Está marcado para o dia 21 de outubro o leilão do campo de Libra. O governo Dilma diz que só com essa venda e os pagamentos dos royalties do petróleo será possível garantir os recursos necessários ao investimento de 10% do PIB na Educação, e argumenta que essa forma de leilão não é privatização.
 
Entretanto, a situação não é exatamente como gostaria de pintar o governo. O leilão é uma forma de entregar nossas reservas naturais às multinacionais, e é preciso que se diga que, apesar de toda a campanha política contra as privatizações na época das eleições, os governos do PT já entregaram mais do nosso petróleo do que o governo FHC e, agora, avançam para entregar o Pré-sal.
 
Por isso, o PSTU está na campanha contra o leilão do campo de Libra, junto com a CSP-Conlutas e as demais centrais sindicais. Os sindicatos dos petroleiros de todo o país também estão organizando manifestações e paralisações durante todo o mês de outubro.
 
Entrevistamos Antônio Ribeiro Duarte, trabalhador da Petrobras desde 1979. Ele foi um dos fundadores do Sindipetro-SP e participou de todas as lutas da categoria. Atualmente, trabalha no Terminal de Barueri e milita na oposição “A Base Presente”, construindo a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). Duarte é também militante do PSTU.
 
PSTU ABC – Por que os petroleiros estão na campanha contra o leilão do Campo de Libra?
Duarte – Na verdade, estamos contra toda forma de privatização. É que o governo Dilma assim como o de Lula, usou expressões diferentes que dizem a mesma coisa, tipo leilão, concessão, parceria público-privada etc. Mas em relação ao Campo de Libra, é um roubo que ninguém que tenha um pouco de conhecimento pode concordar, pois trata-se da entrega do maior campo de Petróleo, que tem uma reserva comprovada de mais ou menos 15 bilhões de barris, tudo que a Petrobras produziu em sua história de 60 anos.
 
A Petrobrás, hoje, possui cerca de 70 mil trabalhadores contratados por ela e mais de 300 mil terceirizados. Como chegou a esse ponto e quais as consequências disso para os trabalhadores e para a população brasileira?
Duarte – Os números exatos não temos no momento mas no governo Dilma já chega a 360 mil trabalhadores terceirizados , para mais ou menos 83 mil trabalhadores direto na holding. Chegou-se a este ponto por uma política neoliberal que iniciou-se com Fernando Collor e só vem aumentando em cada governo FHC, Lula e Dilma e, como consequência, há um aumento da precarização do trabalho, diminuição dos salários, maiores dificuldades para organização sindical, há inclusive empresas terceirizadas que ficam três meses sem pagar os salários dos trabalhadores. Com isso, há um aumento de lucro da Petrobras e aumento de rendimentos dos acionistas, que já é uma outra face da política neoliberal.
 
Qual você entende que deveria ser o modelo de exploração de petróleo adotado pelo Brasil?
Duarte – Primeiro é preciso que se diga que nós não temos necessidade de explorar o petróleo do Pré-sal, apesar de os trabalhadores da Petrobras terem desenvolvido tecnologia para se retirar petróleo baixo de sete mil metros abaixo do nível do mar. Mas a melhor maneira de explorar as riquezas minerais é com uma empresa 100% estatal, para atender às necessidades dos trabalhadores brasileiros, baixando os custos dos derivados e não seguindo a lógica do mercado, que na verdade existe uma armadilha armada pelo mercado contra a Petrobras e o Brasil. Seguindo esta lógica hoje existe o endividamento exagerado e desnecessário da Petrobras. Inclusive a Petrobras passa por duas políticas se combinam, um o Procop, que é plano de redução, de custo que significa corte de conquistas e redução de salário, e a outra política é desinvestimentos, que significa colocar os ativos a disposição desfazendo inicialmente dos campos terrestre maduros a favor da iniciativa privada. Enfim, nós teríamos que administrar nossas reservas, em primeiro lugar não explorar petróleo para exportar ele cru, e sim exportar derivados, produtos químicos que agregariam valor, desenvolveriam a indústria nacional e criariam empregos, seriam outras lógicas totalmente opostas às políticas que vem sendo aplicadas.
 
