O Blog PSTU Vale entrevistou o trabalhador petroleiro e diretor do Sindipetro-SJC, Lucas Guerra Derisso, sobre o atual escândalo que envolve a Petrobras.

Trabalhador da Revap – Refinaria Henrique Lage, de São José dos Campos, Derisso falou sobre como os trabalhadores têm visto as denúncias e a atual situação da empresa.

Explicou como tem se dado no dia a dia dos trabalhadores a política privatista tanto do PSDB, quanto do PT, os ataques aos petroleiros, a política de desinvestimento imposta à estatal e por que a única saída é a defesa de uma Petrobras 100% estatal. Confira.

Blog PSTU Vale – Como petroleiro, qual sua opinião sobre as denúncias envolvendo a Petrobrás e a compra da refinaria em Pasadena?
Lucas – É um escândalo que tem vários aspectos. Por um lado, a hipocrisia e cinismo da direita tentar passar a imagem de defensora da Petrobras. O que é mentira, claro. A direita sempre defendeu a privatização da empresa e o seu sucateamento.

De outro, não podemos negar que a gestão petista sobre a empresa tem uma série de problemas e irregularidades, fruto da escolha que o PT fez ao abandonar seus princípios em nome da governabilidade.

A primeira reação de todo petroleiro, com certeza, é de tentar defender a empresa. É uma característica do petroleiro, porque a história da Petrobrás se confunde com a luta por soberania nacional. Sua criação veio de uma mobilização popular, ‘O Petróleo É Nosso’. Então, é quase espontâneo esse sentimento.

A questão é: como defender? Não acredito que defender a empresa seja defender o governo Dilma, que permitiu e criou toda essa crise. Temos que construir uma ampla defesa da empresa, denunciando a direita, mas sem esconder os erros cometidos pela gestão petista. O PT não é vítima, é responsável por tudo isso.

Blog PSTU Vale – Há uma campanha em torno de uma administração temerária da estatal. Como está a Petrobras e o que levou a atual situação?
Lucas – Por causa da crise internacional, a política ousada e agressiva da Petrobras de amplo crescimento em todo o mundo (Pasadena era parte disso) foi repaginada desde a chegada de Graça Foster à presidência da companhia. Isso significou uma série de reduções de custos que, infelizmente, é bancada pelos trabalhadores.

De que forma? Com a desvalorização salarial, pois estamos há mais de 17 anos sem aumento real no salário base; com a redução da PLR; com o aumento da terceirização, que diminui o efetivo próprio e aumenta os números de acidentes; com a redução de custos na própria manutenção e aquisição de novos equipamentos. Hoje, muitas refinarias e outras unidades de produção estão em situação crítica de sucateamento.

Existe uma política de desinvestimentos, somada ao PROCOP (Programa de Otimização de Custos Operacionais), aplicada para gerar economia à custa dos trabalhadores, da precarização das condições de trabalho. Tudo isso para agradar o mercado financeiro e manter no mesmo patamar os lucros dos acionistas.

Toda essa política, que afeta o dia a dia do petroleiro, tem uma explicação: a política do governo petista para a Petrobrás não está voltada para a soberania energética do país e nem para o uso social da riqueza gerada por nós, petroleiros.

Pergunto: de que adianta recordes de produção e de lucro, se nada disso é revertido para os trabalhadores e para o povo brasileiro? A empresa não é mais estatal. Ainda é controlada pelo governo, mas suas ações estão no mercado internacional há muitos anos. É o capital privado quem dita as regras do jogo.

Então, temos dois problemas fundamentais na administração da Petrobras hoje: de um lado, toda a precarização imposta pelos desinvestimentos e redução de custos; de outro, o uso política da companhia pelo PT para construir maioria no Congresso, para agradar a base aliada.

A empresa, na alta direção, virou um grande balcão de negócios. Diretorias estratégicas para a empresa foram simplesmente distribuídas para partidos da direta como PMDB e PP. Paulo Roberto Costa, que foi preso, era indicado do Maluf. Uma vergonha. Com isso, o PT criou todas as condições para irregularidades, superfaturamento e corrupção.

Blog PSTU Vale – O governo acusa os que criticam a Petrobras de serem inimigos da estatal e do país. Como você avalia isso?
Lucas – É uma jogada muito bem elaborada do governo, mas nem por isso honesta, porque coloca qualquer crítico da gestão petista na Petrobras como um inimigo. Com certeza, a direita que ataca a Petrobras sempre foi uma inimiga histórica da companhia. Sobre isso, não há dúvidas. Trata-se de um grande cinismo desses setores criticar a mesma empresa que, nos anos 1990, quase quebraram. Foram eles os primeiros e os maiores defensores de sua privatização, de seu sucateamento. São, sim, inimigos.

O problema é o que governo usa esse discurso para colocar no mesmo balaio até mesmo os setores que fazem críticas justas, à esquerda do governo. Faz isso para depois nos acusar de fazer o jogo da direita. É desonesto.

