“Desvelando a Transexualidade” é uma série de artigos sobre transexualidade nos mais variados aspectos. Este é o quarto artigo

Leia o 1º artigo: Recortes, conceitos e diferenciação entre as travestis e as mulheres transexuais

Leia o 2º artigo: A transexualidade aos olhos da Medicina e da Psiquiatria

Leia o 3º artigo: Retificação do nome e direito ao nome social

Sobre os assassinatos
O relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) que lança anualmente um estudo sobre a população LGBT assassinada no ano anterior, mostra-nos em seu relatório mais recente, do ano de 2016, que: “tais mortes crescem assustadoramente: de 130 homicídios em 2000, saltou para 260 em 2010 e para 343 em 2016. Durante o governo FHC mataram-se em média 127 LGBT por ano; no governo Lula 163 e no governo Dilma/Temer, 325”.

O GGB também nos diz que um LGBT é morto a cada 25 horas no Brasil. Ele ainda nos aponta que: “dos 343 LGBTs que foram assassinados em 2016, 31% desses assassinatos foram praticados com arma de fogo, 27% com armas brancas, incluindo ainda enforcamento, pauladas, apedrejamento, muitos crimes cometidos com requintes de crueldade: tortura, queima do corpo. Travestis geralmente são assassinadas a tiro ou espancadas na rua, enquanto gays são mortos dentro de casa, com objetos domésticos: facas, fios elétricos, sufocados na cama, muitas vezes encontrados pelos vizinhos somente pelo odor do corpo já em putrefação. Proporcionalmente, as travestis e transexuais são as mais vitimizadas: o risco de uma “trans” ser assassinada é 14 vezes maior que um gay, e se compararmos com os Estados Unidos, as 144 travestis brasileiras assassinadas em 2016 face às 21 trans americanas, as brasileiras têm 9 vezes mais chance de morte violenta do que as trans norte-americanas. Segundo agências internacionais, mais da metade dos homicídios de transexuais do mundo, ocorrem no Brasil”.

O relatório iniciou-se em 2012, e quanto ao segmento de travestis e transexuais observou-se que: em 2012, foram 128 assassinatos; em 2013, 108; em 2014, 134; em 2015, 119 e em 2016, 144.  Outro fator importante a salientar é a crueldade dos assassinatos praticados. Transfeminicídios acabam tendo mais requintes de crueldade do que os feminicídios, talvez por carregarem em si o machismo e misoginia, aliados ao fator da transfobia. Travestis e transexuais não são apenas assassinadas/os, o número de facadas ou tiros acaba sendo maior do que o cometido contra mulheres cisgêneras. O ódio é tanto que descarregam o pente todo da arma, degolam, espancam, torturam, queimam, esquartejam, esmagam os crânios, muitas vezes, de tal modo, que fica praticamente impossível reconhecer a identidade dos corpos. Esta é uma forma de realmente vilipendiar esses corpos, tirando-lhes toda a humanidade, mesmo após a morte; deixando-lhes nuas, com genitálias expostas, em um misto de culto à violência com altas doses de sádico erotismo.

Pessoas travestis e transexuais são assassinadas 2 vezes: uma, literalmente; outra, ao terem seus nomes e identidades de gênero desrespeitados em notícias na mídia e ao serem enterradas com os seus nomes de registro civil não-retificados.

Porém, todos os dados de pesquisa estão longe de apontar a realidade, pois cabe lembrar que estes dados são subestimados, pois baseiam-se apenas em notícias da mídia em que a motivação do crime nem sempre é explicitada e muitos são, ainda, omitidos pelas famílias. Assim, o Brasil é o país do mundo que mais mata pessoas trans.

Segundo a Rede Trans Brasil, 94% das vítimas estão solteiras; 50,6% são profissionais do sexo, e, em cada 24 homicídios, um o assassino era cliente da pessoa trans. O mais interessante e hipócrita é que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, mas, também é o país que mais consome pornografia deste segmento em suas buscas no Google por pornografia “tranny” ou “shemale”, dois termos altamente pejorativos utilizados pela indústria pornográfica mundial.

O Mapa de Assassinatos de Pessoas Trans no Brasil, feito pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), informa-nos que, só em 2017, de janeiro até o dia 9 de julho, foram cometidos 95 assassinatos contra travestis, mulheres e homens transexuais em nosso país.

A transfobia mata!

Leia o 1º artigo: Recortes, conceitos e diferenciação entre as travestis e as mulheres transexuais

Leia o 2º artigo: A transexualidade aos olhos da Medicina e da Psiquiatria

Leia o 3º artigo: Retificação do nome e direito ao nome social

Frida Pascio Monteiro, ativista trans, mestranda em Educação Sexual e militante do PSTU de Fernandópolis (SP)