Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU

Para nós, negros(as), LGBT’s e mulheres, que além de explorados somos marcados pelas opressões, há motivos de sobra para construirmos e participarmos da Greve Geral do dia 28.

É verdade que as reformas propostas pelo ex-vice de Dilma e seus aliados, para encher ainda mais os bolsos gananciosos e insaciáveis dos patrões, banqueiros e latifundiários, são violentos ataques contra todo o povo trabalhador. Mas, nos nossos casos, toda a história é inegavelmente pior já que, no geral, já somos a maioria dos terceirizados, dos que não têm registro em carteira, dos desempregados e daqueles e daquelas para os quais nunca houve direitos mínimos, o acesso à Previdência sempre foi uma ficção e mesmo as leis trabalhistas vigentes nunca foram respeitadas.

Pra nós LGBT’s, em particular, as criminosas reformas significam aprofundar e expandir uma situação que já é insustentável. A persistente invisibilização (lamentavelmente exemplificada pela enorme quantidade de LGBT’s nos serviços de telemarketing), a constante rotatividade e o asqueroso assédio moral, movidos pelo preconceito e discriminação, há muito têm jogado lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros para as margens ou para fora do mercado de trabalho.

No ano passado, uma pesquisa realizada pela Elancers constatou que 38% das empresas brasileiras não contratariam LGBT’s para cargos de chefia e 7% não contratariam, em hipótese nenhuma, porque não gostariam de “ter sua imagem associada à do funcionário” e, com isso, “perder clientes” ou ter sua “credibilidade abalada”.

Esses números, certamente, estão muito abaixo da realidade, como fica evidente em outra pesquisa (feita, em 2015, pela Consultoria Santo Caos) na qual 43% dos LGBT’s entrevistados afirmaram ter sofrido discriminação em função de sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho. Na mesma pesquisa, 13% disseram já ter tido dificuldade em conseguir emprego por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Em consequência disso, segundo dados obtidos pelo Center for Talent Innovation, em janeiro de 2016, 61% dos(as) trabalhadores(as) LGBT’s no Brasil dizem esconder sua orientação sexual ou identidade de gênero para os colegas e empregadores. E todos nós sabemos as complicações, sofrimentos e problemas que esse tipo de situação provoca.

E há de se dizer que, especificamente no caso de travestis, transexuais e transgêneros em geral, a perversidade da situação beira a barbárie. Desemprego, informalidade e completa e absoluta marginalização (para não falar dos assassinatos e de toda e qualquer forma de humilhações e agressões físicas e psicológicas) são as regras na vida destes homens e mulheres para as(os) quais praticamente não existe um mercado de trabalho.

Isso faz com que, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% delas(es) ainda estejam se prostituindo país afora e, mesmo quando apresentam bons currículos, acabam sendo rejeitados(as) nas entrevistas por não serem sequer compreendidas em seu autorreconhecimento.

Já para nós, negros, e particularmente negras, como disse para os meus alunos (sim, a sala de aula também é um espaço pra construir a greve), o que eles pretendem é resgatar uma situação semelhante àquilo que existia no período imediatamente pós-Lei Áurea. No caso da Previdência, em especial, as reformas propostas fedem a Lei do Sexagenário que institucionalizou o “direito póstumo”, já que o racismo genocida, o trabalho pesado e as péssimas condições de vida desde sempre significam que a morte venha antes da idade mínima para se ter acesso a um direito tão básico. Basta lembrar que, no Brasil, a expectativa de vida de negros(as), em média, chega a ser seis anos inferior em relação aos brancos(as).

E, para não me estender ainda mais, basta dizer que para as mulheres (e, novamente, com maior intensidade no caso das negras), as reformas significariam tudo acima, junto e misturado.

Por essas e tantas outras razões, no dia 28, é fundamental que LGBT’s, mulheres e negros(as) se juntem à Greve Geral e saiam às ruas, lado a lado com o conjunto da juventude e os(as) trabalhadores(as).

Contudo, se derrotar as Reformas é uma necessidade imediata, sabemos que só teremos direitos de fato quando os de baixo, aqueles e aquelas que realmente sabem a importância de se ter uma carteira assinada, um emprego garantido,o acesso à Previdência etc., estejam no poder.

Só poderemos fazer com que a LGBTfobia, o machismo e o racismo deixem de significar muros entre nós e os direitos básicos quando derrubarmos o capital que é cimento da ganância burguesa. Isso, só é possível na luta e em unidade com os demais trabalhadores e a juventude. A Greve Geral será um importante momento.

Então, LGBT’s, mulherada e povo preto, é hora de cruzar os braços e aquilombar as ruas!