Paralisações, greves e protestos acontecem em todo o país

Nosso time é dos trabalhadores em luta!

Faltando poucos dias para o início da Copa, diversas categorias se mobilizam em paralisações ou greve em todo o país. Uma onda de greves atinge as mais diversas categorias: servidores públicos federais, trabalhadores da educação de diversos municípios, operários, trabalhadores do transporte coletivo, da construção civil, da limpeza urbana e aeroportos. A luta por moradia também tem se ampliado desde junho, assim como a repressão da polícia ao movimento popular.
 
Há quase um ano, o país foi sacudido pelas mobilizações de junho. Desde então, os trabalhadores e a juventude não pararam de lutar.
 
A inflação corroí o poder de compra dos salários. O aluguel nas alturas consome boa parte do rendimento familiar, e o endividamento dos trabalhadores não para de crescer. Porém a vida dura de quem trabalha se choca com a enorme riqueza dos empresários e banqueiros e a farra com o dinheiro gasto na Copa. Esse é o cenário que envolve as greves e lutas que se espalham pelo país.
 
Apesar da ampla diversidade das categorias e suas pautas específicas, algo em comum em todas as lutas é o sentimento de que só a mobilização poderá conquistar vitórias.
 
Em muitos casos, as lutas começam com uma autêntica rebelião de base, o qual os trabalhadores saem na luta passando por cima dos sindicatos pelegos que ficam ao lado dos patrões. Confira abaixo o time dos trabalhadores que estão em luta.
 
1. Greve operária agita Cubatão
Cubatão, 5 de maio. Ao pé da grandiosa Serra do Mar, milhares de operários se concentram na refinaria Presidente Bernardes, da Petrobras. São trabalhadores da obra da nova unidade de diesel, petroleiros terceirizados e operários das empreiteiras instaladas no parque industrial da região. A multidão toma conta da avenida e não está para brincadeira: é hora de iniciar a greve geral da categoria.
 
Afinal, a proposta da patronal é uma provocação: 6% de aumento salarial, Participação no Lucros (PL) rebaixada e nenhuma melhora nas condições de trabalho. O sindicalista mal consegue terminar a leitura dos pontos, a indignação toma conta da massa. A proposta é rejeitada por unanimidade. Logo, o presidente do sindicato faz um alerta: “para iniciarmos a greve é preciso respeitar as 72 horas de aviso legal, assim estaremos protegidos no tribunal”. As vaias pipocam por todos os lados: os operários querem a greve imediatamente. “Desde quando o tribunal ficou do nosso lado? É greve já”, disse um trabalhador.
 
A revolta operária
Em 7 de maio, a greve chega ao seu terceiro dia e atinge cerca de 15 mil trabalhadores de 37 empreiteiras. Na Vale Fertilizantes, nenhum terceirizado compareceu ao trabalho. Nas demais petroquímicas (Anglo American, Petrocoque, Carbocloro etc.), o cenário é idêntico. A adesão espontânea e em massa à paralisação é generalizada.
 
Mas um fato chama atenção. Na refinaria, alguns pequenos grupos de pelegos e chefes conseguem furar o movimento. A multidão operária do lado de fora fica furiosa. Centenas de trabalhadores cercam as portas da unidade e exigem a retirada dos fura-greves. O clima esquenta. A massa vai invadir a refinaria? Apavorada com essa possibilidade, a direção da Petrobras fecha um acordo com o sindicato: nenhum terceirizado poderá entrar na empresa enquanto a greve for mantida. Assim, inusitadamente, a Petrobras se viu obrigada a “reforçar” o piquete do movimento.
 
Operários versus patrões
No dia 8, a patronal mantém a proposta e aposta no jogo duro. O tribunal do trabalho propõe 0,5% a mais de reajuste salarial. Novamente, os operários recusam a proposta e mantém a greve.
 
“Sem a gente nada funciona aí, o pessoal tá unido. Só não pode dar mole pra pelego. Vamos até o fim”, explica um operário com segurança e tranquilidade. Esse é o ânimo de homens e mulheres que constroem a riqueza do país. Querem apenas uma vida digna e estão dispostos a batalhar por isso. E sabem contra quem lutam: os patrões e seus “lambe-botas”.
 
A greve continua
Mais uma vez, a CSP-Conlutas e o PSTU estão presentes em solidariedade ativa ao movimento. No dia 12, a proposta da patronal foi novamente rejeitada e a greve continua por tempo indeterminado.
 
A batalha promete ser dura. Se os patrões se põem intransigentes na negociação, os trabalhadores se mostram firmes na greve. A peãozada quer a vitória, e não vai ser fácil derrotá-la.
 
2. Motoristas e cobradores
No dia 8 de maio, as cidades do Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC), Campinas (SP), municípios do Grande ABC (SP), Curitiba (PR) e Belém (PA) amanheceram com greves, paralisações ou protestos de motoristas e cobradores de ônibus.
 
No caso do Rio de Janeiro, a greve ocorreu contra a direção do sindicato pelego, que havia fechado um acordo com as empresas de ônibus sem consultar a categoria. A paralisação foi de 24 horas e atingiu cerca de 90% da frota dos 8.700 ônibus que circulam pela cidade cotidianamente.
 
Na pauta de reivindicações os grevistas exigem o fim da dupla função motorista-cobrador; salário de R$ 2.500 para os motoristas, R$ 1.400 para os cobradores e reajuste de 40% para demais funções; cesta básica de R$ 400 e jornada de trabalho de seis horas. A CSP-Conlutas está na greve dos rodoviários apoiando incondicionalmente sua luta.
 
