Redação

Temos um filme! Enfim, o filme.

Vi Logan e me emocionei. Uma estética que nenhum outro representante do gênero havia adotado nos cinemas. Talvez, nesse momento, nem todos tenham a exata dimensão do que isso representa, mas Logan é um marco. Dirigido por James Mangold, o filme apresenta uma narrativa seca e realista, que mistura drama e ação para contar uma história humana, superando qualquer outro episódio da franquia X-Men.

O longa-metragem marca a despedida de Hugh Jackman do papel que interpretou por 17 anos e prova que filmes de super heróis, mesmo sem sinais de desgaste, podem se reinventar e se tornar grandes, sem a necessidade de roupas coladas e coloridas. O próprio James Mangold destacou esse diferencial mais adulto da produção, que já é sucesso de público e crítica. “Eu não fiz um filme de super herói com parceiros coloridos que pudessem render bonequinhos ou camisetas. Eu fiz uma história de família. Logan não é um filme pra crianças”, disse o diretor em uma entrevista.

A história é muito levemente inspirada na clássica HQ Velho Logan, mas o suficiente para finalmente entregar o mutante de garras afiadas à sua essência. Apesar de não termos um futuro pós-apocalíptico, como nos quadrinhos, temos uma realidade meio distópica. Pelo menos para seu personagem principal, que vê o próprio mundo rolar ladeira abaixo, num cenário de depressão, abandono e dilemas acentuados. “Foi só com Logan que eu cheguei ao coração do Wolverine”, chegou a afirmar em outra entrevista o ator australiano que interpreta o protagonista pela nona e última vez.

Em 2029, Logan (Jackman) é um homem velho, ainda mais atormentado, já bastante estropiado pela vida, que divide o tempo entre o trabalho de motorista, seus próprios demônios e os cuidados com um doente professor Xavier (Patrick Stewart). Escondido na fronteira mexicana, Logan não é mais o Wolverine, os mutantes estão mortos e ele virou as costas para o que poderia fazer pelos outros e pelo mundo. Até que uma garotinha chamada Laura (Dafne Keen, a X-23), com poderes semelhantes aos dele, cruza seu caminho, perseguida por mercenários que trabalham para uma megacorporação.


Logan é mais sombrio e violento (como deve ser), portanto mais fiel aos quadrinhos. Só que o filme não é sobre isso. Os protagonistas têm superpoderes, mas a história é sobre problemas humanos. Dor, solidão, perda de fé no futuro. É também uma história sobre amor, paz e, principalmente, esperança. Aquilo que cada um de nós busca todos os dias, e que só é possível encontrar lutando ao lado dos nossos iguais.

Logan é um filme sobre como a coragem e a garra (ou as garras!) dos mais jovens podem inspirar os mais velhos a continuarem a luta. E como os mais velhos podem ensinar os mais jovens a saber a hora certa de bater. Algo que, talvez, só quem apanhou bastante esteja em melhores condições para dizer. Tudo isso, claro, marcado com sangue e “adamantium”, seja no corpo combalido de um velho que reaprende a sentir ou no rostinho furioso e lindo de uma criança que começa a sonhar.

Aqui, Hugh Jackman chegou ao auge de seu personagem, o público recebeu o Wolverine que esperava e Logan encontrou, finalmente, aquilo que tanto queria.

Possivelmente, veremos no cinema outro ator vivendo o mutante, mas Jackman será, para sempre, o Carcaju. E esse filme é a prova definitiva.

Por João Paulo da Silva, de Natal (RN)