Bate-paus da direção do Sinpeem agridem professoras
Redação

Unir mulheres e homens da classe trabalhadora para lutar contra a retirada de direitos

Estamos em meio a uma grande crise econômica, social e política em que todos os atuais governantes (Temer-PMDB, Alckmin-PSDB e Haddad-PT) e futuros (Dória, o prefeito eleito em São Paulo pelo PSDB) jogam nas costas da classe trabalhadora a conta através da PEC 241, do PLP 257, das reformas trabalhista e previdenciária e, no caso do município de São Paulo, o projeto do Sampaprev, que visa restringir a aposentadoria do funcionalismo municipal.

Foi diante do debate de como enfrentar esses e outros retrocessos sob o futuro governo Dória (como o aprofundamento da privatização da Educação Infantil através dos convênios, o projeto “Escola sem partido”, a Reforma do Ensino Médio e o congelamento de salários e concursos por 20 anos com a PEC 241), que os mais de 4 mil trabalhadores da educação, eleitos delegados nas escolas, iniciaram o 27º Congresso do SINPEEM (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal-SP), na expectativa de que se votasse a luta pela unificação das centrais sindicais numa Greve Geral e ações efetivas para impedir que o Sampaprev volte ao debate na Câmara de Vereadores.

No entanto, o presidente do sindicato, Cláudio Fonseca (PPS), eleito vereador na chapa de Dória (PSDB), desde o início dos trabalhos deixou nítido que não admitiria manifestações ou críticas que fugissem ao seu controle burocrático do aparato sindical e, num momento em que as mulheres tomam as ruas e mídias sociais na luta contra o machismo e a violência, fez uso do palco, do microfone e até de seguranças para agredir verbal, física e moralmente as mulheres da categoria.

Machismo e burocracia andam juntos
Na categoria dos trabalhadores em educação básica, as mulheres são maioria esmagadora, e quanto menor a faixa etária de seus alunos, menor seus salários, em comparação à Educação Superior. Enfrentam duplas e triplas jornadas, incluindo o trabalho doméstico, e acumulam cargos para compor salários mais dignos. No SINPEEM, as mulheres ocupam menos de 50% dos cargos da diretoria e seu presidente é o mesmo há cerca de 30 anos!

Na Rede Municipal de Educação de São Paulo ocorreram greves contra Kassab (PSD) e Haddad (PT), protagonizados pelas mulheres em comandos de greve, conselhos e representações de base, o que conquistou alguns reajustes parcelados para reposição salarial. Tais conquistas, portanto, só se deram com muita luta e sacrifício da categoria, que muitas vezes teve que se enfrentar com a direção majoritária do SINPEEM que manipulou assembleias para impor o fim da luta particularmente durante a gestão de Kassab (greve de 2012, por exemplo), quando o presidente Cláudio Fonseca foi vereador de sua base de apoio.

Por isso, desde o início do congresso, percebia-se a bronca e a desconfiança da categoria em que seu sindicato seguisse presidido por um vereador eleito apoiando Dória. E, obcecado pelo controle do aparato, o “Rei” Cláudio Fonseca, como é conhecido na base, perdeu a linha e passou a hostilizar as trabalhadoras que tentavam falar no congresso, desqualificando-as e desmoralizando-as sistematicamente, com frases como “você não está entendendo…”, ou “meu amorzinho”, “quando estamos só nós dois você diz que gosta de mim…” ou negando-lhes simplesmente o acesso ao microfone.

Tais atitudes machistas e burocráticas sempre aconteceram nos fóruns do sindicato, e além das mulheres ativistas, sempre se dirigiram aos setores organizados dos coletivos de oposição. O palco e o microfone em reuniões, assembléias e congressos, para não dizer o dinheiro e o aparato do sindicato, sempre estão sob controle da diretoria majoritária, que apesar de proporcional, também exclui os membros das oposições das participações políticas dentro das instâncias do sindicato. Esse clima autoritário e opressor, garantido por seguranças privados, coíbe e cala particularmente as mulheres, historicamente alijadas dos espaços de poder e participação. Num sindicato cuja base é feminina, um bando de homens burocratas não se envergonha de manipular e impor seu- controle às trabalhadoras.

