Gabiru

Morreu na madrugada desta sexta-feira (12) o sociólogo, crítico literário e professor Antonio Candido, aos 98 anos, no hospital Albert Einstein, onde estava internado com complicações intestinais.

Nascido na segunda década do século XX, Candido vivenciou alguns dos períodos históricos mais importantes em nosso país. Ele dizia que muito de sua formação na juventude se deu devido a efervescência social e política das décadas de 1930 e 1940, quando a polarização entre fascismo e comunismo era latente.

Foi autor de importantes livros sobre teoria de crítica literária e era considerado um dos maiores nomes brasileiros sobre o assunto. Também escreveu, durante décadas, para suplementos literários em importantes jornais brasileiros como a Folha da Manhã e Estado.

O crítico literário foi bastante influenciado pela teoria marxista. Antonio Candido, inclusive, foi responsável por formar toda uma geração de importantes críticos literários conscientemente influenciados pelo marxismo, os quais aplicaram em suas elaborações acadêmicas muito sobre as questões sociais e políticas na literatura.

Antonio Candido também escreveu as primeiras críticas literárias de importantes autores como Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto. Assim, deu holofotes pela primeira vez a esses dois que viriam a se tornar grandes nomes da literatura brasileira. “Recebi um livro chamado Perto do Coração Selvagem, assinado por Clarice Lispector. Pensei que fosse um pseudônimo, porque isso não é nome de gente, Lispector. Eu não sabia quem era e precisava dizer se o livro era bom ou era ruim”, disse em uma entrevista ao jornal Estadão em Paraty (RJ), em 2011. Também foi amigo de Oswald de Andrade, que conheceu após um desentendimento por conta de sua crítica sobre Marco Zero, de Oswald.

Candido sempre foi muito preocupado com a importância social e política na literatura. Olhava e criticava minuciosamente as obras como elas eram, todas suas características internas, mas, sempre que era possível, as relacionava com seu contexto social e político. E fazia questão de escrever da maneira mais simples e didática que conseguia, porque tinha uma preocupação muito forte de saber que o que escrevia fazia sentido às pessoas.

Em seu artigo “O direito à literatura”, coloca que a Literatura, “pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo, ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. (…) a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deÌes, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual”.

O sociólogo foi também ativista político e chegou a militar no PT até 2002. Considerava-se socialista e reivindicava a importância das lutas sociais ao longo dos mais de 200 anos de capitalismo e as conquistas que a classe trabalhadora obteve a partir delas. Por isso, inclusive, que ele costumava dizer que todos os direitos e a condição de vida que a classe trabalhadora possui hoje são fruto do socialismo e de suas lutas. “Tudo é conquista do socialismo”.