Empresa montou um “grupo de contingência”, que entrou na refinaria de Paulínia (SP) antes do piquete. Grupo dormia em colchões, mas não conseguiu evitar o movimento.

Veja o relato de uma petroleira, que participou do movimento e permaneceu dentro da Replan por 43 horas, preservando os equipamentos e a refinaria em segurança. Ela conta a alegria de todos quando recebiam mensagens de solidariedade de quem estava lá fora e de outras refinarias. E a emoção ao sair e reencontrar seus companheiros de luta. Leia abaixo o seu relato:

“No dia 1º de março, às 23h30, foi cortada a rendição do turno na Refinaria de Paulínia (Replan). Antes, às 15h30, o sindicato havia parado os companheiros do turno do grupo cinco, avisando que haveria corte de rendição na entrada do turno zero hora.

(…)

A política para quem entrou era garantir tudo que envolvesse segurança, meio ambiente, que não trouxesse emergências. Afinal, não era nosso papel atentar contra nós mesmos e outros trabalhadores.

Essa pequena assembleia deu força para quem estava entrando e não sabia ao certo quando conseguiria sair. Deu espírito de corpo para aqueles que sabiam que teriam de se encontrar frente a frente com chefetes e pelegos.

Não foi surpresa para ninguém, ao entrar na Refinaria, encontrar um grupo de pelegos que se dispunha a furar a greve, a trair a categoria, aliando-se à empresa. Entraram antes do começo dos piquetes, no domingo de manhã, ou logo depois do almoço, pois sabiam que depois não conseguiriam entrar.

As primeiras horas foram mais tranqüilas. Era o nosso turno normal. O zero hora ainda foi um pouco tranqüilo, pois boa parte dos pelegos foram dormir em colchões cedidos pela empresa. Já ao amanhecer do dia 2, a tensão foi aumentando. Começa o cansaço. Os pelegos acordam e ficam transitando de um lado para o outro. Começam aqui e ali a fazer tarefas que não lhes cabiam. Mas sempre disfarçados, sem avisar, para não correr o risco de se denunciarem. Os chefetes de plantão começam a botar as asas de fora: “Vocês fizeram isso, fizeram aquilo? Todo mundo está fazendo”.

Mas a unidade foi mais forte, e a comunicação funcionou. Nos momentos de pressão, os companheiros conseguiram manter a linha, conversar entre eles, perguntar pra quem estava fora.

No meio da tarde, veio uma boa notícia. Os companheiros da Recap, em Mauá, aprovaram corte de rendição por um dia. Os companheiros da Revap fariam atrasos de turnos. Outras bases de petroleiros mandavam sua solidariedade. Acima das diferenças políticas na porta da refinaria, estavam juntos FUP e FNP, Conlutas e CUT, construindo a unidade que quer a categoria para a luta.

Depois, a primeira esperança: o oficial de justiça entrou na refinaria. Entrevistaria o pessoal para saber se queríamos ir embora. Conversaram com quem estava no Centro de Controle Integrado (CCI) e depois com alguns outros que estavam na presença de gerentes. O oficial saiu sem nenhuma resposta.

À noite, alguns operadores da área foram até a portaria para conversar com o chefe do RH e o sindicato. Falamos sobre a situação de quem estava preso na refinaria. Todos cansados, querendo ir embora. E mais: este estado colocava em risco a segurança do trabalho.

Alguns chefetes chamaram os operadores pelo rádio para que voltassem para as áreas operacionais, pois estavam abandonando o posto de trabalho. Uma atitude clara de que não tinham disposição para o diálogo. A confusão foi resolvida, conversamos com o chefe do RH e voltamos pra área.

De novo, mais uma esperança: a empresa faria a rendição pelo grupo de contingência. Passamos mais uma noite na refinaria. Os pelegos voltaram aos seus postos: os colchões cedidos pela empresa. O turno mantinha-se acordado como podia. Às vezes sentados numa cadeira batia o sono e cochilavam. A tensão não permitia dormir.

Pela manhã, a noticia se confirmou. Nós poderíamos sair. O grupo de contingência (nome bonito para os pelegos) assumiria a refinaria. Em algumas unidades, os gerentes fizeram a última pressão. Diziam que o grupo de contingência não conseguiria tocar a refinaria. Que nós (vejam que contradição) tínhamos de ter o senso de responsabilidade, pensar na segurança, naquilo que seria dito pela imprensa.

Na preparação da saída, novamente gerentes falaram com os operadores, fizeram intriga, dizendo em cada setor que o outro não sairia para que ninguém fosse o primeiro a sair. Assim, ficaríamos isolados. Uma grande mentira! À exceção dos pelegos tradicionais, todos saíram, demonstrando a força da categoria.

Lá fora, os companheiros de luta. Como é bom reencontrá-los. Reafirmar a certeza de que não estamos sozinhos. A liberdade é boa, como disse um companheiro novato. Fomos embora. Infelizmente o grupo cinco não tinha condições físicas de ficar nos piquetes naquele dia. Estávamos cansados. Queríamos ver nossos filhos, nossos companheiros e companheiras, nossos pais. Mas hoje já estávamos novamente na porta da refinaria. Afinal é lá que vai se dar a luta.

Pra nossa alegria vimos os companheiros da construção civil votarem um dia de mobilização em solidariedade aos petroleiros concursados. Vimos lá fora a unidade da categoria: na luta!”

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