Nem dia 16, nem 20 de agosto: colocar os trabalhadores nas ruas contra o governo Dilma, Temer, Aécio e Eduardo Cunha

Nesse domingo, 16, ocorreram novos atos em todo o país contra o governo Dilma e pelo impeachment da presidente. Foram manifestações menores que as do dia 15 de março, quando a convocação parecia espontânea. Agora, chamados explicitamente pelo PSDB e outros partidos burgueses, além de grupos liberais como o Movimento Brasil Livre e de extrema-direita, como o Revoltados On Line, foram atos menores e menos apoteóticos.

Tendo a corrupção como alvo prioritário, os protestos focaram no governo Dilma, em Lula, no PT, e em figuras do Congresso Nacional como Renan Calheiros. Temas como a “situação da educação”, o desemprego, a inflação e a crise econômica de forma geral também estiveram presente. Por outro lado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Aécio Neves (PSDB-MG), José Serra (PSDB-SP), Jair Bolsonaro (PP) e outros políticos da oposição burguesa não apenas foram poupados, como muitos falaram nesses atos. Serra discursou em São Paulo, Aécio em Minas e Bolsonaro em Fortaleza.

Isso reafirma a necessidade que a classe trabalhadora tome em suas mãos a tarefa de botar fora esse governo pela via da sua própria mobilização e não pelo apoio ao impeachment e da entrega do governo ao Congresso, a Cunha, Renan Calheiros ou Aécio. Por isso, o PSTU vem defendendo que a classe trabalhadora não participe de atos chamados pelo PSDB, nem de manifestações de defesa do governo, como será o 20 de agosto. O PSTU defende a organização de uma manifestação contra o governo e essa oposição burguesa, que são os dois lados de uma mesma moeda quando o assunto é ajuste fiscal e corrupção.

O perfil dos atos do dia 16
Mais uma vez, os protestos tiveram uma maioria de classe média e classe média alta. Não eram raras manifestações de machismo, homofobia, anticomunismo e todo o preconceito arraigado nesse setor da população, além de pedidos da volta da ditadura militar, ainda que minoritária. No entanto, havia também um outro setor que, embora em minoria, escapava bem desse perfil e estava longe de ser insignificante. Eram estudantes protestando contra a situação da educação pública, desempregados, além de trabalhadores precarizados, como atendentes de telemarketing.

Estou aqui por causa do FIES”, disse uma senhora aposentada que protestava na Avenida Paulista ao lado do marido, engenheiro eletrônico. “Minha neta dependia do FIES pra fazer faculdade, e o governo cortou”, reclamou. “Vim aqui protestar contra esse governo, essa corrupção toda do PT, o que eles fizeram com o PIS“, disse à reportagem do site do PSTU uma atendente de telemarketing, que reclamou das demissões que estão ocorrendo no serviço. Estava acompanhada de uma inspetora de qualidade que afirmou que no trabalho “estava tudo parado“. Questionada sobre qual a saída para essa situação, respondeu: “Bolsonaro, pelo menos ele fala as coisas às claras“.

A fala expressa a confusão que predomina em amplos setores da classe que, indignados com a corrupção no governo Dilma e os efeitos de sua política econômica no dia-a-dia, não encontram referência no campo da esquerda para uma saída. Ao mesmo tempo, em uma rápida pesquisa com os participantes do ato em São Paulo sobre as alternativas ao governo Dilma, poucos responderam Aécio de pronto. Já Eduardo Cunha era amplamente rechaçado, ligado à corrupção “como o PT”. As respostas variavam de uma nova assembleia constituinte a “tirar todos que estão aí”.

