Greve mostrou que a luta pela desmilitarização da polícia está na ordem do dia

Após seis dias de aquartelamento, os soldados, cabos, sargentos e subtenentes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros decidiram pôr fim à greve iniciada na última quinta-feira. Mesmo com todos os ataques, os praças conseguiram dobrar a intransigência do governo e chegar a um acordo em uma roda de negociação que durou mais de seis horas. Com a força do movimento, a greve arrancou o aumento de R$150 no vale-alimentação dos praças e a extensão do auxílio-fardamento (que antes era pago somente aos cabos e soldados) para sargentos e sub-tenentes. Uma comissão foi formada para estudar uma proposta de lei de remuneração dos praças equivalente a dos oficiais.

Nenhuma punição!
Outra importante conquista foi a não punição dos militares que participaram do movimento. Cerca de 40 praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros estavam sob ameaça de serem presos, acusados de infringir a legislação em vigor, com prática de motim e insubordinação. Caso fossem considerados culpados, poderiam ser presos por até 15 anos e serem expulsos da corporação.

Para o soldado da polícia militar Tércio Nogueira, a vitória é importante e só foi possível com a unidade que envolveu 20 batalhões em 15 municípios do estado. “O que nós fizemos foi quase uma revolução. Essa greve é para dizer que nunca mais o oficialato vai nos oprimir e que nós não aceitamos a arrogância desse governo“.

Já para o sargento do Corpo de Bombeiros, Haelton Costa, a greve foi uma resposta às históricas diferenças entre oficiais e praças que revoltaram àqueles que padecem de péssimas condições salariais e de trabalho. “É preciso entender que nós, militares, somos trabalhadores de segurança pública que há muito tempo estamos sendo discriminados. Inclusive dentro do quartel, onde o tratamento não é digno“, desabafou.


Entrada do quartel revela péssima estrutura

Fortalecer a luta por melhores condições de trabalho
O comandante do 6º batalhão de Polícia Militar, Almério Júnior, também foi afastado do cargo. Essa era, desde o início, pauta da greve já que o comandante era acusado de assédio moral na corporação e questionado por muitos sobre as reformas do quartel que já duram dois anos. “Estamos há dois anos sem alojamento adequado, sem corpo da guarda (recepção) digna, e banheiros decentes. Além disso, os assédios morais eram constantes.  Acho que demos o nosso recado de que não vamos mais aguentar tudo isso calados, então, espero que isso mude depois da greve“, reclamou uma policial que não quis se identificar. 

Greve mostra que desmilitarização da polícia está na ordem do dia!
A greve da PM no Pará reafirma o caos na segurança pública, fruto da política do governo Simão Jatene (PSDB), ao mesmo tempo em que serve de exemplo aos trabalhadores do estado e do país, assim como os garis do Rio de Janeiro, pois mostra que, com luta, há vitória.

Mas, principalmente, revela que o debate e a luta pela desmilitarização da polícia está na ordem do dia. Essa instituição – resquício da ditadura militar – não serve aos trabalhadores da segurança pública na medida em que impede a organização sindical, a conquista de liberdades democráticas. Tampouco serve aos demais trabalhadores e à população pobre e da periferia. Só com uma polícia civil unificada, controlada pela população, com eleição direta para os oficiais, garantindo direito à greve e voltada para a atuação comunitária poderá ter fim o caráter autoritário e repressor das polícias brasileiras.

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