Fotos Rodrigo Barrenechea

Baixa sindicalização garante reeleição da chapa cutista, mas “Chão de Fábrica” se consolida como referência de luta á categoria

Ocorreram entre os dias 5 e 7 de maio as eleições para o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte, Contagem e região. O pleito foi marcado por muitas polêmicas, manobras de todo o tipo e uma forte disputa política sobre o papel do sindicato nessa conjuntura de crise e ataques do governo. A Chapa 1, “Metalúrgicos da CUT”, concorria à reeleição lutando para desvincular sua imagem do governo Dilma e do PT, apresentando-se como a defensora do assistencialismo médico e do Clube dos Metalúrgicos e acusando a chapa concorrente de querer acabar com esses benefícios fornecidos pelo sindicato. Já a Chapa 2, Chão de Fábrica, daCSP-Conlutas, propôs a retomada do sindicalismo combativo e democrático, que fosse capaz de se enfrentar com a patronal e com os ataques do governo Dilma e do Congresso.

A composição das chapas também revelava a diferença entre os dois tipos de sindicalismo que se enfrentavam. Enquanto a chapa da CUT não possuía quase nenhuma renovação, mantendo nos cargos executivos sindicalistas profissionais que não possuem fábrica há muitos anos, que estão completamente afastados da categoria, a chapa do “Chão de Fábrica” era composta por líderes operários de base, em sua maioria cipeiros e membros de comissões, que foram vanguarda das lutas da categoria no último período e mantém um trabalho político permanente na categoria. Para se ter uma ideia, na Vallourec (antiga Mannesmann), os três candidatos, incluindo o candidato a presidente Luis Carlos Araújo, o “Lobisomem”, são cipeiros e membros da Comissão de PLR que rejeitou pela primeira vez em muitos anos uma proposta da empresa em assembleia.

Manobras contra o Chão de Fábrica fracassam
Após o registro da chapa de oposição, a tática principal da burocracia cutista foi tentar todo tipo de manobras para impedir que esta realmente concorresse. Primeiro, eles fizeram uma forte pressão sobre os componentes da chapa, oferecendo cargos e benefícios de todo o tipo e, após recusa, fazendo ameaças veladas contra os empregos dos companheiros e seus parentes.

Depois de o assédio fracassar, decidiram utilizar a maioria que possuíam na Comissão Eleitoral para impugnar, sem motivo, a chapa do “Chão de Fábrica”. Isso em um momento em que 16 integrantes da chapa da CUT não possuíam condições estatutárias para concorrer, e que não havia nenhum motivo real para as impugnações da oposição. Cabe ressaltar que a maioria conquistada na comissão pela CUT não foi eleita em assembleia, como é tradicional no sindicalismo democrático, mas pela nomeação direta da gestão, com a esdrúxula situação em que o presidente da Comissão Eleitoral é o próprio presidente do sindicato candidato à reeleição.

A segunda manobra só fracassou depois que o “Chão de Fábrica” conseguiu envolver o Ministério Público do Trabalho, levando ambas as chapas a uma audiência de conciliação, em que a Chapa 1 se viu obrigada a retirar todas as impugnações e garantir o direito da oposição a concorrer ao pleito. Mesmo assim, mantiveram a data antecipada irregularmente da eleição, o que garantia apenas dois dias úteis de campanha à Chapa 2 antes que as urnas fossem abertas.

Campanha do Chão de Fábrica conquista o apoio da categoria
Mesmo com todas as manobras e a insegurança gerada pela impugnação a campanha do “Chão de Fábrica” foi muito bem recebida pelos trabalhadores metalúrgicos. Nas grandes fábricas, como Vallourec, Belgo e Stola, a categoria fazia questão de declarar abertamente seu apoio à oposição. Mesmo nas oficinas, onde está a maioria dos sócios, o sentimento de repulsa aos ataques do governo Dilma e à condução burocrática do sindicato se revelavam em cada conversa com a peãozada.

A agitação central da chapa de oposição era afirmar a necessidade de um sindicato de luta e democrático para enfrentar os ataques da patronal, do governo Dilma e do Congresso corrupto nesse momento de crise econômica. Denunciava o papel da atual direção, que esconde as demissões, protege o governo e colabora com os patrões, ao mesmo tempo em que vai enfraquecendo o sindicato, reduzindo o número de sócios e a capacidade de luta da categoria.

Enfim, a oposição do Chão de Fábrica, após uma curta e árdua campanha, conseguiu conquistar com seu programa de luta a maioria dos metalúrgicos e metalúrgicas que se cansou da condução governista e burocrática do sindicato.

Baixa Sindicalização garante a reeleição da CUT
Infelizmente, o sentimento da maioria dos metalúrgicos não pôde se expressar nas urnas. O baixo número de sócios (4.825 sócios da ativa em um universo de mais de 70 mil metalúrgicos) e o controle da lista de votantes até o último minuto garantiu a vitória eleitoral da CUT. Uma “vitória de Pirro”, conquistada na base da desinformação, da despolitização e do uso do aparato do sindicato em campanha. Uma vitória da chapa que precisou esconder sua política de apoio ao governo até o momento da apuração, que não teve coragem de defender Dilma e o PT em nenhum dos milhares de panfletos que produziram para a eleição.

Mas essa vitória eleitoral não esconde a tremenda derrota política que sofreram no processo. A ausência de festa ou de comemoração ao final da apuração e o semblante de preocupação dos velhos dirigentes sindicais eram apenas a parte visível da desolação de uma burocracia que sabe que não é mais maioria na categoria, que sabe que enfrenta uma oposição organizada e firme e que sabe que daqui pra frente não será nada fácil fazer engolir goela abaixo dos metalúrgicos uma política de conciliação com os patrões e os governos.

Seguir o trabalho de base na luta contra o governo e os patrões
A vitória política conquistada pela organização e consolidação do movimento “Chão de Fábrica” entre os metalúrgicos de BH e Contagem permite um salto na organização do trabalho de base da CSP-Conlutas na categoria. Hoje ampliou-se enormemente o número de cipeiros e ativistas de base que se referenciam na oposição e estão dispostos a reunir e colaborar conosco.

Organizar a categoria para enfrentar ataques como o PL 4330 e as MP’s 664 e 665, assim como as demissões e ataques patronais, mobilizar os metalúrgicos para unificar as paralisações e greves por salário e PLR, assim como integrar camadas cada vez mais amplas de ativistas aos fóruns da CSP-Conlutas, passam a ser as tarefas de primeira ordem da oposição metalúrgica. O movimento “Chão de Fábrica” não foi criado apenas para disputar eleições sindicais. Ele foi criado para lutar e organizar diariamente os trabalhadores metalúrgicos, construindo o sindicato que queremos a partir das lutas concretas da categoria.

Vida longa ao Chão de Fábrica! Unificar os metalúrgicos por salário e direitos, contra os ataques da patronal e do governo Dilma!

Resultado eleitoral:

Chapa 1: Metalúrgicos da CUT – 2338 votos

Chapa 2: Chão de Fábrica – A Chapa da Mudança/CSP-Conlutas – 1099 votos

Total de Metalúrgicos: Mais de 70 mil

 

Resultado entre os metalúrgicos da ativa:

Chapa 1: 1854 votos

Chapa 2: 1000 votos