Por que os atos foram menores?
A redução dos protestos contra o governo ocorre ao mesmo tempo em que Aécio e o PSDB fazem uma ofensiva para capitalizar essas mobilizações e o desgaste do PT. Antes, as manifestações eram organizadas por entidades e movimentos autodeclarados de direita como o “Vem Pra Rua” e o protofascistas “Revoltados”, financiadas e com apoio velado de partidos como o PSDB, mas sem o envolvimento explícito dos tucanos. Desta vez, o partido convocou diretamente as manifestações através de inserções na TV. Eduardo Cunha também tentou insuflar os protestos em sua guerra contra o governo. Isso pode ter ajudado a desidratar os atos, já que a bronca dos setores mobilizados também se volta, em parte, contra o PSDB e o Congresso Nacional.

Outro fator que provavelmente ajudou na redução dos protestos foi a orientação da mídia e da burguesia de manutenção da governabilidade, expressa no editorial do Globo, e nas notas divulgadas pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), na declaração do presidente do Bradesco, na notícia sobre as inúmeras reuniões que empresários, banqueiros e a rede Globo fizeram com o PT, Dilma e os aliados do PMDB, que resultou na “Agenda Brasil”.

Preocupados com o acirramento da crise política, que poderia ameaçar o ajuste fiscal, e uma eventual queda do governo, pesos pesados da burguesia chamam a “responsabilidade” o Congresso e o governo a fim de restaurar a estabilidade política e o prosseguimento do ajuste fiscal e toda a política econômica do governo. A Agenda Brasil de Dilma e Renan (que , ninguém se engane, tem também apoio do PSDB e Cia.) é um pacotaço contra os trabalhadores de dar inveja aos mais neoliberais e direitistas do planeta. O que só reafirma que esse governo não é de esquerda.

Colocar os trabalhadores em campo
Os protestos foram organizados, dirigidos e impulsionados por grupos liberais, pela oposição burguesa, e os deste domingo em especial, pelo PSDB e Cunha diretamente. Ao poupar Cunha e dar voz a Aécio, propõem tirar Dilma e dar o poder ao PSDB, ao presidente da Câmara ou ao vice Michel Temer, pela via do impeachment.

Mas, ao contrário do que tenta fazer parecer certa caricatura desenhada por setores ligados ao governo, os protestos contra Dilma e o PT não fazem parte de um “golpe” e nem são apenas o complô da classe média alta endinheirada e de direita contra um governo “de esquerda”.  Eles expressam também o desgaste e a ruptura com o governo de amplos setores da população, inclusive setores médios, que estão muito longe de serem “coxinhas”.

São setores da classe média que sofrem com a inflação, as contas das escolas dos filhos, dos planos de saúde, mas também trabalhadores precarizados, desempregados, bancários, professores indignados com a corrupção e, sobretudo, com a situação dos serviços públicos, em especial da educação. Pessoas que, desgraçadamente, ao não encontrarem referência na esquerda, caem nos braços do PSDB e servem como massa de manobra numa estratégia de desgaste eleitoral.

Não encontram referência no campo da esquerda porque, desgraçadamente também, as organizações que dirigem o grosso da classe trabalhadora, como a CUT, e organizações dos movimentos sociais, como o MST, e também o MTST, estão empenhados na defesa desse governo. Isso se expressa nos atos do próximo dia 20 que, embora contenha críticas ao governo em sua convocação, tem o objetivo principal de defender Dilma. Isso num momento em que o governo Dilma impõe um drástico ajuste fiscal e anuncia as medidas da “Agenda Brasil”, acordadas com o Senado e que preveem ataques como as terceirizações, reforma previdenciária, ataques às reservas indígenas e ao meio ambiente.

É essa situação que torna urgente a preparação, chamada pela CSP-Conlutas e outras organizações reunidas no Espaço Unidade de Ação, de uma mobilização para setembro, contra o governo Dilma, e contra Michel Temer, Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Aécio Neves.  Organizações sindicais, estudantis e dos movimentos sociais e populares, independentes do governo, se articulam para colocar o time dos trabalhadores em campo contra o governo e a sua política econômica, mas também contra a oposição burguesa e o Congresso Nacional corrupto liderado por Cunha. 

*Com reportagem na Av. Paulista

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