Quem luta, educa: Machistas não passarão!
Após a escandalosa atitude machista na abertura do congresso, mulheres de vários coletivos como o MML (Movimento Mulheres em Luta, filiado à CSP-Conlutas) passaram a se organizar. Programaram para o segundo dia, 19 de outubro, que coincidiu com o levante internacional contra os feminicídios chamado desde a Argentina “Nenhuma a menos”, um escracho na abertura da plenária. Em passeata, amordaçadas e empunhando cartazes contra o machismo do presidente e no movimento, entraram em silêncio no plenário e todos, inclusive a mesa, se calaram. As trabalhadoras então cantaram “a minha boca, não calo não, somos maioria na Educação” e, percorrendo as galerias sob aplausos de pé, gritaram: “Machistas, machistas, não passarão!”. Todos ficaram muito emocionados e até a mesa reconheceu a legitimidade e importância da manifestação.

No dia seguinte, o movimento se ampliou e se elaborou uma moção a ser apresentada ao congresso para não só coibir atitudes machistas no sindicato como garantir espaços de formação política às mulheres, incentivar sua organização e acolhimento aos filhos nos eventos da categoria.

Porém, após a votação do Plano de Lutas que apontou os dias 11 e 25 de novembro como dias de paralisações e luta contra os ataques aos trabalhadores, faltando uma hora para o fim da plenária de votações, nós juntamente com outras companheiras, solicitamos questão de ordem para que fosse lida e discutida a proposta de moção. Mas o presidente não concedeu e impediu o nosso acesso ao microfone e passou a mentir e desqualificar nossas intenções, manipulando o plenário contra elas.

Novamente, elas levantaram os cartazes e exigiram o direito à fala e, diante da negativa, ocuparam o palco e obstruíram a continuidade dos trabalhos. Seguranças foram chamados, companheiras e companheiros solidários às mulheres foram agredidos e até empurrados do palco pra baixo. Tudo isso para que a moção não fosse lida!

Controlando o microfone, o pelego machista Cláudio Fonseca vociferava: “são essas educadoras que vocês querem para seus filhos?” ou “vocês pensam que vão transformar o Sinpeem numa Apeoesp?”, referindo-se ao sindicato estadual dos professores, onde, apesar da burocracia sindical que existe no mesmo, movimentos de oposição têm maior espaço de debate e onde há descentralização do aparato em subsedes nas regiões. Essas falas puseram o “rei a nu”, demonstrando suas concepções conservadoras que criminaliza e sataniza mobilizações espontâneas que fogem do seu controle. Reprimir ações e debates dos setores oprimidos inclusive com uso da força pouco ou nada difere dos projetos como o “Escola sem partido”, cujo objetivo é coibir a ação, conscientização e organização dos jovens e trabalhadores em educação.

Todos foram expulsos do palco e os seguranças fizeram um cordão de isolamento no presidente, como se alguém quisesse agredi-lo, e este decreta o fim da plenária. Ele tem medo da força simbólica do grito das mulheres. Nós, juntamente com outras mulheres da oposição de conjunto, realizamos uma plenária fora do auditório e traçamos os próximos passos da luta. Depois de muitos anos a base rompeu a “ordem” castradora e burocrática da direção majoritária, impondo sua pauta e explicitando seus métodos autoritários.

O aparato sindical X O Luta mulher no Sinpeem
No dia seguinte, o site do sindicato estampava calúnias de que a oposição havia vandalizado o congresso e impedido o debate sobre as lutas da categoria. A mesma nota desqualificadora das ações das mulheres chegou por email a todos os associados. Todas as mesas de debates foram orientadas a não abrir o microfone aos participantes e até o show de encerramento do congresso contou com um discurso em que o próprio Cláudio Fonseca se diz não machista.

