Itaberli, a mãe e padrasto em foto tirada poucos dias antes do assassinato
Redação

Nesse início de ano, mais um crime bárbaro chocou e expôs a cruel violência que provoca a morte de LGBT’s todos os dias nesse país. No dia 11 de janeiro , a gerente de supermercado Tatiana Lozano Pereira foi presa acusada de assassinar seu próprio filho, Itaberli Lozano, de 17 anos, a facadas. O crime teria ocorrido no dia 29 de dezembro, mas o corpo do rapaz só foi encontrado no dia 7 de janeiro, carbonizado, num canavial na cidade de Cravinhos, interior de São Paulo.

Além da gerente, seu marido, o tratorista Alex Canteli Pereira, também foi preso. Ele teria ajudado a mulher a ocultar o cadáver do filho. Em sua versão, o crime teria ocorrido durante uma forte discussão provocada pelo “uso de drogas” e por Itaberli ter supostamente ameaçado o marido e o filho pequeno. Tatiana ainda reclamou que o filho “levava homens para dentro de casa“. Versão esta que foi sendo desconstruída com a revelação dos detalhes do crime, que trazem o verdadeiro motivo para o assassinato: LGBTfobia.

O tio de Itaberli declarou que a mãe não aceitava a homossexualidade do filho. A orientação sexual do rapaz era motivo de frequentes conflitos, o que o fez se mudar para a casa da avó dias antes do crime. No dia do assassinato, Tatiana teria ligado para Itaberli pedindo que voltasse para casa, numa simulação de reconciliação. Um crime premeditado, ainda mais com o aparecimento de dois jovens que teriam participado da execução.

Os dois homens, de 18 e 19 anos, foram contratados pela mãe da vítima para “dar um corretivo” no filho. Eles chegaram à casa de Itaberli no dia 29 e o espancaram, até que Tatiana pegou uma faca e o golpeou. Um assassinato não só premeditado, mas friamente planejado.

O incrível é que, apesar de todas as evidências, como o próprio testemunho do tio do rapaz, a polícia não trata o caso como homofobia.

2016: recorde no assassinato de LGBT
O caso choca pela brutalidade e expõe a dura realidade da população LGBT. Mostra ainda que o perigo não está apenas na rua, mas também dentro da própria casa. Nenhum lugar é seguro para um LBGT hoje no Brasil.

E a violência só cresce. Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), o ano de 2016 pode ter tido um recorde de assassinatos LGBTfóbicos no Brasil. O grupo elabora todos os anos o Relatório de Assassinatos de LBGT no Brasil e as primeiras estimativas apontam um total de 340 mortes. Mais de 20 casos a mais que em 2015, em que foram contabilizadas 318 mortes.

Embora esses números já sejam alarmantes, assim como ocorrem nos casos de feminicídio, são subnotificados. Os números reais são, com certeza, bem maiores.

A morte é o desfecho dramático para um problema que atravessa todos os aspectos da vida de um LGBT: de seu direito de andar livremente e expressar sua sexualidade, ao emprego e às condições de trabalho. A violência, física e psicológica, a discriminação e a falta de oportunidade relegam muitos à exclusão social. No caso das travestis e transexuais é ainda mais dramático, deixando como única opção a prostituição, o que os expõe ainda mais à violência e gera um verdadeiro ciclo de violência e morte.

E como sempre, as maiores vítimas são os jovens negros, segundo o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil da Secretaria Especial de Direitos Humanos, divulgado em 2016 com dados referentes a 2013 (acesse aqui) . Negros totalizam quase 40% das vítimas, contra 27,5% de brancos.

Criminalização da LGBTfobia já!
Por trás dos assassinatos de LGBT’s não está apenas quem puxa o gatilho ou empunha uma faca. Estão os que, cotidianamente, atuam para promover e perpetuar a LBGTfobia, utilizando-se, muitas vezes, sua posição e inserção na mídia. Estão os Bolsonaros, Felicianos e Malafaias, que instigam o ódio e a intolerância à população LBGT.

Não tem como não lembrar, ainda, do lamentável papel exercido pelo PT nos últimos anos. Do veto à cartilha anti-LGBTfobia, rifado pelo PT a favor de salvar o então ministro Palocci envolvido em corrupção, ao PLC 122, de criminalização da LGBTfobia, abandonado pelo partido a fim de compor as alianças que deram o segundo mandato a Dilma em 2014. Sem contar na “Carta ao Povo de Deus” e todas as alianças firmadas com os setores fundamentalistas.