Pesquisa foi realizada pelo Instituto Data Popular entre mulheres e homens de 16 e 24 anos

O jornal O Estado de São Paulo publicou nesta quarta-feira uma pesquisa estarrecedora sobre os casos de violência à mulher. Os números chocam. Foram 2.046 mulheres e homens entrevistados com faixa etária entre 16 e 24 anos, em todo país. 4 em cada 3 mulheres afirmam terem sido vítimas de assédio ou de agressão por parte de seus companheiros.
 
O Instituto Data Popular, responsável pelo levantamento, realizou a pesquisa em 2 fases. Na primeira, apenas 4% dos homens entrevistados e 8% das mulheres admitiram terem praticado ou sofrido algum tipo de assédio, ameaça ou agressão. Este número, segundo o Instituto, tem relação direta com o conceito de violência e agressão dos participantes, que se manifestavam considerando apenas a violência física como forma de agredir.
 
Na segunda fase, os tipos de violência foram assinalados (invasão de privacidade, xingamento, controle da relação, humilhação e agressão física) e então o percentual assume um aumento assustador, que revela a verdadeira face do machismo. O índice de mulheres que sofreram assédio em locais públicos e tocadas sem consentimento sobe para 78% das entrevistadas.
 
Outro dado importante revelado é a relação destes números com a rotina familiar. Dos participantes, 43% já presenciaram a mãe sofrer violência doméstica. Destes, menos da metade saíram em sua defesa. E os homens que convivem com esta situação também são responsáveis em reproduzí-la – 64% repetiram os mesmos atos com suas companheiras.
 
A pesquisa aborda, por último, a opinião dos participantes sobre a Lei Maria da Penha e sua aplicação. O resultado é quase unânime, 96% mostram-se a favor da medida, considerando inclusive o Brasil como país machista. Contudo, boa parte considera atos que diminuem as mulheres como normal ou correto. Isso se registra, por exemplo, na discussão sobre a primeira relação sexual feminina. Dentre os entrevistados, 42% dos homens e 41% das mulheres afirmam que a mulher deve ficar com poucos homens e não devem ter vida sexual muito ativa.
 
Travar uma batalha contra a naturalização do machismo
É assustador o conteúdo da pesquisa, não apenas pelos seus índices bizarros. Há uma clara demonstração de que ainda é muito difícil para as mulheres perceberem o quão devastador é o machismo em suas vidas. O processo de naturalização das piadas, cantadas, e até mesmo do toque não consentido é notório. E nestes casos, a culpabilização que nos é imposta aprofunda o processo de não reconhecimento enquanto vítimas.
 
O machismo além de nos enfraquecer, vende a ideia de as mulheres tem de ser inimigas. Isso é mais uma forma de manter a dominação do homem sobre a mulher e na esfera social, da sociedade capitalista sobre os trabalhadores e trabalhadoras. Segundo o machismo, a relação das mulheres entre si são então marcadas pelas brigas pelo macho, semeadas de falta de solidariedade.
 
É preciso destruir de uma vez por todas quaisquer resquícios de disputa entre nós. Não podemos alimentar a falsa consciência que só nos destrói e a nossa solidariedade. Pelo direito das mulheres de terem quantos parceiros desejarem sem por isso serem taxadas pelos homens nem por outras mulheres. Que sejamos companheiras diante da violência sofrida pela outra, e não aliadas em sua condenação.
 
A jovem turca de 22 anos, Tugce Albayrak foi morta logo após ajudar duas mulheres que estavam sendo assediadas no banheiro por um grupo de homens na Alemanha. Sua morte tem causado a comoção de milhares de pessoas ao redor do mundo. A solidariedade de Tugce tem gerado nestas pessoas sentimentos de gratidão e tem de servir para impulsionar campanhas cada vez mais radicais contra a violência machista. Aliadas contra a opressão, lutando pela nossa libertação.
 
Violência por todos os lados
Os dados apresentados somados aos diversos relatos que nos bombardeiam com índices igualmente graves refletem o papel ao qual a mulher é submetida socialmente. 
 
Segundo a ONU em um levantamento que abrangeu 190 países, cerca de 120 milhões de mulheres menores de 20 anos sofreram abuso sexual no ano de 2012. Ou seja, uma em cada 10 garotas com esta idade já foram violentadas sexualmente. No Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é estuprada e 15 mulheres são mortas diariamente vítimas da violência machista.
 
É duro conviver com esta realidade. Ainda mais quando se completam quase 4 anos do governo de uma mulher, que durante seu mandato aplicou uma política econômica que favoreceu os banqueiros e grandes empresários e esqueceu as mulheres trabalhadoras. Nos últimos 10 anos, os governos do PT investiram apenas 26 centavos por cada mulher em políticas públicas de combate à violência.
 
Dilma se reelegeu e tem montado uma das bancas ministeriais mais reacionárias dos últimos anos. Não podemos ter nenhuma ilusão neste governo. As mulheres jovens e trabalhadoras precisam confiar em suas próprias forças e na organização de verdadeiras frentes de resistência aos ataques que já estão sendo preparados.
 
É preciso reconhecer os aliados na luta contra a violência que sofremos. Os homens trabalhadores precisam incorporar como suas as pautas das mulheres, pois os benefícios do machismo sobre eles são apenas imediatos e aparentes. Enquanto classe, também sofrem as consequências desta ideologia.
 
Várias faces de um só mal
O machismo enquanto ideologia utilizada pela burguesia para explorar mais a classe trabalhadora e dividí-la em sua luta cotidiana, assume na vida das mulheres diversas faces. Incorporado socialmente, vai ser responsável pela tentativa de destruição de qualquer autonomia da mulher perante sua casa, seu trabalho e a si mesma. Vai buscar engendrar a todo o momento a naturalização da violência que somos submetidas.
 
Alguns frutos dessa parceria entre exploração e machismo são a naturalização e incitação da violência às mulheres, a desigualdade salarial entre homens e mulheres e a dupla e até tripla jornada de trabalho. É um verdadeiro desmonte psicológico, emocional e social arraigado na falsa ideia de que mulheres são inferiores aos homens.
 
A luta contra o machismo assume então um caráter de classe, pois só numa sociedade livre da exploração e opressão é possível a mulher gozar de plenos direitos e autonomia. A luta pelo socialismo é a luta das mulheres e dos homens trabalhadores que recusam a sociedade dos privilégios e se empenham na construção de uma sociedade livre e humana.
 
Nada nos violenta mais que o sistema capitalista. E é na luta cotidiana contra ele e contra tudo de mais nefasto que ele dissemina que devemos concentrar todas as nossas forças. Para que não sejamos mortas pelas mãos do machismo, para que a exploração seja exterminada da sociedade, a nossa luta é todo dia!