É difícil escolher um caminho e até saber que veículos, equipamentos ou ferramentas vai precisar se você não sabe onde está.

Também na luta para mudar o país e o mundo é preciso saber onde estamos e sabermos para onde queremos ir para podermos escolher o caminho. É preciso ter uma visão nítida dos acontecimentos sociais e um objetivo definido a alcançar para escolher os caminhos a seguir e as tarefas a cumprir.

A explicação de que o impeachment da Dilma foi um golpe provoca desorientação. Quem acha isso está perdido e vai apontar tarefas equivocadas para a classe trabalhadora.

Seus defensores afirmam que há uma onda reacionária no país, protagonizada pela classe média ante uma classe trabalhadora também reacionária ou no mínimo apática. Acham que o impeachment é produto da força da burguesia e da fraqueza do proletariado, que teria sofrido uma derrota. O resultado seria que depois do impeachment a burguesia teria um governo mais forte, com maior capacidade de repressão e de governabilidade, e uma classe trabalhadora e uma juventude de cabeça baixa, submissa e em situação de refluxo das lutas. Enfim, derrotada!

Uma situação dessas impõe à classe tarefas de resistência bastante tímidas e objetivos bem limitados. A tarefa seria derrubar uma ditadura para restabelecer o regime político atual: a democracia dos ricos que temos hoje, ou até, reempossar o governo Dilma.

Em direito não se mexe! Não tem arrego!
Não houve golpe nenhum. Dilma caiu porque retirou direitos dos trabalhadores para favorecer banqueiros e empresários. Atacou o seguro-desemprego e o abono do PIS, anunciou uma nova reforma da Previdência (como a que Temer quer fazer). Enfim,depois de dizer que não mexeria em direitos “nem que a vaca tussa”, praticou um verdadeiro estelionato eleitoral nos 54 milhões de votos que ela e Temer tiveram, e com isso sua base social virou pó.

O impeachment, assim, representou, de forma distorcida, uma parte do que a classe operária e a maioria da classe trabalhadora primeiramente queriam: Fora Dilma! A burguesia e o imperialismo não queriam que Dilma caísse, muito pelo contrário. Só passaram a considerar a alternativa Temer, aí sim como um “mal menor”, quando perceberam que Dilma já não tinha mínimas condições de governabilidade.

O impeachment nunca foi solução, porque esse Congresso Nacional corrupto daria posse ao Temer, o vice, para continuar de forma piorada os ataques que o governo da Dilma começou. Não bastava tirar Dilma, era e é preciso tirar todos eles de lá: Temer, Cunha e esse Congresso! Porque todos eles defendem governar para os ricos contra a classe.

A classe trabalhadora, porém, nunca quis Temer, Cunha ou esse Congresso corrupto, menos ainda ajuste fiscal.  A ampla maioria quer eleições já porque não quer nenhum deles, muito menos Temer.

O impeachment não significou uma derrota dos trabalhadores, menos ainda um “golpe”. Pelo contrário, produziu um governo ainda mais frágil e abriu as porteiras para a ampliação das lutas da classe operária, dos trabalhadores, da juventude, dos negros, das mulheres trabalhadoras, das LGBT’s. Isso é o que estamos assistindo agora.

Greve Geral: Unidade para derrubar Temer e as reformas
É possível e necessário derrubar Temer e impedir que mexam nos nossos direitos.

Temer anunciou a reforma da Previdência para o fim do mês. Vamos construir uma Greve Geral e parar o país. E também massificar atos que sejam pelo “Fora Temer” e contra qualquer ataque à aposentadoria, aos direitos trabalhistas, à educação e à saúde.

Para derrubar esse governo é preciso que a classe trabalhadora em peso pare a produção, a circulação e a distribuição de mercadorias. Mas a classe trabalhadora não vai se mexer em defesa da Dilma ou contra o golpe.

Nós do PSTU defendemos como objetivo colocar “Fora Temer! Fora Todos eles!”. Impedir a retirada de qualquer direito e lutar por um governo socialista dos trabalhadores, formado por conselhos populares. Defendemos de imediato eleições gerais, com novas regras, enquanto não temos os conselhos porque isso é o mínimo a que tem direito os trabalhadores e o povo que não querem nem Dilma e nem Temer.

O PT (que sabe que não teve golpe) quer na verdade buscar se recompor através da conformação de uma “frente ampla”, visando as eleições de 2018. A tese do golpe serve para em nome da “defesa da democracia” reunir em torno de uma candidatura comum boa parte da esquerda e de partidos burgueses, como PDT e outros, além de figuras como Kátia Abreu.

A maior parte do PSOL, ao advogar a tese do golpe, também tem um projeto que não vai além da defesa dessa democracia dos ricos que existe aí.

Mesmo com objetivos estratégicos diferentes, podemos fazer unidade nesse momento para botar Fora Temer e impedir as reformas. Mas para que a classe trabalhadora entre em peso nessa luta não podemos ter como objetivo das manifestações essa conversa de “golpe”, temos que colocar a luta contra o governo Temer em primeiro lugar e avançar rumo a uma Greve Geral.