Manifestação em Porto Alegre contra o aumento das passagens

Nos primeiros 100 dias de governo, prefeito da capital gaúcha reafirma seu compromisso com os empresários

Os dias de glória de Fortunati como um dos prefeitos mais votados das capitais foram consumidos rapidamente na chama dos protestos da juventude e dos trabalhadores. Ele havia anunciado que, desta vez, ao contrário da eleição anterior em que havia sido eleito apenas como vice, conseguiria impor mais claramente seu estilo de governar. E o fez desde início, mostrando as garras, já que tem pressa em executar as obras da Copa, transformando Porto Alegre numa cidade “padrão FIFA”, de acordo com as vontades do grande empresariado, setor social que Fortunati representa e que financiou sua campanha.

Diante das manifestações contra o aumento das passagens, Fortunati relembrou seu passado de luta contra a ditadura, as greves gerais, exigindo que os encapuzados mostrassem a cara. É simbólico que ele agora esteja do outro lado, ávido por punir e criminalizar os movimentos. Este, que foi um dos líderes da CUT e do PT, sendo demonizado por este partido quando migrou para o PDT, não foi mais que um precursor da trajetória à direita que o próprio PT faria. Por certo esse é o motivo que este partido não tem moral para criticar o modo de governar de Fortunati, aliado de Dilma, e do PDT, da base aliada do PT.

É cedo para dizer que Fortunati tenha perdido sua base popular, pois as obras da Copa são a marca desses meses e vêm acompanhadas de uma forte ofensiva de propaganda, que tenta fazer a grande massa da população crer que, de fato, a prefeitura está melhorando a vida na capital. Mas para todo um segmento da sociedade portoalegrense fica escancarado como este favorece os interesses privados na capital, seja das empresas de ônibus, os patrocinadores da Copa, os especuladores imobiliários, etc. Isso já começou no final de 2012, com a privatização dos espaços públicos, como o Largo Glênio Peres, que seria colocado à disposição da Pepsi, restringindo a realização de atividades culturais e feiras tradicionais de Porto Alegre. E também com o fechamento dos bares da Cidade Baixa, atacando as alternativas de lazer e cultura dos portoalegrenses, em benefício das grandes casas que serão preparadas para os turistas da Copa. Por isso, Fortunati quer realizar uma “limpeza social” das ruas por onde transitarão. Mas entrou em choque com a reação da juventude, através das manifestações da “Defesa Pública da Alegria”.

Prioridades

As prioridades de Fortunati já ficaram explícitas no fechamento do ano de 2012. Segundo o site Sul21, “dos 895 milhões autorizados na lei do orçamento para investimentos (dotação inicial mais suplementações) foram aplicados apenas 387 milhões, ou seja, 43% do previsto.“. Em saneamento, aplicou-se apenas 36% do previsto. Na educação, os gastos que deveria haver na ampliação e manutenção da rede escolar (fundamental e infantil), foram 30% do previsto. No DEMHAB (Departamento Municipal de Habitação), no PAC COPA, foi gasto menos de metade do previsto. Não faltou dinheiro, portanto. Mas a Prefeitura fechou com déficit. O próprio Fortunati explica: o dinheiro foi gasto para antecipar as obras da Copa, dado o atraso do repasse pela CEF. Ou seja, Fortunati fez caixa às custas dos gastos sociais para garantir as obras da Copa.

Benefícios para os cidadãos de Porto Alegre? Veja os planos do governo para a juventude durante a Copa: suspender a redução dos valores dos ingressos para os jogos. O foco são os lucros das empresas, os dólares e quem os possui. Tudo o mais deve ser removido da paisagem. Moradores são removidos, ou “indenizados” com valores com os quais terão que comprar casas ou apartamentos fora de Porto Alegre. São os cidadãos expulsos da cidade!

E por falar em paisagem, Fortunati prefere largas avenidas em vez de árvores, que, segundo ele, “não estão sendo usadas”. A preocupação com o meio-ambiente cai por terra, ainda mais com a recente prisão pela Polícia Federal do secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz Fernando Záchia, e outros que supostamente estão envolvidos em corrupção, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e crime ambiental através da venda da liberação de licenças ambientais.

