Obras da "Arena da Amazônia", em Manaus

Desde junho de 2012, sete operários já morreram nas obras dos estádios

Após as polêmicas envolvendo superfaturamento e o uso de recursos públicos para a realização das obras da Copa, outra notícia, desta vez mais trágica, vem se tornando comum nos jornais. Na madrugada de 14 de dezembro, o jovem operário Marcleudo de Melo Ferreria, de apenas 22 anos, caiu de uma altura de 35 metros enquanto trabalhava na cobertura do estádio “Arena da Amazônia”, em Manaus (AM). Marcleudo chegou a ser levado com vida para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

O acidente ocorreu apenas duas semanas após outra tragédia, desta vez nas obras do Itaquerão, Zona Leste de São Paulo. A queda de um guindaste que erguia uma parte da cobertura do estádio desabou, matando dois operários. O número de vítimas só não foi maior pois o acidente ocorreu no horário de almoço dos trabalhadores. A obra, tocada pela Odebrecht com financiamento do BNDES, estava já em sua fase final e não foi paralisada com o acidente.

Ainda em Manaus, poucas horas depois da morte do operário de 22 anos, outro trabalhador faleceu. José Antônio do Nascimento, que trabalhava no setor de limpeza e terraplanagem no Centro de Convenções ao lado do estádio, sofreu um infarto e também não resistiu. Só em 2013 morreram cinco operários em acidentes relacionados com as obras da Copa. De junho de 2012 até agora, foram sete mortes nos canteiros de obra. Só para efeito de comparação, em toda a preparação da Copa da África do Sul em 2010, morreram dois trabalhadores.

Qual a explicação para tantas mortes em tão curto período? Longe de ser um fato normal ou corriqueiro, a verdade é que algo muito grave está ocorrendo nas obras milionárias que estão sendo construídas país afora, e nada está sendo feito a respeito. Em janeiro deste ano, por exemplo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) já havia denunciado as precárias condições do estádio em Manaus. Segundo o MPT, que havia realizado uma fiscalização surpresa no local, os operários não contavam com equipamentos de proteção em locais com risco de queda, entre outras várias irregularidades. Nada foi feito pela empreiteira Andrade Gutierrez, responsável pela reforma no estádio, e em maio o operário Raimundo Nonato Lima da Costa morreu após sofrer uma queda de cinco metros.

O membro do Comitê Popular da Copa em Itaquera, Zona Leste de são Paulo, Serginho Lima, confirmou em entrevista a uma rádio comunitária a pressão diária sofrida pelos operários para o término da obra no prazo estabelecido pela Fifa. “Nós falamos com três operários e o medo deles era visível, eles são tachativos em dizer que as pressões e as intimidações existem“, afirma.

A pressão da Fifa para que as obras fiquem prontas o mais rápido possível, aliada à já conhecida irresponsabilidade das empreiteiras, que não pensam duas vezes antes de economizar em equipamentos e medidas de segurança, está produzindo uma escalada de acidentes e mortes. Se no dia-a-dia a construção civil e pesada já registram taxas elevadas de acidentes fatais, com a pressão da Fifa e do governo para a finalização das obras, isso aumenta ainda mais.

A ganância das grandes empreiteiras e a pressão das multinacionais, desta forma, estão custando a vida de operários. E o governo, que custeia boa parte dessas obras, não parece muito preocupado com isso. O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, minimizou as mortes em entrevista ao canal Fox Esportes, dizendo que as inspeções haviam sido feitas. “O trabalho de preparação da Copa é vitorioso“, chegou a afirmar. Segundo dados do próprio Ministério dos Esportes, a Copa vai consumir um total de R$ 28 bilhões em recursos públicos.

A realização da Copa em 2014 envolve uma série de cálculos. Dos investimentos públicos e perspectivas de retorno das empreiteiras e multinacionais que se abrigam no guarda-chuva da Fifa, passando pelos cálculos eleitorais do governo, num ano de eleição à presidência. A vida dos operários, infelizmente, parece não fazer parte dessa equação.