PSTU-RS

 

Daniela tem 24 anos e é metalúrgica de uma grande empresa da região metropolitana de Porto Alegre que fabrica peças e equipamentos para a General Motors em Gravataí. Grávida de quatro meses, perdeu o bebê como consequência de uma aguda infecção urinária causada por segurar o xixi, às vezes por uma manhã inteira.

O setor de Recursos Humanos (RH) da empresa, formado somente por mulheres, disse ao companheiro de Daniela que ela poderia faltar dois dias: “Sem problemas, nós não vamos descontar os dias”. O artigo 395 das leis do trabalho prevê duas semanas de repouso remunerado em caso de aborto.
Na empresa que Daniela trabalha, o ritmo de produção é dado pela velocidade das esteiras. Para que alguma operária ou operário saia para ir ao banheiro ou tomar água, é preciso que outra dobre o trabalho para não ser alcançado pela esteira. Isso significa, na prática, uma brutal pressão para que o operário não realize as mais básicas necessidades fisiológicas humanas como urinar ou beber água.
Para os homens, isso têm um peso. Para as mulheres, um peso maior. E para as mulheres grávidas é pesado demais. As mulheres grávidas têm sua bexiga pressionada pelo crescimento do feto, e isso as obriga a ir ao banheiro mais vezes.
Mas como no capitalismo o que importa é o lucro, e dentro da fábrica a produção, nenhum chefe se importa com a saúde dos operários. No caso das mulheres, isso é agravado pelo machismo que faz com que até mesmo os colegas digam que a mulher está indo no banheiro “pra matar tempo” ou “porque é escorada”.
Aviso aos homens operários: Os patrões são quem colocam essas ideias na nossa cabeça, e nós temos que ser contra isso!
Quando o patrão não respeita as necessidades físicas mais básicas de uma operária grávida, ele tem muito lucro com isso, porque daí não é preciso contratar mais um peão para ajudar na produção. A mulher, mesmo arriscando sua saúde e a do bebê, leva nas costas mais essa sobrecarga e dá conta do serviço.
O caso de Daniela é só um exemplo da epidemia de infecção urinária das mulheres nas fábricas no país. Segundo o médico Dráuzio Varela, 80% das mulheres terão infecção urinária ao longo da vida. E uma pesquisa de 2007, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, mostra que a infecção urinária é a terceira maior causa de aborto espontâneo no Brasil.
8 de março, Dia Internacional de Luta da Mulher
Os patrões estão nos atacando, exigindo que trabalhemos cada vez mais ganhando menos e com piores condições de trabalho. O governo está cortando direitos. Aumentaram a tarifa da luz, a gasolina, a comida e as passagem de ônibus. Querem jogar a crise nas costas da classe trabalhadora. Cada derrota que sofremos é paga pelo conjunto da classe, mas principalmente pelas mulheres porque o machismo é muito lucrativo pro patrão.
O próximo domingo é 8 de março, Dia Internacional de Luta da Mulher. Será um momento precioso para levantarmos bem alto a luta pelos direitos das mulheres operárias. Entre elas, o aumento da licença maternidade para 180 dias, a redução da jornada de trabalho para 30 horas para mulheres grávidas e uma implacável punição aos empresários culpados por aborto decorrente de infecção urinária. Precisamos exigir também do governo federal que invista 1% do PIB no combate à violência contra a mulher.
A gente sabe que os patrões não cumprem a lei e que é necessário fazer uma luta permanente para defender o que temos e para as coisas mudarem. Por isso, é preciso se juntar com as outras mulheres operárias ganhar a cabeça dos operários e enfrentar os patrões.
Com organização e luta podemos mudar tudo: a fábrica, as nossas condições de trabalho e toda a sociedade. O exemplo de Daniela deve servir para transformar a dor em indignação. Vamos lá! O nosso sofrimento tem de acabar!