o subsolo (desde a exploração do pré-sal ou retirada de minérios, por isso Temer abriu uma suíça na Amazônia para mineradoras canadenses e outras) até as estatais e, também, empresas privadas brasileiras. A empresa Herman Foods dos Estados Unidos acabou de comprar a Ceratti, fábrica brasileira de mortadela. Esse pessoal paga aqui salários de miséria e depois envia os lucros para fora do país. E o Temer (e os governos que antecederam também) ainda tem a cara de pau de chamar isso de “modernização” do país.

Mas essa entrega, ou o dinheiro que entraria com esse negócio da China para o capital estrangeiro, diferente da mentira sempre contada de que seria usado para melhorar a saúde, a educação e outras lorotas, será entregue aos portadores dos títulos da dívida pública, banqueiros e empresas multinacionais em sua imensa maioria.

A “austeridade” e o “ajuste fiscal”, que as “agências de risco”, o FMI, banqueiros e empresários receitam contra a crise, tem como objetivo tirar ainda mais dinheiro dos pobres para dar aos ricos.

Eles orientam que o governo economize com aposentadoria, saúde, educação e todos os gastos sociais e destine ainda mais dinheiro do montante que ele arrecada para pagar a dívida pública que, em plena crise, ao invés de cobrar juros mais baixos, cobra ainda mais alto.

A dívida já leva quase metade de tudo o que o país arrecada, mas eles querem que leve ainda mais. Como o país está em franca estagnação, depois de ter tido dois anos de uma recessão severa, a arrecadação também está em queda. Mas, por que o governo não baixa drasticamente os juros? Por que não impõe um teto de gastos para os juros que o governo deve pagar? Não! Os gastos com juros são ilimitados. O que o governo quer baixar são os gastos com saúde, educação, aposentadoria, da mesma forma que quer retirar direitos dos trabalhadores para que os patrões possam nos explorar ainda mais, fazendo com que trabalhemos mais e ganhemos menos.

Esse governo e esse Congresso de picaretas e corruptos não nos representam e deveriam ser derrubados. Por que esse governo ainda não caiu, sendo que ele não tem o apoio de nem 5% da população?

Não caiu porque os empresários, banqueiros, corruptos, mas também a oposição, como o PT, Solidariedade e a cúpula das principais centrais, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, preferem que ele fique até 2018. Mais, todos eles preferem que esse governo faça essas reformas contra os trabalhadores e o povo, para que quem se eleja em 2018 e não precise fazê-las. Do PMDB, ao PSDB, passando pelo Bolsonaro, até o PT e o recente “Vamos”, ninguém se propõe a enfrentar banqueiros e empresários. Ninguém propõe a parar de pagar a dívida aos banqueiros, anular todas as privatizações (do Collor, do FHC, do Lula, do Temer) e todas as reformas (de todos os governos), todas feitas com compra de votos de deputados com dinheiro de corrupção. Ninguém propõe a estatização sob controle dos trabalhadores das empresas envolvidas em corrupção, das multinacionais (que mandaram para fora do país 4 vezes mais do que aqui investiram, na forma de remessa de lucros), do agronegócio e do sistema financeiro.

Temer anuncia pacotão de privatizações

A cúpula das maiores centrais, por sua vez, (exceto a CSP-Conlutas) puxou o tapete da Greve Geral do dia 30 de junho e estão negociando com Temer algum jeito de substituir o imposto sindical.

É preciso, porém, retomar as ruas, impedir a implementação da reforma trabalhista, a votação da reforma da Previdência e essas privatizações.

Os sindicatos metalúrgicos de base, apesar da cúpula das centrais, se reuniram nacionalmente e, junto com todos sindicatos de trabalhadores de todos os setores da indústria do país, começaram a alavancar um movimento de unificação das campanhas salariais para impedir a aplicação da reforma trabalhista. Petroleiros e funcionalismo já estão se somando ao dia 14 de setembro, primeiro dia de luta indicado. Mais uma vez, a CSP-Conlutas está cumprindo um papel fundamental, buscando destravar e unificar as lutas. Esse processo pode ser uma alavanca que venha a recolocar para a ação a necessária Greve Geral logo adiante.

O último levantamento de rreves realizado pelo Dieese atestou aquilo que o PSTU e a CSP-Conlutas vêm dizendo: 2014, 2015 e 2106 mantiveram o número de greves de 2013, patamares superiores aos anos 80, sendo que realizamos em 28 de abril a maior Greve Geral da história.

O caminho é o da luta. E na luta é preciso discutir uma alternativa operária e socialista para a crise, que defenda o emprego, o salário, os direitos, a soberania do nosso país e enfrente a repressão às lutas, aos lutadores e o genocídio e encarceramento em massa da juventude pobre e negra das periferias; bem como dê um basta ao machismo e à LGBTfobia. Através da nossa mobilização, devemos afirmar uma alternativa de independência de classe e forjar um Governo Socialista dos Trabalhadores, que governe através de Conselhos Populares.