Material mostrava interrogatórios “severos” a suspeitos de terrorismoUm novo escândalo sobre torturas atinge o governo Bush e aumenta a crise do seu governo. Na última semana, a população dos Estados Unidos ficou escandalizada quando foi revelada a destruição de pelo menos dois vídeos da CIA (Agência Central de Inteligência), que documentavam interrogatórios de supostos terroristas da Al Qaeda. A operção foi revelada pelo próprio diretor da CIA, Michael Hayden.

Os vídeos foram gravados em 2002 e mostravam agentes da CIA sujeitando suspeitos de terrorismo a “técnicas severas de interrogatório”. Um aforismo para as já costumeiras torturas praticadas pela Casa Branca. Os vídeos mostravam a utilização de métodos de interrogatório como o waterboarding, que consiste em jogar água sobre a cabeça encapuzada do suspeito.

A destruição dos vídeos se deu no final de 2005, por ordem de José A. Rodríguez Junior, então chefe de operações clandestinas da Agência. Na ocasião, o Congresso dos EUA investigava acusações de torturas.

Porém a justificativa oficial para a destruição do material foi de que era preciso “proteger a identidade dos agentes” de possíveis retaliações. A desculpa da CIA não está sendo aceita e tudo indica que a destruição das gravações foi para encobrir as torturas praticadas pelo governo dos EUA na chamada “guerra ao terror”.

Pouco depois das gravações serem destruídas, o Congresso norte-americano tinha aprovado uma legislação proibindo a prática de tortura a prisioneiros detidos nos EUA, inclusive aqueles que se encontravam sob custódia da CIA.

Por outro lado, o material foi destruído justamente quando a imprensa norte-americana revelava as fotos da barbárie cometida por soldados ianques na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Pouco depois, jornais do país também revelaram interrogatórios de suspeitos em prisões secretas dos EUA em pelo menos oito países. Após todos esses escândalos, certamente a CIA tinha motivos de sobra para encobrir toda e qualquer evidência sobre o emprego de métodos de tortura.

Bush e seus “falcões” repetiram dezenas de vezes que seu governo não pratica torturas e que os interrogatórios são realizados dentro da lei. Mas a sucessão de escândalos coloca abaixo as mentiras do presidente.

“É mais um argumento a favor da hipótese de que a CIA esteve e continua implicada em métodos de interrogatórios que violam o princípio da proibição de torturas” disse Mark Sheinin, relator da ONU.

Recentemente, Sheinin esteve em Guantánamo e expressou num informe elaborado para o Conselho de Direitos Humanos da ONU sua inquietude sobre o destino dos prisioneiros e da ausência de que os suspeitos tenham um julgamento justo.

Mas uma vez, casos de tortura geram uma nova crise em Washington. Agora a Agência e a Casa Branca enfrentam investigações no Congresso sobre obstrução da justiça.