Ameaça de demissões no Brasil faz parte da política da montadora em todo o mundo

O final do ano de 2008, um dos momentos de aprofundamento da crise econômica, em particular nos Estados Unidos, marcou profundas transformações na GM. Acossada pela crise, a empresa chegou a entrar em concordata. Suas ações chegaram a valer menos de um dólar e o governo americano foi obrigado a intervir para impedir a bancarrota total da multinacional, o que teria consequências no agravamento da situação econômica mundial.

Em um acordo que envolveu os ex-acionistas, o governo norte-americano, o canadense, e o VEBA – uma espécie de fundo de pensão administrado pelo UAW (o sindicato nacional dos trabalhadores da indústria automobilística) – a empresa conseguiu sair da concordata rapidamente e promoveu uma grande reestruturação, que já vinha sendo desejada pela companhia há anos.

O governo Obama ficou com a maioria das ações e o controle da administração da GM. A saída da concordata, no início de 2009, implicou no fechamento de 17 fábricas, na extinção de diversas marcas, na demissão de 35 mil trabalhadores e na criação de uma “Nova GM”, fruto da reestruturação.

Em colaboração com a burocracia sindical da UAW (que se transformou em “sócia” da empresa), foram criadas novas estruturas salariais que rebaixaram à metade o salário da nova geração de trabalhadores: a 12 e 16 dólares por hora, frente aos 32 dólares recebidos anteriormente. Essa foi a base da forte reestruturação nos EUA, onde quem pagou a conta da crise foram os trabalhadores.

Junto com isso, a empresa conseguiu altos lucros em países como Brasil, China, Coréia o que possibilitou uma alta remessa de lucros para a matriz. Também, ocorreu uma restruturação parcial na Europa, com precarização do trabalho e o fechamento de plantas como na Antuérpia (Bélgica).

Com isso, a empresa retomou em 2011, a posição de primeira montadora do mundo, derrubando a Toyota, afetada pelos efeitos do tsunami no Japão. Em 2012, a Toyota retomou a liderança, mas por uma pequena diferença.

Reestruturação internacional
Esta receita da GM foi amplamente utilizada pelas montadoras nos EUA e no mundo, levando a uma precarização geral do trabalho. Os trabalhadores, hoje, vêem suas condições de vida se deteriorar rapidamente. Fazer mais carros, com menos trabalhadores e salários menores: é o que faz a GM se utilizando também de avançadas tecnologias.

Assim, apesar da crise econômica, cresce a produtividade do trabalho nos EUA e a competividade da empresa, que se recupera e se aproveita do pequeno crescimento do mercado automobilístico norte-americano. A GM, agora, se prepara para voltar integralmente à bolsa de valores e o governo Obama para vender suas ações e deixar o controle da empresa.

No entanto, a forte concorrência entre os capitalistas, o crescimentos das empresas asiáticas e o aprofundamento da crise econômica na Europa fazem com que a reestruturação seja permanente e cada vez maior. Só assim as empresas podem manter suas taxas de lucros e ganhar mais força, aumentando a exploração dos trabalhadores.

Ofensiva das montadoras
Assistimos neste momento a uma sucessão de ataques, com ameaças de fechamentos de empresas em vários países e o deslocamento da produção para regiões de baixo custo. Até na Alemanha, onde não se fecha uma planta desde a Segunda Guerra Mundial, a GM quer acabar com a produção na fábrica em Bochum, em 2016. Na França, a PSA GM quer fechar uma planta, demitir até 8500 trabalhadores e por isso enfrenta uma greve neste momento.

A Ford anunciou o fechamento da planta na Bélgica no final do ano passado, o que também tem gerado protestos. As sucessivas concessões feitas nesta empresa pela burocracia sindical, com redução de direitos e salários, não impediram que a multinacional tomasse esta decisão.

Na Itália, a veterana Fiat tem promovido uma forte reestruturação com diminuição dos postos de trabalho, fechamento de plantas e chantagens sobre os trabalhadores. Com a queda das vendas na Europa, cresce a concorrência entre as empresas e as fusões para aumentar a escala de produção. Estima-se que apenas seis ou sete montadoras sobreviverão, em escala mundial, a esse processo.

Ataques no Brasil
A ofensiva da GM no país tem como pano de fundo esta situação. Mesmo nos países onde ainda existe crescimento de vendas, como é o caso do Brasil. A vinda de novas empresas, que praticam baixos salários e normalmente se instalam em locais com fraca tradição sindical, pressiona ainda mais para a reestruturação. A “receita GM” se espalha da matriz, nos EUA, para todo mundo: trabalhar mais, com menos trabalhadores e salários mais baixos, fechar fábricas e diminuir os postos de trabalho. Por isto, também, deve ser enfrentada internacionalmente.

As mobilizações que se iniciam na Europa contra o fechamento de fábricas mostram o caminho. O encontro realizado em São José dos Campos (SP) no ano passado entre operários do Brasil, Espanha, Alemanha e Colômbia apontou para a necessidade da luta unificada. As recentes manifestações em Detroit (nos EUA) durante o Salão internacional do Automóvel e a realização de um dia global de manifestações, no dia 23 de janeiro, apoiando a luta dos metalúrgicos da GM de São José dos Campos, são expressões dessa visão internacional.

Ainda são pequenas iniciativas, mas apontam o caminho. Contra a globalização capitalista, temos de apostar na globalização das lutas e da resistência.

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