A lesbofobia é uma combinação entre as ideologias burguesas do machismo e da homofobia, produzindo uma carga especialmente dura na vida das mulheres que sentem atração por outras mulheres. Essa opressão se expressa desde formas “sutis”, como as “piadinhas” que ridicularizam a homossexualidade, até formas explicitamente violentas, como os assassinatos.

Um dos aspectos da lesbofobia que queremos deixar visível neste 29 de agosto é o da objetificação sexual. Isso é uma ideologia que afirma as mulheres lésbicas e bissexuais como objetos, inferiores, a serviço do prazer masculino. Essa ideologia tem uma relação profunda com a indústria pornográfica, e tem efeitos concretos em nossas vidas, como demonstram os inúmeros casos de assédio e estupro.

A opressão e a indústria pornográfica
A indústria pornográfica tem crescido substancialmente com a expansão dos meios virtuais, e sua influência na sociedade capitalista contemporânea não deve ser subestimada.

Segundo os dados divulgados pelo site de vídeos pornográficos Pornhub, são 75 milhões de visitantes que o site recebe diariamente, e 22 milhões de usuários registrados [1]. Levando em consideração que esse é apenas um dos inúmeros sites de conteúdo pornográfico, é perceptível que essa é uma indústria com influência de massas.

Dentro dessa indústria, a objetificação lésbica tem uma popularidade notória. Entre as “categorias” de vídeo mais buscadas e assistidas no site citado, lésbica toma o primeiro lugar [2]. Isso significa uma audiência massiva para vídeos que demonstram de forma desumanizada a sexualidade lésbica, voltados para um público majoritariamente masculino e heterossexual, em uma performance feita por mulheres vítimas de abusos brutais. A violência é tanta que uma simples busca no google revela milhares de vídeos com título “estupro de lésbica”.

Outras “categorias” famosas dignas de destaque são a teen (adolescente) e ebony (termo usado para vídeos retratando homens ou mulheres negras), respectivamente em quarto e sexto lugar no ranking de mais assistidos. Essas expressam um interesse do público por mulheres extremamente jovens e infantilizadas, e por representações racistas, nas quais homens e mulheres negras são retratados de forma visivelmente animalizada, reforçando a ideologia de que as mulheres negras são promíscuas.

A partir dos dados anteriormente citados é possível fazer mais uma observação interessante. O Brasil, o país que mais mata LGBT’s, em especial travestis, tem lésbica como a “categoria” mais popular, e busca pelo termo shemale (nome pejorativo utilizado para se referir a travestis) 89% mais do que o resto do mundo[3]. Já a Rússia, conhecida mundialmente por suas leis e repressão homofóbicas, tem lésbica como oitava “categoria” mais popular, e busca pelo termo shemale 38% mais que a média mundial.

Longe de ser uma representação realista e inofensiva de prazer sexual entre adultos que consentiram, como afirmam os setores neoliberais e pós-modernos, a pornografia no capitalismo anda sempre lado a lado com a violência. Basta dizer que ela é diretamente responsável por incontáveis abusos das mulheres que aparecem nos vídeos, se utilizando da coerção, ameaça e força para arrastá-las para a indústria e forçando-as a se submeter a atos não consentidos, em verdadeiras sessões de tortura, repetidamente. Essas imagens de atos degradantes e violência brutal são depois vendidas para as massas, ensinando a confundir o sofrimento feminino com prazer, e não há nada de libertador nisso.

A indústria pornográfica, dessa forma, é ao mesmo tempo uma expressão do nível de barbárie machista e lesbofóbica ao qual estamos chegando, quanto um poderoso mecanismo de disseminação ideológica a serviço de reforçar essas ideologias opressoras. Esse é um negócio extremamente lucrativo. Segundo uma citação da nbcnews, a exploração e degradação das mulheres, em especial lésbicas e negras, rende aos burgueses da pornografia 97 bilhões de dólares mundialmente, sendo de 10 a 12 bilhões dos Estados Unidos [5].

Violência invisibilizada
A visão da sexualidade lésbica como um fetiche a serviço dos homens tem consequências extremamente concretas e violentas: o assédio sexual e os estupros. No caso das mulheres bissexuais, isso é reforçado pela ideia de que pessoas bi são promíscuas.

Os assédios tomam diversas formas. Vão desde os comentários sexuais invasivos quando expressamos afetividade com nossas companheiras em público, a insistência em avanços sexuais depois que os rejeitamos, até o assédio físico.

A parte mais dura dessa realidade são os estupros. Esses constituem uma situação de barbárie para as mulheres em geral, e assumem um caráter ainda mais cruel para as lésbicas: o de “estupro corretivo”. Isso é, estupros com o objetivo de “corrigir” a homossexualidade. Um caso recentemente divulgado desse crime foi por parte de um pastor, em 2015, contra uma jovem de 18 anos em Pernambuco. Segundo o relato da vítima, o pastor disse que a violentava para ela “aprender a gostar de homem“. O agressor chegou a ser preso em julho de 2017, mas graças a uma liminar judicial foi solto dia 2 de agosto, e hoje não sofre consequências por seu crime [6]. A impunidade não é exclusividade desse caso.

Essa forma de violência contra mulheres homossexuais é tão invisibilizada que é difícil encontrar estatísticas ou dados precisos. Hoje a homofobia não é criminalizada, o que faz com que os crimes com motivação homofóbica não sejam enquadrados como tal, além dos casos que nem chegam a ser denunciados. Essa é mais uma expressão do descaso com as nossas vidas, que não nos permite nem mesmo conhecer a dimensão da violência que sofremos.

Levantar a luta contra a objetificação e os estupros
O capitalismo não têm nenhum interesse em mudar essa realidade das mulheres lésbicas. A incorporação de personagens lésbicas na mídia e nas campanhas publicitárias podem dar a impressão de que nossa vida está melhorando, mas uma olhada nas estatísticas de homicídios e estupros, ou nos sites pornográficos, demonstra que não é assim. Além de tudo, as agressões que sofremos e as ideologias que nos desumanizam se perpetuam com total conivência de todos os governos burgueses.

Nesse dia da Visibilidade Lésbica, assim como em todos os outros, devemos nos levantar contra o machismo, a LGBTfobia e o racismo, ao lado dos trabalhadores, para construir um novo tipo de sociedade onde nenhum ser humano seja tratado como objeto.

[1] e [2] https://www.pornhub.com/insights/10-years
[3] https://www.pornhub.com/insights/redtube-brazil
[4] https://www.pornhub.com/insights/russia
[5]https://www.nbcnews.com/business/business-news/things-are-looking-americas-porn-industry-n289431
[6]http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2017-08-05/pastor-estupro-lesbica.html