Caminhe pelas ruas do bairro onde você passou a infância. Em vão você vai procurar pelo mercadinho no qual trocava meia dúzia de moedas por um punhado de balas, tiradas do baleiro de vidro que ficava em cima do balcão, junto com a balança Filizola e o papel de enrolar pão. No lugar dele, ou na próxima esquina, o que você vai encontrar é um grande hipermercado: Carrefour, Extra ou Pão de Açúcar se você estiver no sul-sudeste; GBarbosa, Líder ou DB se estiver no norte-nordeste.

Se prestarmos atenção à vida econômica, veremos que existe uma tendência ao desaparecimento das pequenas empresas, que são cada vez mais substituídas por grandes estabelecimentos e franquias internacionais. É claro que novas pequenas empresas surgem a todo instante, mas pouquíssimas sobrevivem. A falência é o fantasma que atormenta o sono dos micro e pequenos empresários todas as noites. E para 99,9% deles a hora de fechar as portas acaba chegando, mais cedo ou mais tarde. A razão de tantos fracassos não é, ao contrário do que tentam nos convencer, o custo da força de trabalho, os altos impostos ou a falta de qualificação dos trabalhadores, mas sim um velho fenômeno conhecido de todos nós, porém pouco lembrado ultimamente: o imperialismo. Exatamente. A invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a falência do armazém da esquina têm a mesma causa: o super-crescimento dos monopólios, que engolem as pequenas empresas e dominam a economia mundial.

O que é um monopólio?
O capitalismo do século 19 era muito diferente do de hoje. Em cada ramo da indústria havia uma infinidade de empresas que disputavam livremente o mercado, cada uma oferecendo seus produtos pelo menor preço possível. Era a época da chamada “livre concorrência”.

Na luta pelos consumidores, as empresas iam aperfeiçoando o processo produtivo, introduzindo novas tecnologias ou fazendo com que seus operários trabalhassem mais e melhor pelo mesmo salário. Quando isso acontecia, os custos de produção dessas empresas caíam brutalmente e elas conseguiam oferecer produtos relativamente bons a preços bastante baixos. De outro lado, as empresas que não conseguiam melhorar sua produção ou aumentar a exploração de seus operários terminavam perdendo espaço e falindo. Com a falência das indústrias menos produtivas, as empresas mais eficientes abocanhavam uma parcela cada vez maior do mercado nacional. Dessa forma, através de um ciclo de falências e incorporações sucessivas, em algumas décadas se chegou a uma situação em que cada ramo da indústria não era mais disputado por uma infinidade de empresas, mas sim dominado por um punhado de 5 ou 6 grandes corporações. Já que eram poucas, essas corporações, ao invés de continuarem engolindo umas as outras, preferiam entrar num acordo e dividir o mercado em base ao tamanho e a capacidade produtiva de cada uma. Formavam-se, assim, os primeiros cartéis, ou seja, aglomerados de umas poucas empresas que combinam o preço das mercadorias, forçando os consumidores a comprar tudo por um valor muito acima do real.

Dessa maneira, a partir do final do século 19 o capitalismo entra em uma nova fase de seu desenvolvimento, na qual a livre concorrência, que chegou a ser considerada a “alma” do capitalismo, já não passa de um teatro de mau gosto e onde o que vale mesmo é o peso dos grandes monopólios.

Os monopólios e os bancos
Uma vez formado um monopólio e estabelecido o controle sobre um determinado mercado nacional, as empresas que participam do acordo começam a obter lucros extraordinários porque podem impor seus preços sem qualquer concorrência, apenas conversando entre si. Os lucros obtidos são, no início, investidos na própria produção, que cresce e se aperfeiçoa sem parar. As empresas, que já eram grandes, tornam-se gigantescas. As metalúrgicas se associam às siderúrgicas, que lhes fornecem o metal. Estas, por sua vez, se associam às mineradoras, que extraem o ferro da terra. As petroleiras compram as refinarias, que, por sua vez, compram os postos de abastecimento. Aos poucos, formam-se enormes conglomerados que controlam ramos inteiros da economia e cujos lucros ultrapassam em muito o orçamento de alguns países.

Mas de onde sai tanto dinheiro para investir e crescer? É evidente: dos bancos. Os bancos, que no início do capitalismo eram simples intermediários nas operações de pagamento, começam a participar ativamente da produção, emprestando dinheiro para as grandes empresas. Quanto mais a indústria cresce, mais depende do crédito bancário.