Precisamos combater isso, por que é o próprio PT que faz o jogo da direita ao preservar uma política privatista na Petrobras e ao transformar a empresa em um balcão de negócios. Toda a política aplicada na empresa, desde FHC até Dilma, não mudou: toda a produção, todo o lucro, toda a política de Recursos Humanos, assim como a política de segurança e meio ambiente, é voltada para os interesses dos acionistas.

Pasadena, por exemplo, foi adquirida porque fazia parte do plano estratégico de FHC, de 1999. O PT poderia ter revertido isso, mas por que não reverteu? FHC fez cinco leilões, o PT já fez seis, incluindo o leilão de Libra. Para ser honesto, o PT também tem atuado como inimigo da estatal.

Blog PSTU Vale – Há diferenças na gestão da Petrobras entre os governos do PSDB e do PT?
Lucas –
 São formas diferentes de aplicar a mesma política. O PSDB lançou uma política privatista direta, sem rodeios. O PT também executa uma política privatista, com o mesmo conteúdo, mas com uma forma diferente, muito mais sutil. É por isso que muitos trabalhadores, da própria categoria, enxergam uma diferença. Embora, na prática, ela não exista.

Além disso, existe um trauma muito grande entre os petroleiros dos anos de gestão tucana. Existia um enfrentamento direto com os trabalhadores e um plano, sem maquiagens, de privatizar a empresa. Era algo direto. FHC não se envergonhava de defender uma Petrobras entregue ao estrangeiro.

Lula e Dilma fazem diferente. Primeiro, de fato, realizaram algumas concessões como a retomada de concursos e investimentos em algumas áreas abandonadas pelo PSDB. Mas tudo isso ainda sob a lógica do lucro, do capital, sem tocar de fundo nas questões mais fundamentais. Não reestatizou a companhia, não retomou o monopólio estatal do petróleo e nem reincorporou empresas do Sistema Petrobras como a Transpetro. Com isso, abandonaram o que defendiam antes de chegar ao poder e mantiveram a mesma política privatista, mas de modo muito mais nocivo; porque é enganando, iludindo os trabalhadores.

Blog PSTU Vale – Até que ponto as disputas para a eleição deste ano influenciam o atual escândalo?
Lucas – Influenciam diretamente. São, na verdade, a grande explicação para a dimensão que os fatos tomaram nas últimas semanas. A denúncia sobre Pasadena é requentada. Aliás, foi Silvio Sinedino, na época em que estava no seu primeiro mandato como representante eleito dos empregados no Conselho de Administração da companhia, que fez essa denúncia. Isso tudo foi em 2012. E ninguém deu bola. Poucos jornais abordaram o tema e a direita, com sua hipocrisia típica, sequer mencionou o assunto.

Isso só veio à tona agora por ser ano eleitoral, porque a direita está desesperada para criar algum trunfo político. Naquela época, quando Sinedino cobrou explicações, a presidente Dilma e Graça Foster, presidente da Petrobras, tiveram todas as condições para investigar a negociação longe do oportunismo da direita e da imprensa burguesa. Mas nada fizeram. Hoje, pagam o preço por tentar jogar para debaixo do tapete as irregularidades dentro da companhia.

Blog PSTU Vale – Dá para confiar na CPI criada pelo Congresso?
Lucas –
 Absolutamente, não. Até mesmo por ser ano eleitoral, o que a oposição quer é desgastar a imagem da Petrobras para que isso, automaticamente, atinja o governo. Não acredito que a direita esteja interessada em investigar as irregularidades. E nem que esteja movida pelo desejo de transparência e ética. É um trunfo eleitoral que querem conquistar. Por isso, não devemos ter nenhuma ilusão sobre esta CPI. Na minha opinião, será mais um palanque para disputas eleitorais. E o pior: mais uma ferramenta para defender a privatização da Petrobras.

Blog PSTU Vale -Por que a exigência de Petrobras 100% estatal é uma das principais reivindicações dos movimentos sindical e social atualmente?
Lucas – Esta é uma bandeira histórica dos movimentos sociais desde o surgimento da campanha ‘O Petróleo É Nosso’, que foi a responsável pela criação da empresa. Essa bandeira ganha importância ainda maior neste momento, porque opinamos que é a aplicação desta reivindicação a única capaz de afastar da Petrobras a corrupção e também a privatização. É através de uma Petrobras 100% estatal, sob o controle dos trabalhadores, que conseguiremos colocar a maior empresa do país a serviço do povo brasileiro, a serviço das necessidades mais fundamentais do povo pobre e trabalhador deste país.

Uma empresa estatal, controlada pelos trabalhadores, não terá espaço para corruptos e nem corruptores, porque os cargos na alta direção não serão mais usados como moeda eleitoral e distribuídos para políticos corruptos. E, além disso, ao estar estatizada toda sua política deixará de estar subordinada ao capital e aos acionistas para estar direcionada, de fato, para a soberania nacional e o desenvolvimento social e econômico do país.

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