Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU

Enquanto estamos cobrindo a Greve Geral com nossas equipes pelo país, a TV está ligada na Globo News aqui na redação do Opinião Socialista. É importante saber o que a imprensa burguesa está tentando enfiar na cabeça da população. A cobertura está simplesmente parcial, mentirosa e nojenta. Não acredite em tudo que você vê na TV e na mídia burguesa em geral. A verdade é que a greve geral de hoje é umas das maiores da história do país. Além dos setores parados, existe um enorme apoio da população. Esta é uma guerra de informações injusta. Não temos os aparatos milionários, não somos pagos pela burguesia para atacar os trabalhadores. Por isso, é muito importante que você divulgue o que realmente está acontecendo. Acompanhe a cobertura em nosso site e em nossas redes sociais. Leia o artigo de Wilson H. Silva.

Para a Rede Globo, a Greve Geral não existe. Logo mais, quando o país ferver em lutas, eles vão ter uma péssima notícia. Esperar que os meios de comunicação de massas (MCM) deem espaço para as lutas do povo é pura ingenuidade, mas a Globo extrapola todos os limites.

Na quinta-feira, 27, até porque tive uma conversa com meus alunos e alunas sobre o tema, fiz questão de suportar o Jornal da Globo e não tem como não fazer um comentário. Depois de abrir a edição com um ataque violento à organização sindical e uma exaltação à reforma trabalhista, através de uma esdrúxula comparação com o Japão e a Alemanha, a edição sequer citou a palavra greve e dedicou uma parte significativa de seus blocos a uma montoeira de mentiras sobre a reforma da Previdência.

Não era de se esperar algo diferente, mas, também, não podemos ignorar que, até mesmo em relação ao resto da imprensa burguesa, a empresa dos Marinho vai muito além do despropósito. Basta lembrar que outros veículos, não menos conservadores e burgueses, como a Folha de S. Paulo, o Estadão e até mesmo as imundas páginas da Veja estão noticiando a greve e foram obrigados a divulgar pesquisas que revelam um apoio amplamente majoritário à paralisação.

Nesse sentido, a Globo é a quintessência de tudo o que já se disse sobre o papel dos MCM no capitalismo. E acho que vale fazer um resgate histórico e teórico.

Quando os meios de comunicação se massificaram no final do século 19, os teóricos burgueses formularam a chamada “teoria funcionalista” para definir o papel dos MCM na sociedade capitalista. A coisa toda é uma versão do Positivismo – responsável pelo lema “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira – e apoiava-se no chamado darwinismo social (uma distorção grosseira das teses da seleção natural).

Partindo do princípio de que só a elite, nominalmente os cientistas e donos de fábricas, poderiam civilizar o mundo e fazendo uma comparação com as ciências biológicas e, particularmente, com o corpo humano, eles defendiam que os MCM (assim como a Educação e a Arte) seriam os aparelhos distribuidores e reguladores das ideias da elite.

Ou seja, seu papel seria levar aos braços e pernas (o povo) as ideias e valores da burguesia e seus capachos intelectuais (a cabeça pensante da sociedade). E, ainda, lhes ensinar a distinguir a diferença entre o que se considerava o certo e o errado.

De lá pra cá, sempre foi assim. E essa regra só foi abalada nos momentos marcados por rebeliões e revoluções (como nos anos 1920 e 1960) quando o aumento da consciência colocou os MCM em cheque.

Mas a Globo, cuja origem está nas entranhas fétidas da ditadura, sempre fez o possível e o impossível para se manter firme como um aparelho ideológico da burguesia, como definiram os teóricos da comunicação de esquerda dos períodos citados (como a Escola de Frankfurt, Dubort, Mcluhan e Morin que, depois, debandaram para o outro lado).

Foram eles que definiram que, ao invés de mandarem no mundo, como muitos pensam, os MCM são habitados pelos poderes, são lacaios da patronal, dos latifundiários e banqueiros, que alugam a mídia a preço de ouro, pelo mercado publicitário, ocupando as bancadas dos telejornais e as redações da imprensa para exalar suas mentiras.

Bem, a Globo é tudo isso e vai além. Alguns exemplos, como o de hoje, merecem destaque.

No auge da ditadura, no início dos anos 1970, o asqueroso e assassino Garrastazu Médici cunhou uma pérola que diz tudo sobre a empresa dos Marinho ao dizer que, enquanto mundo afora os noticiários só registravam conflitos, greves etc., o que lhe dava dores de cabeça, chegar em casa e assistir ao Jornal Nacional era “como tomar um calmante”.

Nunca vou me esquecer, também, de quando, no final da ditadura, no início dos anos 1980, cheguei em casa do primeiro ato pelas Diretas Já! (convocado pelo falecido Partido dos Trabalhadores) e fiquei passado ao assistir ao JN noticiando o ato como uma celebração do aniversário de São Paulo (com uma edição bisonha, gravada de um helicóptero e sem áudio, para evitar que se ouvissem os gritos de “Diretas, Já!” e “O povo não é bobo, fora Rede Globo!”).

Anos depois, a manipulação do debate entre Lula e Collor em 1989 foi tão absurda que escandalizou até mesmo os parceiros internacionais da emissora, dando origem ao excelente documentário Muito além do Cidadão Kane, numa referência ao maravilhoso filme de Orson Wells. Vale lembrar que, apesar disso e como prova de que a decadência e as traições do PT vêm de longe, ao chegar ao poder um dos primeiros atos de Lula foi perdoar uma dívida bilionária de seus algozes.

A forma descarada como a Globo exerce seu nefasto papel também pode ser exemplificada pelo inacreditável título do livro comemorativo dos 40 anos do JN: “A notícia faz a História”, quando qualquer um em sã (e honesta) consciência sabe que é o oposto.

Mas o fato é que, daqui a pouco, com Globo ou sem Globo, faremos História, parando o Brasil e tomando as ruas. Se eles se curvarão diante da realidade ou não, já é outra questão. Mas também será a História que julgará suas canalhices!

Quando o povo, os trabalhadores e trabalhadoras, oprimidos e explorados tomarem o poder (e este dia vai chegar), a Globo e seus patrocinadores não estarão lá. Faremos História e teremos o imenso prazer em noticiar que a Globo foi varrida pra sempre para os bastidores e o lixo da verdadeira História.