A greve no sistema Petrobrás completou 15 dias nesta quinta-feira, dia 12, com uma forte adesão dos petroleiros em todo o país. As reivindicações dos trabalhadores seguem sendo por um Acordo Coletivo de Trabalho com reajuste salarial sem retirada de direitos, bem como contra a venda de ativos e o plano de desinvestimento da empresa.

No dia de ontem, em negociação no Rio de Janeiro, a empresa apresentou uma proposta que prevê reajuste pela inflação de 9,53%, mas a proposta integral do acordo com todas as cláusulas ficou de ser apresentada somente hoje. A FNP orienta a manutenção da greve até que a empresa apresente a proposta oficial na íntegra e os trabalhadores possam analisar e discutir.

Segundo balanços que vêm sendo divulgados pela Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e Federação Única dos Petroleiros (FUP), o movimento está espalhado por todo o sistema, atingindo plataformas marítimas, refinarias, terminais, unidades de produção de biodiesel e termelétricas.

Pelos cálculos da própria Petrobrás, o impacto sobre a produção tem sido, em média, de 115 mil barris de petróleo por dia, superando a marca de 1,5 milhão de barris desde o início da paralisação.

É a maior greve petroleira dos últimos vinte anos. Os trabalhadores estão indignados com o desmonte que a direção da empresa e o governo Dilma (PT) estão tentando impor à Petrobras. Sabem que os ataques aos direitos na proposta desta Campanha Salarial visam o rebaixamento do Acordo Coletivo, que juntamente com o Plano de Desinvestimentos é o avanço na privatização da estatal.

O Blog PSTU Vale tem acompanhado a greve na Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos, e entrevistou o petroleiro Lúcio (*), que está há quase 10 anos na empresa e é técnico de operação, para saber sua opinião sobre essa histórica mobilização.

Blog PSTU Vale: Qual sua opinião sobre essa greve que já chegou ao 15º dia e é considerada a maior desde 95?
Lúcio * –
O movimento está forte. Os companheiros mais antigos fazem comparações com a famosa greve de 95 e o que eu posso afirmar é que desde trabalho aqui é mesmo a maior mobilização.

Blog PSTU Vale: Como você avalia as propostas da Petrobras para o ACT e o plano de negócios?
Lúcio *
– Na minha visão e na opinião da maioria dos trabalhadores as propostas que a Petrobrás apresentou nesta campanha fazem parte de um plano para iniciar o processo de privatização. Roubaram a empresa, agora alegam uma crise e querem que a gente pague a conta. A venda de ativos é a entrega de patrimônios lucrativos, para a iniciativa privada.

Blog PSTU Vale: Como está a pressão da Petrobrás sobre os trabalhadores?
Lúcio * –
Não só no início da greve, mas antes, quando começaram os cortes de rendição como forma de advertência, a empresa tentou através de diversas formas acabar com o movimento aqui na Revap. Foram ligações, mensagens por Whatsapp, ameaças, perseguições. Mas buscamos informações e sabemos que a greve é um direito e qualquer coisa que ela faça é ilegal. Essa postura da empresa é, inclusive, perigosa, pois ao forçar os funcionários a trabalharem acima de limites razoáveis, com equipes incompletas e apenas de contingência, coloca em risco a segurança dos trabalhadores e da comunidade.

Blog PSTU Vale: Como está sendo a organização da greve?
Lúcio *
– Os trabalhadores estão participando da decisão junto com a diretoria do Sindicato, através de um comando de greve. Os trabalhadores estão se organizando mesmo, participando das reuniões e assembleias. Não só os que fazem parte da diretoria do sindicato, como acontecia antes. Vários trabalhadores já estão ajudando nos piquetes, na formulação de processos do jurídico e nos materiais de comunicação do Sindicato.

Blog PSTU Vale: Como você vê as ofensivas de privatização contra a empresa?
Lúcio *
– Esse ataque, se concretizado, vai refletir não só na qualidade de vida dos trabalhadores da empresa como também da sociedade. Acredito que o petróleo deve ser usado com finalidade social, para benefício dos brasileiros.

Blog PSTU Vale: Que saída você vê para a crise da Petrobras?
Lúcio *
– É preciso impedir a venda e a destruição da empresa. Seja o plano de desinvestimento apresentado recentemente ou projetos, como do Serra, que privatizam o pré-sal. É preciso criar mecanismos de combate à corrupção, garantir a primeirização de todos os serviços e a estatização integral da Petrobras.

* Lúcio é um nome fictício por motivos de segurança do trabalhador

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