Passaram-se dez dias desde que a advogada N., de 25 anos, foi sequestrada e violentada, em São José dos Campos. Aos poucos, ela já retomou seu trabalho. Conta que decidiu voltar à rotina normal o quanto antes, mesmo em meio à agitação dos últimos dias com o inquérito iniciado após sua denúncia. “O apoio e solidariedade que tenho recebido foram fundamentais, me ajudaram bastante”, afirmou a jovem que também é militante do PSTU.

Nesta quarta-feira, dia 8, N. voltou à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), para fazer novo reconhecimento do criminoso que a atacou. Arnaldo Alves da Silva, 33 anos, já cumpriu pena pelo mesmo crime de estupro. A advogada fez o reconhecimento juntamente com outra vítima, de 17 anos, que também foi atacada por ele no mês de março.

Conversamos lá na delegacia. Uma menina muito jovem, que também passou por esse horror. Fiquei emocionada. Ela disse que minha denúncia e o retrato falado levaram à captura desse criminoso e me agradeceu”, conta N.

Falaram na delegacia que depois de mim, outra mulher, na mesma região onde ele me sequestrou, também foi estuprada por ele. Fico imaginando quantas outras mais ele não atacou”, disse a jovem, que apesar de tudo que vem enfrentando, tem demonstrado uma força e firmeza muito grandes.

Ela ressaltou a importância de as mulheres denunciarem o estupro e a violência machista. “Sempre defendi que as mulheres devem fazer o B.O e denunciar. Mas na hora, realmente é difícil. Num primeiro momento cheguei a ficar em dúvida. Tive medo. Você sabe que vai ter de expor tudo o que aconteceu para outra pessoa, ele me ameaçou, tirou foto dos meus documentos, disse que viria atrás de mim. Na hora você está tão fragilizada, não consegue raciocinar direito. Mas acabei reunindo força e coragem e fui à delegacia no mesmo dia”, contou.

Fiz o que devia ser feito e todas devem fazer. Não podemos nos calar. É preciso combater o machismo e a violência. Ao denunciar você protege a si mesma e pode ajudar outras mulheres”, disse.

N. tem razão. Essa semana, a imprensa noticiou outro caso bárbaro. Em Bauru, uma menina de sete anos de idade tomou coragem para revelar que o pai tinha abusado dela, após ver na televisão a repercussão do caso do estupro coletivo da adolescente no Rio de Janeiro e as campanhas incentivando a denúncia.

Repercussão garantiu prisão de criminoso
Na maioria das vezes os casos de estupro e violência doméstica acabam engavetados, sem ir pra frente, por que os governos não têm uma política pública efetiva de combate à violência e proteção das mulheres. Os problemas são diversos. Não há número suficiente de Delegacias da Mulher no país, o funcionamento não é 24h, não há profissionais treinados para atender uma vítima de violência, as delegacias sequer têm estrutura para tocar um inquérito. Chega-se ao absurdo de nas próprias DDM ou delegacias de polícia as mulheres serem discriminadas e alvo do machismo.

O fato é que não existem investimentos por parte dos governos. Com Lula e Dilma, somado todo o investimento nos primeiros dez anos de governo do PT e dividido pelo número de mulheres no país, vemos que foi investido apenas o equivalente a R$ 0,26 para cada uma delas. Já Michel Temer nomeou para a Secretaria de Mulheres uma ex-deputada conservadora do PMDB que é contra o aborto até mesmo em casos de estupro. Tudo isso, aliado ao machismo institucionalizado e à cultura do estupro existente na sociedade, dificulta enormemente a luta contra a violência à mulher.

No caso de N., a denúncia e a batalha dada junto à DDM pela captura do estuprador garantiu outro desfecho. “Não fosse a repercussão do caso poderia ter sido muito diferente. Por isso, é preciso denunciar, procurar apoio em organizações de defesa da mulher, ir à imprensa, criar uma comoção para que a violência não fique impune”, afirma.

A jovem advogada considera ainda que a chamada cultura do estupro, que culpa e responsabiliza a mulher em casos de estupro, como ocorreu com a adolescente do Rio, é uma segunda violência que as mulheres sofrem e é um dos principais empecilhos para a denúncia.

A culpa nunca é da mulher. Não existe roupa, lugar aonde ela possa ir, o horário em que sai. Nada disso causa o estupro. Meu caso é um exemplo. Estava com corpo todo coberto, saindo do trabalho, em plena luz do dia. Ainda assim fui atacada. Muitas estão em casa, com os maridos ou com parentes, e também são estupradas. Enfim, o estupro e a violência são frutos do machismo”, disse.

N. ainda tem muito pela frente. O inquérito está prestes a ser concluído e aí começará o processo. “Sei que terei de ir várias vezes ao fórum. Mas vai valer a pena. Esse estuprador não pode ficar solto e minha luta é para que ele fique preso por muito tempo”, disse. Ela destaca ainda as manifestações que tem tomado as ruas contra os casos de estupro e a violência à mulher. “Esse é caminho. Nós, mulheres, temos de nos unir e ir à luta. Juntas, fica mais fácil conseguir enfrentar a violência e o machismo”, concluiu.

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