“Desvelando a Transexualidade” é uma série de artigos sobre transexualidade nos mais variados aspectos. Este é o quinto artigo

Leia o 1º artigo: Recortes, conceitos e diferenciação entre as travestis e as mulheres transexuais

Leia o 2º artigo: A transexualidade aos olhos da Medicina e da Psiquiatria

Leia o 3º artigo: Retificação do nome e direito ao nome social

Leia o 4º artigo: A transfobia mata

O não-lugar no mercado de trabalho
De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e outras organizações de travestis e transexuais, o preconceito no trabalho é tanto que a porcentagem de pessoas trans que precisa se prostituir para sobreviver é de cerca de 95%. Novamente a hipocrisia é tremenda, pois somos o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, que não aceita dar oportunidades de trabalho para essas mulheres no mercado formal, mas que paga por seus serviços sexuais na calada da noite.

Há raras exceções de empregos precarizados, como telemarketing (onde não se vê quem está do outro lado da linha) ou salões de beleza. É raríssimo encontrar professoras, médicas, advogadas etc. que sejam trans. Até mesmo no comércio, em que os donos dos estabelecimentos querem passar uma determinada imagem de seus produtos e de seu atendimento, não servem as pessoas trans, porque são estigmatizadas.

Prostituição: o único caminho

Já nas ruas escuras do nosso mundo hipócrita, elas podem estar a serviço do lucro dos cafetões e cafetinas, expostas a todo tipo de violência e relações marginais, realizando um dos trabalhos mais opressivos que se criou: a prostituição. Afinal, a pessoa que se prostituiu não presta um serviço ou vende sua força de trabalho com direitos regulamentados. Ela vende a si mesma, sem garantia de nada, correndo o risco de ser espancada e morta, lembrando que, segundo a Rede Trans Brasil, 50,6% das vítimas são profissionais do sexo, e, em cada 24 homicídios, o assassino era cliente da pessoa trans.

Há pouco tempo, diante de grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, quiseram aprovar a Lei Gabriela Leite que legalizaria a prostituição. Infelizmente, a defesa e a proteção daquelas/es que se prostituem não passa por essa iniciativa nefasta, que aprofunda as relações de desigualdade de identidade de gênero, de raça e de classe social. É assim porque regulamentaria, na realidade, a cafetinagem, permitindo que 50% do valor do serviço prestado pudesse ser apropriado por quem agenciasse as pessoas travestis/trans e que, além de outros motivos, negaria a possibilidade de estupro, o qual seria entendido como negação da oferta do serviço e estimulando o que há de mais degenerado no que toca às relações humanas, transformando pessoas em mercadoria.

Ainda sobre a assimilação pelo capitalismo, há todo um mercado de adequação ao corpo e auto-tratamento desenvolvido para que as mulheres travestis/trans tenham corpos mais próximos daqueles que desejam ou que procuram os clientes. Assim, de maneira arriscada, muitas dessas mulheres compram hormônios no mercado informal e/ou aplicam silicone industrial em seus corpos com as “bombadeiras” (mulheres que injetam o silicone industrial). Como consequência, o silicone industrial pode causar trombose, gangrena e até amputação. Em alguns casos, provoca a morte.

Toda essa vida difícil e exclusão sofridas pelas pessoas trans provoca, não raro, situações de envolvimento com a marginalidade e a fuga para suportar a dor causada por tamanhas dificuldades e rejeição, levando ao envolvimento com o tráfico de drogas, ao adoecimento, à depressão, a tentativas de suicídio e ao uso de drogas para anestesiar tanta dor.

É necessário exigir iniciativas urgentes dos governos, como aquelas concernentes ao uso do nome social sem burocracia e amplo acesso à saúde pública e de qualidade, incluindo tratamento respeitoso e humano. E também, estando atentos/as às demais instituições, como a mídia, que tem enorme responsabilidade sobre a dinâmica social.

Leia o 1º artigo: Recortes, conceitos e diferenciação entre as travestis e as mulheres transexuais

Leia o 2º artigo: A transexualidade aos olhos da Medicina e da Psiquiatria

Leia o 3º artigo: Retificação do nome e direito ao nome social

Leia o 4º artigo: A transfobia mata

Frida Pascio Monteiro, ativista trans, mestranda em Educação Sexual e militante do PSTU de Fernandópolis (SP)