Gleidson Santos, de Macaé (RJ)

O embate entre a marcha nazista e a contra-marcha de esquerda que ocorreu na cidade de Charlottesville (EUA), no dia 12 de agosto chamou a atenção do mundo. O motivo da extremadireita chamar a manifestação que aglutinou cerca de 500 pessoas de várias partes do país, alguns saíram do Canadá, foi o anúncio da retirada de uma estátua de um general confederado sulista que lutou para que a escravidão continuasse nos Estados Unidos.

Muitas pessoas estão assustadas com o renascimento da ultradireita, porém o episódio de Charlottesville mais parece a reação de um animal acuado pelas demonstrações de força dos movimentos de esquerda dentro dos EUA, como vimos nos protestos contra Donald Trump, na marcha das mulheres do dia 8 de março e no movimento Black Lives Matter, todos eles dezenas e até centenas de vezes maior que a principal demonstração de força dos nazistas dos últimos 20 anos nos EUA.

Desde 2015, 60 símbolos, dos sulistas foram retirados ou renomeados. Cidades como Jaksonville, Dallas e Baltimore dentre muitas outras anunciaram que irão retirar novos monumentos confederados. Na Carolina do Norte, no dia 14, populares não esperaram o governo e eles mesmos com uma corda derrubaram uma estátua confederada e dezenas de cidades norte-americanas no próprio sábado, dia 12, organizaram atos para deixar marcado que não irão tolerar nazistas.

Nesta quarta (16/08) milhares de pessoas se reuniram em Charlottesville para participaram de um grande protesto em homenagem a Heather Heyer, jovem que foi assassinada por um supremacista branco que atropelou dezenas de manifestantes de esquerda no dia 12.

Um fato simbólico de todo esse processo é o comportamento de um dos líderes da ultradireita do “Unite the Rigth”, Chris Cantwell, que no vídeo gravado para a Vice News afirmou que o assassinato de Heather e o atropelamento de dezenas foi totalmente justificados, porém, após a reação da esquerda, postou um vídeo patético chorando, afirmando que nunca estimulou a violência e que estava sendo ameaçado de morte.

Os grupos antifascistas que se propõem ao enfrentamento físico para esmagar os fascistas ampliaram bastante sua influência no último período nas terras do Tio San. De acordo com James Anderson, do grupo antifascista “It’s Going Down”, o acesso ao site de seu movimento passou de 300 visitações diárias em 2015 para 15 mil atualmente e, após os episódios de Charlottesville, o twitter do grupo ganhou 2 mil novos seguidores.

A ultradireita não é a opção dos americanos
O que existe nos EUA é uma polarização social a cada dia mais intensa devido ao crescimento da miséria até mesmo entre brancos. O sonho americano de crescimento pelo trabalho acabou e o capitalismo não consegue nem mesmo resolver as contradições que cria no principal país que se beneficia dele. Os confrontos entre a esquerda e a direita só devem se ampliar no próximo período.

Trump, que recebeu durante as eleições apoio destes grupos nazistas, foi eleito por menos de 25% dos eleitores e ganhou a disputa, apesar de ter tido centenas de milhares de votos a menos que sua oponente, devido ao sistema eleitoral americano. Pesquisa realizada esta semana mostra que apenas 34% dos americanos apóiam Trump.

Por não condenar claramente a violência da ultradireita, Trump perdeu até mesmo o apoio dos maiores empresários americanos. Logo após o dia 12, oito grandes executivos saíram do Conselho de Manufatura e do Fórum de Políticas e Estratégia.

Frente à debandada, Trump por seu twitter desdenhou: “Para cada CEO que abandonar o conselho de Manufatura, eu tenho vários para assumir seu lugar“. Porém um dia após tuitou novamente: “Em vez de pressionar os empresários do Conselho de Manufatura e Fórum de Estratégia e Política, estou terminando com ambos. Obrigado a todos!“, uma clara derrota de um dos presidentes americanos mais odiados da história.

Os neonazistas devem ser esmagados
Apesar dos neonazistas ainda não serem uma força de grande importância, a tarefa imediata dos movimentos sociais americanos é organizar sua autodefesa para esmagar o fascismo em seu nascimento sem deixar qualquer chance para que se desenvolva. Não podemos permitir que novos atos da extrema direita ocorram.

As lições de Charlottesville para o Brasil
Em primeiro lugar, os lutadores da esquerda brasileira precisam se preparar para esta polarização social que existe também por aqui. Os sindicatos, movimentos e partidos de esquerda precisam organizar desde já suas formas de autodefesa, tanto para enfrentar os ataques do Estado quanto da ultradireita.

Em segundo, lugar precisamos acabar com as centenas de absurdas homenagens que existem no Brasil aos ditadores, escravocratas, assassinos de indígenas e afins. No Brasil há 974 logradouros públicos que fazem referência à ditadura militar, como a data do Golpe: 31 de Março (nome de 156 espaços públicos) e Costa e Silva, ditador militar responsável pelo temido Ato Institucional número 5, que nomeia 237 logradouros, inclusive a ponte Rio Niterói.

Por fim, precisamos construir urgentemente no Brasil um alternativa socialista contraposta a Dória, Lula e Bolsonaro. Uma alternativa dos trabalhadores não para as eleições, como quer o PSOL, afinal as eleições não mudam nada.

Precisamos de opção revolucionária que esteja à altura da tarefa de destruir o capitalismo, esmagar os neonazistas que surjam e construa o socialismo a partir da organização dos trabalhadores e do povo pobre em cada bairro, local de trabalho e de estudo para que de fato aqueles que sempre foram enganados e explorados possam mandar diretamente nos rumos do Brasil.