Voltando ao leilão do Campo de Libra, o governo argumenta que a venda trará bilhões de reais em recurso para o Brasil. Mas a Petrobras tem algum estudo que aborda qual pode ser o lucro dos compradores com o Pré-sal?
Duarte – A única razão para o governo leiloar Libra é uma imposição do mercado, primeiro para entregar um ativo, que os banqueiros especulam, e segundo é para cumprir as metas do FMI de superávit fiscal, ou seja o que o governo arrecadar só vai entrar contabilmente, e depois devolvido aos próprios banqueiros, os mesmo que financiam as campanhas eleitorais destes governos submissos ao mercado. Para se ter ideia do lucro cada barril do Campo de Libra estará sendo vendido por um dólar, enquanto o barril está em torno de 120 dólares. De acordo com o Relatório da Petrobras de 2012, o custo médio de produção em 2012, foi de 13,92 dólares por barril. Considerando este custo para produzir toda a reserva de 100 bilhões de barris, gastaríamos 1,3 trilhão de dólares e arrecadaríamos 9 trilhões de dólares, portanto, renderia um excedente de riqueza equivalente a 7,7 trilhões de dólares.
 
Fazendo estas contas anualmente, em valores de 2012, teríamos uma produção de 2 bilhões de barris a 100 dólares dá 200 bilhões de dólares. O custo de produção é, mais ou menos, de 28 bilhões de dólares.
 
Teríamos, portanto, um excedente anual de 172 bilhões de dólares, dinheiro suficiente para garantir os investimentos na Petrobras e ainda sobrar para um plano de desenvolvimento econômico do Brasil.
 
Quais atividades estão sendo planejadas na campanha contra o leilão de Libra? Como as pessoas podem se envolver na campanha?
Duarte – Primeiro, já foi feita uma greve de 24 horas no dia 3 de outubro, aniversário de 60 anos da Petrobras, com atos e manifestações. Para amanhã, dia 17 está marcada uma greve por tempo indeterminado, que combina duas questões. Uma é o leilão de Libra, e outra é nossa campanha salarial, pois, desde agosto, foi entregue nossa pauta de reivindicações, e a direção da empresa vem enrolando. Nós temos a mesma data base de bancários, Correios e outras categorias como metalúrgicos do ABC, mas não houve uma coordenação da CUT, a principal central sindical, para unificar estas categorias, que poderia ser uma força enorme de tivessem unificadas, mas as direções não querem.
 
Você acha que é possível impedir o leilão?
Duarte – Eu faço uma analogia ao futebol. É possível sim, apesar de estarmos nos minutos finais, é possível virar este jogo. Nosso time, os trabalhadores, são bons, e estamos com a torcida a nosso favor, a conjuntura. Só há um problema: o nosso técnico, as direções, pelo que parece, não quer ganhar o jogo, fica com uma tática recuada, parece aquele técnico que já tem contrato pré-assinado com o outro time, governo e empresários. Se nós formos capaz de ir pra cima com força, é possível virar o jogo. Pra isso, ou nosso técnico rasga o contrato com o outro time, ou mudamos de técnico. Aí podemos ser vencedores nas duas coisas: termos aumento real no nosso salário e derrotarmos o governo no leilão de Libra.
 
Você gostaria de falar algo mais sobre o que ainda não comentamos aqui?
Duarte – Sim, sou de uma categoria que construiu duas principais organizações da nossa classe, a CUT e o PT, e durante muito tempo essa categoria apostou e teve esperança em um governo do PT. Este momento chegou e, infelizmente, a categoria viu suas esperanças se esvaírem como fumaça. Tanto o governo Dilma quanto o de Lula foram governos dos banqueiros, empresários. Não foram governos para os trabalhadores. É só ver esse leilão de Dilma. Deixou FHC no chinelo, está entregando muito mais que FHC. Este balanço está em andamento na categoria. Só para se ter uma ideia, estes dias, quando estávamos distribuindo o Boletim da Oposição Base Presente na porta da Refinaria de Capuava (Mauá), um dirigente sindical da CUT questionou como faríamos para entregar gás de cozinha de graça para os trabalhadores brasileiros. Respondemos que é possível, é só seguir outra política, pois é um erro ancorar o preço interno ao preço internacional, sujeito à especulação.
 
Desde da criação da URV por FHC os preços de combustível, aço e alimentos no Brasil estão dolarizados. É possível vender a gasolina a R$ 1, é possível vender diesel a R$ 1, é possível que aquilo que é produzido pelos trabalhadores brasileiros seja utilizado pelos brasileiros, mas para isto é preciso romper com FMI, com o consenso de Washington, enfrentar as distribuidoras. E isto, ao que me parece, este e outros governos não estão dispostos a fazer. Eles já escolheram um lado. Isto tudo é possível somente com um país independente, e, infelizmente, o Brasil não é. Cabe a nós, trabalhadores, fazermos esta independência, rompendo com o mercado e mostrando aos demais trabalhadores do mundo que é possível ousar para melhorar nossas vidas.