Quanto mais o banco empresta dinheiro para a indústria, mais lucro obtém e mais dinheiro tem para emprestar novamente depois. Num determinado momento, os bancos ultrapassam a indústria em riqueza e poder e resolvem ditar as regras do jogo, impondo às empresas condições de financiamento que estas são obrigadas a aceitar, sob pena de terem negados seus pedidos de empréstimo. Para garantir que os empréstimos sejam bem utilizados, os bancos compram ações das empresas devedoras e enviam seus representantes para os conselhos administrativos das mesmas. As empresas perdem assim sua autonomia e caem sob o controle dos bancos, que a esta altura também se tornaram gigantescos. No final das contas, não se sabe mais se são os bancos que investem nas indústrias ou se são as indústrias que aplicam seu dinheiro nos bancos. O capital industrial funde-se assim com o capital bancário, dando origem a uma nova força econômica e social, muito mais poderosa e devastadora, o verdadeiro Frankstein do sistema capitalista: o capital financeiro. Em cada país, meia dúzia desses mega-aglomerados financeiros controlam quase toda a economia.

Os monopólios e o imperialismo
O capital financeiro investe e produz dentro do país, obtendo enormes lucros. Mas logo se depara com um problema: cada nação tem as suas fronteiras e os lucros não podem crescer infinitamente dentro de um mercado finito. Por isso, do mesmo modo que um tigre não pode se alimentar por muito tempo de capim, também os monopólios não podem ficar muito tempo presos ao mercado nacional. Quando a fome de lucros aumenta, os monopólios buscam a única solução viável para seus problemas: a conquista do mercado mundial, que não é infinito, mas pelo menos é muito maior do que o mercado nacional. Essa política de conquista do mercado mundial pelos grandes monopólios é o que chamamos de imperialismo.

Na luta por estabelecer seu império mundial, o capital financeiro utiliza distintas armas. Se o país a ser conquistado for um mercado livre, os monopólios utilizarão meios puramente econômicos: preços baixos, investimentos massivos etc. Se, ao contrário, o país-alvo for um mercado fechado, protegido por taxas alfandegárias altas ou leis que limitem a ação dos capitais estrangeiros, os imperialistas poderão recorrer à ajuda de meios não-econômicos, principalmente a guerra de conquista ou guerra colonial. É claro que os monopólios não travam eles próprios as guerras. Quem faz isso são os Estados nacionais, que a essa altura já se encontram completamente controlados por esses mesmos monopólios.

Dessa maneira, no final do século 19 praticamente toda a Ásia, África, Oceania e Oriente Médio estavam sob controle militar direto de alguma potencia colonial, principalmente França, Inglaterra e Japão. Por sua vez, na mesma época a América Latina inteira já se encontrava sob domínio econômico dos Estados Unidos, apesar de cada país manter formalmente sua independência política. Era o auge do imperialismo.

O imperialismo e as guerras mundiais
Mas a divisão do mundo entre as principais potências coloniais não resolveu o problema. Como se descobriu depois, a Terra, apesar de ser muito grande, também é finita. Dessa maneira, em poucos anos de dominação imperialista do mundo, os monopólios sentiram novamente a necessidade de expandir seu domínio. Mas como agora todos os territórios importantes já se encontravam controlados por algum país imperialista, não havia outra saída a não ser… tomar do vizinho. Assim, as grandes potências da Europa entraram, no final do século 19, numa corrida armamentista que levaria, em 1914, à Primeira Guerra Mundial. Poucos anos depois, em 1939, a humanidade mergulharia em um novo abismo sangrento: Alemanha e Japão resolveram tomar na marra a parte do bolo colonial que acreditavam lhe pertencer por direito. Era o início da 2ª Guerra Mundial.

Imperialismo e socialismo
Por ironia do destino ou capricho da história, o imperialismo acabou fornecendo a corda com que ele próprio haverá de se enforcar um dia.

Ora, o que significa um mundo dominado pelos monopólios? Significa que a extração, produção e distribuição de todo o tipo de bens e serviços estão integradas em um único sistema logístico internacional; significa que os departamentos de estatística dos grandes conglomerados sabem exatamente o quanto cada região do mundo consome de tal ou qual produto e o quanto pode produzir e exportar; significa que cada inovação técnica se espalha imediatamente por todo o planeta, aumentando rapidamente a produtividade do trabalho, mesmo nos cantos mais remotos do globo; significa que as fronteiras culturais e econômicas entre os países foram de fato extintas. E o que são todos esses elementos, senão as bases materiais de uma economia socialista mundial? Para desgosto da burguesia, o imperialismo é a prova definitiva de que o “livre mercado” é uma ilusão infantil e que uma economia organizada mundialmente não só é possível, como também é muito mais eficiente e lógica do que um amontoado de economias nacionais isoladas. Será possível encontrar uma demonstração mais evidente das possibilidades do socialismo?

Não há dúvida de que nossos carrascos prestaram, a seu modo, um grande serviço. Que joguem seu jogo por enquanto. Chegará a hora em que o proletariado do mundo inteiro segurará estes senhores pelo pescoço e dirá: “Obrigado, mas daqui em diante nós assumimos”.
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