Manifestantes fecharam uma das principais avenidas da cidade

PM usou balas de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral para dispersar manifestação pacífica de estudantes e trabalhadores. Movimento luta contra aumento na tarifa do ônibus de R$ 2,20 para R$ 2,40. Vereadora Amanda Gurgel (PSTU) tentou impedir a violência

O protesto do movimento “Revolta do Busão”, que luta contra o aumento na tarifa de ônibus em Natal (RN), foi violentamente reprimido pela Polícia Militar na noite desta quarta-feira, 15. A PM usou balas de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral para dispersar uma manifestação pacífica de estudantes e trabalhadores. Várias pessoas ficaram feridas.

Cerca de 3 mil manifestantes participaram do ato público, que fechou uma das marginais da BR 101 e ocupou a Av. Salgado Filho, uma das principais vias de Natal. O protesto foi organizado pelas redes sociais para impedir o aumento no valor da passagem de ônibus de R$ 2,20 para R$ 2,40, autorizado pela prefeitura no último sábado, dia 11.

Repressão
A violência policial teve início nas imediações do Shopping Portugal Center, logo após uma longa caminhada da manifestação. Segundo relatos de pessoas que estavam presentes no momento, a repressão começou quando policiais passaram a agredir uma professora durante a passeata. A vereadora Amanda Gurgel (PSTU) e o vereador Marcos Antônio (PSOL), que acompanhavam o ato, entraram na frente dos PMs para impedir a agressão e tentar acalmar os ânimos.

Manifestante feridoNo entanto, minutos depois, a polícia iniciou uma violência generalizada para dispersar o protesto. A estudante do curso de História da UFRN e militante da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (ANEL), Géssica Régis, foi atingida por spray de pimenta. Ela passou mal e chegou a desmaiar. Outros estudantes foram feridos por balas de borracha disparadas pela polícia. “Já estamos bem. Fomos atacados pela repressão do prefeito Carlos Eduardo, eu e vários companheiros. Mas não vamos desistir. Nossa organização e força serão ainda maiores”, disse Géssica.

Para a vereadora Amanda Gurgel (PSTU), a repressão ao protesto revela realmente de que lado está o prefeito Carlos Eduardo (PDT) e mostra sua completa submissão aos interesses do Sindicato dos Empresários do Transporte Urbano, o Seturn. “A responsabilidade por essa violência policial é do prefeito Carlos Eduardo e também da governadora Rosalba Ciarlini, que permitiram a repressão policial para beneficiar os lucros dos empresários do transporte. Isso é um absurdo”, criticou Amanda.

Horas antes do protesto, o Seturn havia conseguido uma liminar na justiça que proibia os estudantes de fecharem a BR 101 e garantia um grande efetivo policial para impedir a manifestação.

“Esse aumento é um roubo!”
Desde que foi anunciado o aumento na passagem de ônibus, o PSTU e o mandato da vereadora Amanda Gurgel tem se movimentado para impedir o reajuste. Nesta quarta-feira, na Câmara de Natal, a vereadora apresentou um requerimento pedindo à prefeitura a suspensão do aumento na tarifa. Amanda expôs diversas razões para isso, a exemplo da redução da frota, da extinção de linhas e do péssimo serviço prestado. O pedido da vereadora não pode ser votado por falta de quórum no Plenário. A sessão foi suspensa e a votação do requerimento será retomada nesta quinta-feira.

A vereadora Amanda Gurgel também destaca que o transporte público em Natal é um verdadeiro caos, com ônibus lotados, passageiros esperando horas nas paradas e uma frota antiga e desconfortável. Com o aumento para R$ 2,40, que passa a valer a partir do próximo sábado, a tarifa do ônibus na cidade será a segunda mais alta entre as nove capitais do Nordeste. “Esse reajuste vai aumentar ainda mais os lucros dos empresários do transporte, que já têm sido beneficiados com o fim de várias linhas, como a 03 e a 28, alterações de trajetos e motoristas em dupla função. Esse aumento é um roubo, e com a permissão da prefeitura”, denuncia.

Amanda lembra ainda que os empresários do transporte nunca mostraram as planilhas de lucros das empresas, preferem sempre exibir os custos e exigir isenções fiscais e reajustes nas tarifas. “O Seturn só apresenta planilha de custos, nunca mostra a de lucros. Essa permanece um segredo. Lamentam o tempo todo. Até parece que ônibus dá prejuízo pra eles. Esse aumento na passagem é um presente do prefeito Carlos Eduardo para os empresários”, afirma a professora.

Municipalização
Para o PSTU, a passagem de ônibus poderia ser muito mais barata e capaz de garantir um serviço de qualidade para a população. Mas, para isso, o transporte público precisa ser de fato um direito, e não uma fonte de lucro para um grupo de empresários. “Defendemos a municipalização de todo o sistema de transporte de Natal, sem visar o lucro, e sim o bem estar da população”, propõe a vereadora Amanda.

O PSTU defende ainda o retorno de todas as linhas e trajetos retirados, passe-livre para estudantes e desempregados e o fim da dupla-função dos motoristas, com o retorno imediato dos cobradores. “É possível barrar o aumento com a mobilização dos trabalhadores e estudantes. Aconteceu aqui no passado e recentemente em Porto Alegre. Nosso mandato vai propor ações parlamentares e jurídicas para revertê-lo. Mas a vitória só virá com o movimento nas ruas”, conclui Amanda.