Afonso Martins, de Porto Alegre (RS)

A prisão do empresário de ônibus, Jacob Barata Filho, conhecido como “o Rei do Ônibus” no Rio de Janeiro, é uma constatação do que há muito tempo chamamos atenção sobre a máfia do transporte público. Na verdade, em todo o Brasil, tem muita barata e sujeira nesse esgoto, além de um gigantesco montante que desce ralo abaixo todos os dias e cai nos bolsos dos donos do transporte, em conluio com os governos, claro. Em Porto Alegre, desde as jornadas de junho de 2013, exigimos a abertura dos caixas do transporte público para que venha à tona a verdade sobre as receitas que, sem sombra de dúvida, são bem maiores que as despesas. No caso da Companhia Carris, empresa pública de transporte que recebe todos os dias cerca de 300 mil usuários, a pergunta fica sempre sem resposta: cadê o dinheiro da Carris?

O prefeito fanfarrão Marchezan (PSDB) tem vindo a público reiteradas vezes nos últimos dias falar da crise e déficit financeiro que a Cia Carris atravessa e tenta usar essa justificativa para uma possível privatização da empresa. Em seus discursos, e com o fiel apoio de algumas emissoras de comunicação, ele cita uma série de irregularidades e tenta com isso colocar a culpa nos trabalhadores e no sistema de transporte que, segundo ele, traz prejuízos aos empresários. Ao final, sempre deixa como proposta de solução a venda da Carris.

Pois bem, vamos aos fatos: Primeiro, em uma de suas entrevistas, o prefeito citou a questão dos diversos tipos de veículos que a empresa tem e que, por conta disso, a licitação por lei obrigatória traria prejuízos aos cofres municipais. Ora, a Carris sempre teve vários tipos de veículos e, num passado não muito distante, foi referência nacional em transportes.

Segundo, ele fala da questão do funcionalismo ser impedido de demissões por conta da estabilidade no emprego previsto em lei. Todos na Carris sabemos que os maiores excessos que trouxeram prejuízo financeiro a mesma não foi ocasionado por funcionários de carreira e sim por pessoas indicadas por critérios políticos e que, sem nada entenderem de transporte, tomaram decisões que levaram milhões da Cia para o ralo.

Terceiro, o prefeito fala de uma suposta organização que tem dentro da Carris impedindo assim qualquer iniciativa para recuperar a empresa. A Carris possui realmente ferramentas de defesa de seus funcionários como em qualquer outra empresa (CIPA, Comissão de funcionários e delegados sindicais) e que são extremamente atuantes na defesa dos trabalhadores. Talvez o desconforto do prefeito seja pela sua própria incapacidade e falta de iniciativas para gerenciar tal empresa. Se ele conhece apenas demissões como forma de resolver problemas (prática muito usada pelos gestores do seu partido) ele está realmente enganado!

Se com paralisação o prejuízo é grande, onde está o dinheiro quando não tem prejuízo?
Com as declarações do prefeito de que um dia apenas de paralisação causa um prejuízo de mais de quinhentos mil reais, é necessário que ele responda: onde está esse valor?

O prefeito fala ainda sobre as gratuidades e a questão da segunda passagem serem elementos de prejuízos financeiros aos empresários. O que ele não explica é: para onde está indo o pagamento dos mais de duzentos e cinquenta mil passageiros por dia que a Carris transporta diariamente sem gratuidade?

Não vemos Marchezan indignado com a retirada diária de tantos horários de ônibus por dia na cidade, o que causa um prejuízo enorme aos trabalhadores e trabalhadoras. O prefeito não expressa qualquer preocupação com a queda de qualidade do serviço da Carris. A preocupação dele é apenas com o chororô dos empresários que querem lucrar mais e mais!

O que o prefeito quer com essas alegações é engordar ainda mais o bolso dos empresários, como forma de retribuir o alto valor financeiro investido em sua campanha à prefeitura. É óbvio que depois de um vultuoso aporte financeiro na campanha do prefeito os empresários vão querer é botar as mãos no filé do transporte de Porto Alegre e o melhor filé para eles é a Cia Carris. Para que isso ocorra ele precisa passar a imagem para a sociedade de que a Carris é deficitária, que não dá lucros, e assim entregar de bandeja uma empresa centenária e que já foi referência no transporte nacional para as mãos dos empresários, e com o aval da população.

Em todos os setores do serviço público de Porto Alegre o que Marchezan faz é somente pensando no lucro dos empresários, em detrimento do bem-estar dos trabalhadores e da população que usa tais serviços.

Nós, trabalhadores e trabalhadoras, precisamos estar unidos para enfrentar este representante dos empresários e colocar ele e a corja que o acompanha para fora da prefeitura. A Carris já foi motivo de muito orgulho para nossa cidade, e por mais sucateamento que esteja sofrendo por parte da prefeitura com o único intuito de justificar sua privatização, tem condições sim de trabalhar com a perspectiva de um transporte 100% público e de qualidade.

Queremos respostas verdadeiras para as nossas reais perguntas: onde está o dinheiro da Carris, Marchezan?

– Por um transporte 100% público, estatal e de qualidade!

– Fora Marchezan e todos os corruptos!

Afonso é motorista da Cia Carris Porto Alegrense e militante do PSTU