Pronunciamento de Michel Temer. Foto Agência Brasil
Redação

No dia seguinte à denúncia apresentada pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ao STF, Michel Temer veio a público tentar responder às acusações de corrupção. Num pronunciamento vergonhoso em que abusou da cara de pau, Temer afirmou que as denúncias não apresentavam nenhuma “prova concreta” e que seria baseada apenas em “ilações” (suposições), resumindo-se a uma “peça de ficção”.

Só faltou dizer que o diálogo gravado com o dono da JBS, Joesley Batista, assim como a filmagem de seu assessor, Rodrigo Rocha Loures, homem de sua “mais estrita confiança”, carregando afoito uma mala abarrotada de dinheiro, não passou de uma montagem ou um delírio coletivo. Prova mais cabal que isso só mesmo um recibo de propina assinada por Temer, com firma reconhecida.

Acuado, Temer foi ao ataque e denunciou o Ministério Público a fim de atingir Janot. Chamou a atenção para o caso do procurador Marcelo Miller, que trocou o MP por um escritório de advocacia que presta serviço à JBS. Coincidentemente, a mesma acusação lançada por Gilmar Mendes dias antes numa entrevista à TV.

O vergonhoso acordo firmado pelo MP e a JBS, que deixou Joesley livre depois de bilhões do dinheiro público surrupiados via “empréstimos” do BNDES, só mostra as relações espúrias e de conveniência entre a Justiça e os ricos. Mas não serve para aliviar a barra de Temer, que se vê numa situação cada vez mais complicada. A verdade é que a denúncia abre mais um capítulo à longa crise política, que se soma à crise econômica e social que arrasta o país.

Crise se aprofunda
A burguesia segue dividida sobre o que fazer: parte cada vez mais considerável passa a defender a renúncia de Temer para que a sua substituição se dê da forma mais rápida possível. FHC chegou a conclamar a renúncia de Temer e a convocação de novas eleições. Outra parte, cada vez mais minoritária, teme um rebuliço ainda maior que possa aprofundar a crise institucional e a desmoralização do governo, Congresso e da própria Justiça.

Unanimidade entre os de cima só uma: as reformas, principalmente a reforma da Previdência, devem ser aprovadas tornando-se secundário quem esteja à frente da presidência. Para isso já há articulações em torno a nomes como Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Gilmar Mendes, etc., para assumir o lugar de Temer.

Hoje por hoje, embora esteja cada vez mais enfraquecido e sem condições de governar, Temer parece ter os votos para barrar a denúncia na Câmara dos Deputados. No entanto, longe de debelar a crise, isso só aprofundaria a desmoralização desse Congresso corrupto e desse governo cuja popularidade está bem abaixo do volume morto.

Dia 30 vamos parar o Brasil!
A denúncia contra Temer deve servir para fortalecer a Greve Geral do dia 30 de junho. Mais do que nunca, fica evidente que as reformas podem ser derrotadas. E torna ainda mais absurda qualquer tentativa de negociação por parte das cúpulas de algumas centrais sindicais, como chegou a sair na imprensa nos últimos dias. O movimento deve se lançar à ofensiva neste momento em que o governo se enfraquece a fim de derrotar as reformas trabalhista e da Previdência, e pela revogação das terceirizações. Esse é o caminho para botar abaixo esse governo e esse Congresso e impedir que esse, ou qualquer outro governo, venha a aprovar as reformas.

Coluna da CSP-Conlutas durante a marcha em Brasília

A indignação generalizada contra Temer e seus ataques, porém, deve se transformar em pressão para que as direções das centrais se joguem para valer nessa Greve Geral. Os trabalhadores e a população já deram mostras suficientes de que estão dispostos a lutar e a parar, inclusive numa Greve Geral de 48h, contra as reformas do governo. É preciso agora que as direções das centrais façam a sua parte, como vem exigindo a CSP-Conlutas.

Uma forte Greve Geral pode não só derrotar de vez as reformas, como botar abaixo esse governo e esse Congresso de bandidos, botá-los todos na cadeia e expropriar seus bens, assim como expropriar todas as empresas envolvidas em corrupção, como a JBS e a Odebrecht, e colocá-las sob comando dos trabalhadores.

Avançar na organização dos trabalhadores. Esse país precisa da uma revolução!
Dilma traiu os trabalhadores, perdeu sua base social e caiu. O corrupto Temer, seu vice, é um bandido disposto a qualquer coisa para atender os interesses dos banqueiros e empresários. Esse Congresso Nacional, por sua vez, está a cada dia mais desmoralizado. Vai ficando evidente para os trabalhadores e a população que a saída não está nas eleições controladas pelos bancos e empreiteiras.

Para contrapor ao programa da burguesia que prevê ataques aos nossos empregos, salários, direitos trabalhistas e aposentadoria, precisamos de um programa nosso, dos trabalhadores, que garanta empregos, salários, aposentadoria e direitos básicos às custas dos lucros dos grandes bancos e empresas. Mas isso não virá das eleições. Só conseguiremos derrotar os ataques através da nossa luta, e para isso, precisamos avançar na organização da classe operária, dos trabalhadores e o povo pobre. Isso passa por fortalecer os comitês de luta contra as reformas, generalizá-los nas fábricas e periferia, apontando uma saída da nossa classe a essa crise.

Só conseguiremos derrotar definitivamente o programa dos ricos, e impor o nosso, e mudar de vez a vida dos trabalhadores e da grande maioria da população, com um governo socialista dos trabalhadores, que governe através de conselhos populares eleitos nas fábricas, locais de trabalho, escolas e bairros pobres. Só um governo formado pela classe operária e o povo pobre desse país, através de suas próprias organizações construídas na luta, pode mudar de fato a realidade do Brasil.

Fortalecer a auto-organização da classe trabalhadora e do povo pobre através dos comitês de luta contra a reforma torna-se, assim, fundamental não só para a luta imediata contra os ataques de Temer, mas como um embrião de poder para os próprios trabalhadores.