Início da greve em Cubatão, quando mobilização envolveu 15 mil trabalhadores de 25 indústrias

Ignorados pela grande imprensa, desprezados pelos patrões e invisíveis aos olhos da opinião pública, os operários terceirizados da Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (SP), na Baixada Santista, resolveram sair na marra da invisibilidade

Nesta terça-feira (27/05), 23º dia de greve dos trabalhadores da empreiteira Tomé, dois ônibus foram incendiados. Um gesto radicalizado de raiva contra as condições degradantes de trabalho, o salário de fome e os calotes, que acontecem quase todo mês. Soma-se a esses ingredientes a revolta com o descaso da Tomé, que insiste em negar as reivindicações, e com a negligência da Petrobras, que assiste ao conflito de camarote sem nada fazer.
 
Seguindo as dezenas de exemplos que se espalham pelo país em outras categorias às vésperas da Copa do Mundo, os mais de cinco mil trabalhadores da Tomé lançaram mão da única, porém poderosa, ferramenta que têm em mãos: a greve. Eles exigem, além dos 10% de reajuste salarial já arrancados, nenhum desconto dos dias parados.
 
No início da greve, deflagrada em 5 de maio, a mobilização envolvia todo o Polo Industrial de Cubatão. Mais de 15 mil trabalhadores espalhados em 25 indústrias realizaram um forte movimento. Entretanto, para os trabalhadores da Tomé a luta não podia acabar. Responsáveis por erguer a nova unidade de diesel da refinaria, uma obra milionária que vale no mínimo R$ 3 bilhões, era impossível para os trabalhadores não observar o abismo brutal entre a riqueza que produzem todos os dias e a vida dura que enfrentam cotidianamente. 
 
Retaliação patronal
Logo após a decisão de manter a greve, tomada mesmo com os riscos inerentes agora à luta isolada, os trabalhadores sofreram um revés: a empreiteira Tomé resolveu partir para a contraofensiva, cortando o vale alimentação dos trabalhadores. Sem esse depósito mensal, fundamental para garantir comida na mesa da família, os ânimos se exaltaram. “Agora o caldo vai entornar, se querem intimidar a gente, a nossa resposta vai ser no mesmo calibre”, prometeu um operário, durante a assembleia.
 
A previsão não poderia ser mais precisa. A massa de operários respondeu a retaliação dos patrões com a continuidade da greve. O incêndio dos dois ônibus, nesta terça-feira, foi apenas a continuidade de uma radicalização nos métodos de luta dos trabalhadores que passou a envolver a ocupação de rodovia, formação de piquetes e até mesma a eleição de uma comissão de base, por fora do sindicato.
 
Espontaneamente, no calor da luta, os trabalhadores subiram, provavelmente de modo inconsciente, os degraus da luta de classes. O ódio ao patrão, assim como a desconfiança diante de uma direção sindical vacilante, é visível nos olhos dos trabalhadores em luta.
 
“A partir de agora, o sindicato só fala com a nossa autorização e quando a gente quiser”, afirmou um dos quatro trabalhadores eleitos na rodovia ocupada. Ele é ovacionado. Já a burocracia sindical, que em nenhum momento participou do piquete espontâneo dos trabalhadores, se cala diante dos trabalhadores e se justifica diante da imprensa.
 
“A diretoria do sindicato esclareceu que não tem nenhuma responsabilidade sobre a paralisação da rodovia. A diretoria, a militância e os equipamentos do sindicato estão no local da assembleia e não foram para a estrada. O diretor também disse que o sindicato não promoveu nem incentivou a paralisação da rodovia. Mesmo assim, ajudou a polícia a convencer os manifestantes a se retirarem do local”, relatou a reportagem do G1 Santos e Região.
 
Justiça dos ricos
Responsável em tese por conciliar os conflitos entre patrões e empregados, a Justiça, mais uma vez, demonstrou seu caráter de classe. No dia 22 de maio, uma quinta-feira, o conflito foi parar nos corredores do Tribunal Regional do Trabalho que teve a proeza de piorar a proposta da patronal, reduzindo em 2,5% o aumento salarial proposto, decretando ainda a greve ilegal. “Tribunal é tudo dominado por essas empresas, é tudo combinado já”, chegou a conclusão um dos operários em greve.
 
O desenlace final da greve está próximo. Desde o primeiro dia, o PSTU e a CSP-Conlutas estão jogando toda a sua militância em apoio a esses guerreiros da construção civil. Entre a vitória ou derrota imediata desta greve está a certeza de uma conquista que ultrapassa qualquer avanço econômico, qualquer porcentagem salarial: o avanço na consciência de classe, quando milhares de trabalhadores descobrem quem é seu inimigo e quem é seu aliado.