A aliança da grande imprensa com os governos e o sindicato pelego tentaram desmoralizar a greve. Mas a população demonstrou apoio aos grevistas. Isso ocorre porque ninguém aguenta mais pagar R$ 3 por um serviço de péssima qualidade. Todos os dias, a população é refém de ônibus superlotados, que demoram horas para chegar aos pontos, e transportam os passageiros sem nenhuma segurança. São horas num trânsito infernal numa cidade em colapso.
 
Para solucionar a crise do transporte público, o PSTU defende o atendimento a todas as reivindicações dos trabalhadores rodoviários; a ampliação da frota de ônibus para melhor atender a população; a criação de novas linhas de ônibus para alcançar as áreas da cidade onde o serviço não chega; tarifa zero a toda população; estatização das empresas de ônibus sem nenhuma indenização à máfia do transporte.
 
3. Profissionais da educação
No Rio de Janeiro, os profissionais das redes públicas da educação estadual e municipal entraram em greve no último dia 12. As duas redes possuem 140 mil professores e funcionários. O piso do professor da rede municipal é de R$ 1.587. Os funcionários recebem de piso R$ 937. Na rede estadual, o professor recebe um piso de R$ 1.081 e o funcionário R$ 903. Os trabalhadores unificaram a pauta de reivindicações.
 
Em São Paulo, no dia 23 de abril os trabalhadores da educação do município entraram em greve por melhorias para a categoria. O governo Haddad (PT) segue a mesma política do Kassab e Serra. Destina verbas para a terceirização e convênios, paga a dívida pública e destina verbas para a Copa, mas diz que não há dinheiro para a educação.
 
A deliberação por greve saiu depois de inúmeras negociações sem acordo. Contrariando o compromisso assumido na greve do ano passado e desrespeitando os trabalhadores da educação, o governo apresenta uma proposta que desconsidera o conjunto da categoria, a carreira e os aposentados.
 
Após uma linda manifestação no dia 7 de maio que lotou a Avenida 23 de Maio, a categoria saiu mais fortalecida para as negociações, mostrando que a greve tem fôlego e que os educadores não permitirão o desmonte da educação pública.
 
Em Belo Horizonte, uma greve unificada dos profissionais da educação, servidores municipais, da administração, procuradoria e da limpeza urbana.
 
A reivindicação é por aumento de 15% nos salários. A prefeitura de Marcio Lacerda (PSB) ofereceu um reajuste de apenas 5,4%. Os trabalhadores rejeitaram a proposta e deflagraram a greve.
 
4.Servidores públicos federais
No último dia 7, a categoria realizou um bloqueio na sede do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e impediu que funcionários daquele órgão entrassem para trabalhar, inclusive o secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público, Sérgio Mendonça.
 
A força da mobilização obrigou o governo a convocar uma reunião com as categorias em greve, Fasubra e Sinasefe. Mendonça assumiu o compromisso de consultar as instâncias superiores para discutir a abertura de negociações até 22 de maio e apresentar uma resposta à categoria.
 
O protesto da categoria chegou a reunir aproximadamente 5 mil trabalhadores. “A força da mobilização obrigou o governo a chamar a negociação com as categorias em greve, pois percebeu que os servidores que vieram de todos os cantos do país para Brasília estão com disposição de luta. Isso fortalece a nossa campanha e impulsiona as mobilizações nas diversas categorias”, disse Paulo Barela, da CSP-Conlutas.
 
5. Movimento popular
No dia 8 de maio, em oito estados do país, ocorreram protestos por moradia. Em São Paulo, integrantes do MTST ocuparam sedes de três empreiteiras que participam da construção dos estádios. Dias antes, um terreno em Itaquera, próximo do estádio que vai abrigar a abertura da Copa, foi ocupado pelo movimento, formando a ocupação Copa do Povo.
 
Muitas ocupações estão enfrentando a mão dura da repressão lançada pelos governos. No dia 7, a Polícia Militar invadiu e reprimiu violentamente os moradores da Ocupação William Rosa, em Contagem (MG). As famílias foram surpreendidas com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, enquanto faziam uma assembleia.
 
A PM, comandada pelo governo de Antônio Anastasia (PSDB), não tinha mandado legal. Tampouco o prefeito de Contagem, Calin Moura (PCdoB) tomou qualquer atitude para impedir a repressão, muito menos atua para resolver o problema da falta de moradia na cidade.
 
Como saldo do terrorismo provocado pela PM, dois moradores foram presos e passaram a noite inteira na delegacia e só foram liberados no dia seguinte. O Luta Popular de MG já contabilizou dez moradores feridos por estilhaços de bombas, balas de borracha e agressões com cassetetes.
 
Em ano de Copa do Mundo, quando bilhões escoaram para as empreiteiras para a construção de estádios, quem apanha é quem não tem onde morar. Mas a luta por moradia continua e enfrenta as tentativas de criminalizar os movimentos sociais.

No dia 12, trabalhadores vão para o ataque
Em vários estados já ocorreram plenárias e encontros para organizar as manifestações do dia 12 de junho, data da abertura da Copa.

Um encontro nacional chamado pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa também definiu por realizar as manifestações neste dia em unidade com todos os setores dispostos a lutar.

Entre as categorias de trabalhadores também estão sendo alinhados os calendários de mobilização, tendo o dia 12 de junho como data de referência. É, por exemplo, o caso do Fórum dos Servidores Federais.

A CSP-Conlutas realizará a reunião de sua Coordenação Nacional no final de semana que antecede o dia 12 de junho. Até lá, a Central e suas entidades filiadas vão apoiar, unificar e fortalecer as mobilizações em curso, canalizando para o dia 12 de junho os atos e manifestações de rua, em particular a manifestação na cidade de São Paulo, que abre o torneio.

 

Colaboraram Gabriel Casoni, de Santos (SP), e Sebastião Carlos Cacau, de São Paulo (SP)