Nesse quesito, crime e corrupção, este governo é a continuidade do anterior Fogaça/Fortunati. A ênfase na privatização e atendimento de interesses empresariais é o caldo de cultura para a relação promíscua do público e o privado, que já começa nas campanhas eleitorais. Lembremos que, na época em que José Fogaça era prefeito, quando o Programa de Saúde da Família (PSF) era gerido pelo Instituto Sollus, acusado de desviar mais de R$ 7 milhões dos cofres municipais. Fortunati prosseguiu no mesmo plano com a formação do IMESF – Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família, sob administração privada e sem concurso público para os trabalhadores, que não terão a qualificação adequada, receberão baixos salários e com alta rotatividade.

Mas a prova de fogo do governo ainda não chegou a seu final: é a batalha das passagens de ônibus. Aí estão condensados vários elementos da natureza do projeto de Fortunati, de que interesses defende e qual sua relação com os empresários e com os trabalhadores e a juventude. Aqui está nitidamente estabelecido o seu caráter de classe, a sua traição aos bancários e demais trabalhadores que cimentaram a primeira fase de sua carreira, e a sua reafirmação enquanto representante dos interesses da burguesia, muito mais do que a aparente representação dos 65% dos votos dos portoalegrenses.
 

Prefeito dos empresários do transporte

A desoneração da folha de pagamentos de determinados ramos como o setor de transportes é um verdadeiro crime que o governo Dilma está cometendo, mais renúncia fiscal em benefício dos capitalistas, para logo adiante acusar um rombo na previdência e fazer os trabalhadores pagarem a conta, através de uma nova reforma da previdência. Pois, mesmo com esse “benefício” que as empresas permissionárias do transporte coletivo de Porto Alegre passaram a desfrutar, Fortunati bancou um aumento de tarifa que a elevou a mais cara do país. Diante do impasse entre os interesses populares e os dos empresários, não vacilou um instante em defender esses últimos, sendo que nunca houve sequer licitação para a prestação desse serviço público.

Fortunati só recuou diante das manifestações crescentes, como há muito não se via em Porto Alegre.  Afirmou-se que o cancelamento do aumento foi um ato de coragem do juiz. É certo, mas quem deu coragem ao juiz foram os milhares de manifestantes que não tinham nenhuma disposição de sair das ruas enquanto não fosse revisto o aumento.

Agora, a associação das empresas, a ATP, chantageia e pretende derrubar a liminar. Dizem que se a passagem não aumentar, vão deixar de pagar tributos municipais. É uma arrogância enorme de quem nunca participou de uma licitação. Diante do fato de que agora haverá licitação, afirmam que a Carris tem que ser licitada (porque tem 0,01% de capital privado) e que as empresas devem ser indenizadas.

Diante dessa chantagem das empresas, a resposta tem que ser a estatização, e quem tem que indenizar são as empresas responsáveis pelo roubo todos esses anos e não o povo de Porto Alegre. Fortunati só se lembra do prejuízo público de algumas vidraças quebradas, nunca fala que os amigos empresários tem que devolver o que apropriaram indevidamente. As empresas que perderem licitação querem ser indenizadas. Nenhum centavo! O pagamento pela frota já está previsto na tarifa paga pelos trabalhadores e pela juventude, os verdadeiros donos dos ônibus de Porto Alegre!

Diante do ataque aos interesses do povo de Porto Alegre por esse governo privatista o PSTU exige:

 

● Não às desocupações das obras da Copa!
 
● Não à privatização dos espaços públicos, da saúde e da educação!
 
● Estatização do transporte coletivo, sob controle dos trabalhadores e da juventude!
 
● Mais opções de mobilidade para menos automóveis nas ruas!
 
● Por transporte público barato e de qualidade, com mais linhas, melhores ônibus, metrô e aeromóvel!
 
● Ciclovias de acordo com especificações discutidas com as associações de ciclistas!
 
● Não ao corte das árvores! Não ao autoritarismo sobre as questões de urbanização!
 
● Investigação e punição dos membros do governo e demais envolvidos com a máfia das licenças ambientais!
 
● Não a criminalização do movimento social!
 
● Porto Alegre para os trabalhadores e a juventude!