O fato político era inegável, todos debatiam o que havia ocorrido, as mulheres panfletaram a moção, cavaram intervenções nos grupos, conversaram com os delegados nos ônibus e na fila do almoço, o mesmo ocorrendo nas redes sociais onde não faltaram fotos e vídeos.

Em uma reunião com mais de 50 mulheres, discutiu-se a continuidade da luta, a constituição de um fórum Luta Mulher no Sinpeem, abaixo-assinado, comissões.

A partir da luta das mulheres da categoria, destravou-se o conformismo com uma direção burocrática e traidora das lutas. A oposição se renova e, junto com ela, a consciência de que às mulheres se garanta o protagonismo e a direção de seus embates, que junto com os homens da categoria devem aprofundar e organizar a base contra a burocracia sindical que usurpam a participação dos trabalhadores nas decisões do sindicato, fonte imensa de poder e privilégios e instrumento de conciliação com os governos quando afastado de sua base. Machismo, racismo e LGBTfobia são ideologias reforçadas nesses espaços para manter distantes os setores que potencialmente se radicalizam na luta contra os governos de plantão.

Greve Geral, a luta dos oprimidos e o Luta Mulher
No congresso, por pressão do conjunto da oposição, foi aprovado um Plano de Lutas aprovado pelas centrais sindicais para derrotar o ajuste fiscal e todos os ataques aos trabalhadores, representados pela PEC 241, PLP 257 e a reforma do Ensino Médio.

Vamos participar da Jornada de Lutas da CSP-Conlutas e demais centrais realizando ato no dia 11 de novembro e a greve no dia 25. Sabemos que só com a participação da base conseguiremos transformar estes dias em grandes dias de lutas para derrotar o ajuste fiscal do governo Temer. Por isso, fazemos o chamado à que as centrais, em especial a CUT, construam e joguem peso neste dia, que paralisem as categorias onde têm presença e organizem a luta.

Como os estudantes secundaristas que ocuparam escolas no ano passado em São Paulo contra a reforma do Alckmin, como os estudantes e professores do Paraná, que ocuparam escolas e fazem uma greve heroica contra os ataques de Beto Richa, nós do Movimento Mulheres em Luta nos colocamos à frente, junto com demais coletivos e mulheres da categoria, para lutar pelo nosso espaço, pelos ataques que afetarão a todos, mas sabemos que com mais intensidade as mulheres, negros e a juventude da periferia.

Nossa luta não é só para que as mulheres tenham voz e respeito no sindicato que as representa. Nossa luta é também para que o sindicato seja mais próximo dos professores e professoras que estão no chão da escola. Que não represente só uma casta burocrática que vive à custa do dinheiro dos associados. Nossa luta é pela democratização e politização deste sindicato.

Neste sentido, reivindicamos toda a luta por um Sinpeem mais próximo da base, que respeite os diversos grupos políticos com diferentes opiniões, que haja mais controle da base da categoria sobre as decisões tomadas pela direção do sindicato.

Pelos desafios que temos pela frente sabemos que precisamos ter um sindicato à altura de nossa categoria para derrotar o ajuste fiscal, independentemente de partidos e de governos. Diante do futuro Prefeito Dória do PSDB e seu anunciado secretário de Educação, Mozart Ramos (Instituto Airton Senna), patrocinadores da reforma do Ensino Médio de Temer e vinculados aos interesses privados na Educação, sabemos que virão muitos ataques e não podemos deixar que o sindicato seja manipulado para enterrar nossas lutas.

Vimos neste congresso uma ruptura com os métodos burocráticos e com a política adaptada de uma parcela importante da categoria. Esse é o caminho, queremos o que é nosso por direito!

Fora todos os burocratas e governistas! Machistas não passarão!

Luta Mulher no Sindicato! Rumo à Greve Geral!

Por Ariana Gonçalves e Veruska Tenório*

*Ariana Gonçalves é Diretora do Sinpeem pela Unidade da Oposição e Veruska Tenório, Professoras da Rede Municipal de Ensino da Cidade de São Paulo, militantes do Movimento Mulheres em Luta e do Coletivo Reviravolta na Educação/Sinpeem