Foi um dos períodos mais tristes e sangrentos de nosso país. A ditadura militar, instaurada com um golpe militar no dia 31 de março de 1964, deixou um rastro de atrocidades e violações aos direitos humanos ao longo dos 20 anos que durou.
 
Este ano, quando se completam 50 anos do golpe, várias atividades estão acontecendo para marcar a data. O objetivo é lembrar e denunciar o que foi o regime militar e fortalecer a luta por verdade, justiça e reparação.
 
A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e assassinou milhares de jovens e trabalhadores. Entretanto, enfrentou uma forte resistência, na qual a classe trabalhadora teve papel decisivo até a sua derrubada.
 
Temos orgulho da história do nosso partido ter sido construída nesse período. Em 1977, militantes da Liga Operária, corrente política que daria origem ao PSTU, faziam a panfletagem de um boletim sobre o 1° de Maio. Parados em uma blitz da polícia, acabaram sendo presos e encaminhados ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
 
Entre os companheiros estavam Celso Brambilla, Márcia Basseto Paes e José Maria de Almeida, atual presidente nacional do PSTU. Todos foram torturados, principalmente, o companheiro Brambilla que saiu da prisão com graves sequelas. O regime tomou conhecimento pela primeira vez da existência de nossa jovem organização.
 
As prisões foram o estopim para as primeiras mobilizações estudantis de rua desde 1969. As mobilizações pela libertação dos presos ganharam dimensão nacional e assumiram o caráter pela libertação de todos os presos políticos do país e pela Anistia.
 
Até hoje muito do que ocorreu no período de 1964 a 1985 ainda permanece obscuro.  A maior parte dos arquivos da ditadura permanece fechada. Nem mesmo sob o governo Lula, que foi um perseguido político, o Brasil passou a limpo essa história.
 
Diferentemente do que aconteceu em outros países da América Latina, lamentavelmente, no Brasil não foi punido nenhum militar ou torturador do regime, nenhuma empresa ou empresário que colaborou com os militares, perseguindo e demitindo trabalhadores.
 
Hoje, parte da estrutura de repressão montada pelos militares ainda existe. A tortura continua nas delegacias das periferias das grandes cidades. As polícias militares reprimem e matam trabalhadores e jovens. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência)  continua vigiando os movimentos sociais e uma nova legislação sancionada pela presidente Dilma (PT) autoriza a infiltração da polícia em organizações e movimentos sociais.
 
A famigerada Lei de Segurança Nacional voltou a ser utilizada e novas leis são feitas para criminalizar os trabalhadores e suas lutas, inclusive com a permissão de intervenção do exército em manifestações.
 
No momento em que vivemos uma onda de mobilizações que exigem mudanças no país e se coloca em movimento toda uma nova geração de ativistas é importante resgatar a memória e a história dos trabalhadores e suas organizações na luta contra o capitalismo e seus regimes.
 
Resgatar a história da ditadura não é apenas para lembrar algo de um passado distante. É fundamental para preservar a memória, restituir a verdade sobre um dos períodos mais sangrentos do país, garantir justiça e reparação. Para que haja punição a todos os agentes do Estado que cometeram crimes e os empresários e empresas que a financiaram.  Para que nunca mais volte a acontecer.
 
Toninho Ferreira, anistiado político e presidente do PSTU de São José dos Campos