O discurso da presidente Dilma no dia 8 de março tinha um propósito: convencer as pessoas da necessidade do ajuste fiscal, diga-se, mais sacrifícios aos trabalhadores, como única forma de tirar o país da crise econômica.  Dirigindo-se às mulheres como “queridas iguais”, estendeu um apelo ao conjunto dos trabalhadores, para que confiassem no Congresso e tivessem paciência, pois seriam necessárias duras medidas aos trabalhadores e aos empresários.

O problema é que é mentira que os sacrifícios propostos por Dilma serão divididos igualmente entre todos, ou no caso das mulheres, entre trabalhadoras e burguesas.

Cortes atingirão mais as mulheres
A tal economia de R$18 bilhões pretendida com as medidas que cortam direitos previdenciários e trabalhistas, as Medidas Provisórias 664 e 665, vão sacrificar o conjunto dos trabalhadores, mas especialmente as mulheres mais exploradas e oprimidas, as que dependem em média de um salário mínimo para sobreviver, seja do seguro-desemprego, da pensão, ou do auxílio reclusão.

Os cortes no orçamento dos ministérios, no total de R$22,7 bilhões, também vão atingir as mulheres que necessitam das creches públicas, da saúde pública, enfim, das chamadas áreas sociais. Somente no Ministério da Educação serão “economizados” R$ 600 milhões por mês. A prometida “pátria educadora”, terá mais déficit de vagas em creches, mais crianças fora da escola, menos acesso e permanência nas universidades, enfim, a exclusão na educação aumentará.

Dilma quer economizar cerca de R$66 bilhões neste ano com todos os cortes que está fazendo. Será 1,2% do PIB, para incrementar o Superávit Primário (economia do governo para pagar juros da dívida). A única parte que caberia aos empresários, seria a diminuição da desoneração fiscal, mas a MP 669, acabou de ser devolvida pelo Renan Calheiros (PMDB), aliado de Dilma no Senado, e a Fiesp já disse que não vai aceitar nenhum aumento de impostos na conta dos empresários.

Sabemos que a corda vai arrebentar mesmo é nas costas dos trabalhadores e trabalhadoras. Além dos cortes nas áreas sociais e nos benefícios previdenciários, os trabalhadores estão sofrendo com o aumento das tarifas, dos alimentos e dos juros bancários.

Ajustar as contas do governo, na prática, significará mais sofrimento à classe trabalhadora, e em particular aos setores mais oprimidos e explorados da classe, como as mulheres, os negros e negras, os trabalhadores terceirizados e informais. O governo Dilma está preocupado em continuar atraindo investidores internacionais, quer a confiança dos mercados que exigem um Superávit Primário alto para assegurar a remuneração de seus investimentos. A austeridade de Dilma com os trabalhadores serve à generosidade da presidente com os bancos e o mercado financeiro, que tem seus lucros preservados e aumentados com a taxa de juros em 12,75%.

A crise do governo
Os problemas econômicos do Brasil não são conjunturais como afirmou Dilma em seu discurso. Em 12 anos de governo, o PT incentivou a exportação de commodities, beneficiando o agronegócio e a mineração. Também fez o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que beneficiou as grandes empreiteiras. Assim como continuou as privatizações através dos leilões, das parcerias e das concessões. Surfando em um ciclo de crescimento econômico, o primeiro governo de Dilma derramou muito dinheiro aos banqueiros, aos latifundiários, aos empreiteiros e às multinacionais, e para os trabalhadores foram distribuídas algumas migalhas, que agora, com as vacas magras, o capital exige que se corte.

Dilma e o PT governaram e continuam governando para os ricos e de acordo com os ditames dos países imperialistas. O pagamento dos serviços da dívida pública hoje consome cerca de 45% de todo o orçamento da União. Mas Dilma nem aventa a possibilidade de suspender o pagamento, pelo contrário, toda a política econômica é voltada para garantir a sua continuidade.

A crise do governo Dilma tem suas raízes no próprio modelo econômico aplicado pelo PT e na dependência do dinheiro dos grandes empresários para o financiamento de suas campanhas, assim como em toda política fisiológica da distribuição dos cargos públicos.

A insatisfação com o governo é generalizada, e a última pesquisa de popularidade aponta que Dilma perdeu apoio em todas as classes sociais, inclusive entre os que ganham até 2 salários mínimos.

A classe média alta raivosa, batendo panela de suas varandas gourmets, está brava porque está mais difícil viajar para o exterior e comprar os carros importados, mas não tem motivos pra querer tirar a Dilma, a não ser por pura ignorância, porque se o PSDB estivesse chefiando o executivo, estaria aplicando exatamente as mesmas medidas econômicas. É claro que o PSDB quer tirar proveito da crise, e vai torrar o governo o máximo que puder.

Quem tem motivos para bater as panelas no Brasil são os trabalhadores e trabalhadoras, aliás, panelas que estão ficando vazias com a alta dos preços dos alimentos. Dilma diz que a cada um será dado a carga que puder suportar, mas perguntamos: E uma mulher, chefe de família, mãe de 4 filhos, que não consegue colocar os menores na creche, que não consegue consulta médica no posto de saúde, que tem seu companheiro preso, que acabou de ser demitida de seu primeiro emprego com carteira assinada depois de um ano de trabalho e que foi ao INSS e eles disseram que ela não terá direito ao seguro desemprego. O que mais esta mulher deve suportar?

O discurso de Dilma não agrada a ninguém porque o mercado financeiro quer pagar pra ver se os cortes serão suficientes para eles, a classe média alta está com raiva porque com o dólar a 3 reais fica mais difícil comprar os importados. E os trabalhadores, estes sim, os únicos com reais motivos pra reclamar, não acreditam mais em um governo que mentiu nas eleições dizendo que não ia faltar comida na mesa e nem ia mexer em seus direitos.

É por isso que os trabalhadores não podem cair na lábia do PSDB oportunista, mas também não podem acreditar em um governo que está querendo jogar a carga pesada da crise em suas costas. É urgente a construção das lutas e das greves da classe trabalhadora. Os operários da Volks, da GM e do Comperj, os professores do Paraná e de Santa Catarina e o funcionalismo público federal, assim como as mulheres trabalhadoras que saíram as ruas no 8 de março estão dando o exemplo do que temos que fazer. Precisamos de um campo dos trabalhadores sem patrões e unificar todas as lutas rumo à construção da greve geral.

Feminicídio
Por último, Dilma terminou seu discurso falando da sanção à lei do feminicídio.  A tipificação do crime é reivindicada há muitos anos pelo movimento de mulheres e é extremamente necessária num país que tem uma epidemia de violência e assassinatos de mulheres. Contudo, é insuficiente, pois as mulheres transexuais não estão contempladas e além disso, sem os investimentos na proteção às mulheres vítimas de violência a lei não sairá do papel. Sobre isso, Dilma se calou em relação a construção das 27 casas da mulher brasileira prometidas no ano passado, e que foi entregue somente uma até o momento.

A violência contra a mulher é um problema complexo. As leis são importantes, mas somente uma legislação mais severa não resolve, exigimos que as mulheres sejam protegidas e que a violência seja prevenida. Para isso, Dilma poderia, ao invés de querer economizar 1,2% do PIB para o superávit fiscal, destinar este mesmo valor para salvar a vida das mulheres. Mas o seu compromisso não é com as mulheres trabalhadoras.