Rodrigo Maia é a velha cara nova da Arena da ditadura militar

O novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi eleito na madrugada desse dia 14 com os votos de partidos como o PSDB, o PT e o PCdoB. “Sem a esquerda não venceria essas eleições“, chegou a discursar Maia após a votação.  Referia-se aos votos recebidos da antiga base do governo Dilma, é bom que se explique.

Para quem não se lembra, o líder do DEM não só votou a favor do impeachment de Dilma na Câmara como integrou a linha de frente da oposição burguesa que hipotecou apoio a Temer. Ou seja, era um dos líderes do “golpe” tão propalado pelo PT e aliados. Passada a perplexidade e constrangimento de parte da esquerda que insiste na tese do golpe, fica a pergunta: quem é Rodrigo Maia?

Uma cara nova a um partido velho
Rodrigo Maia entrou na política através do prefeito Luiz Paulo Conde (PFL) que o nomeou secretário de governo em 1996 no Rio de Janeiro. Conde foi escolhido pelo próprio César Maia para sucedê-lo na prefeitura num período em que não havia reeleição. Foi o trampolim, junto à influência do pai, que catapultou Rodrigo a Brasília dois anos depois. Rodrigo Maia cumpre agora seu quarto mandato como deputado federal.

Na era Lula, o então PFL que integrava o governo FHC vai para a oposição e Maia se torna vice-líder da legenda. Nos anos seguintes, o partido se desidrata e muda de nome para DEM para tentar uma malfadada repaginação que o dissociasse da ditadura militar e dos anos de FHC. Parte dessa maquiagem é a promoção do jovem Rodrigo Maia à presidência do partido. Tal tática, porém, não dá muito certo. Seu partido que tinha 105 deputados quando ele foi eleito pela primeira vez, elegeu só 21 nas últimas eleições.

O próprio Maia, embora tenha sempre uma votação significativa no Rio para a Câmara dos Deputados, amargou parcos 3% dos votos quando se lançou a prefeito em 2012 em unidade com Garotinho contra Eduardo Paes (PSDB). Derrotado, trata de voltar a Brasília em 2014.

E é claro que um político não vai chegar à presidência da Câmara sem denúncias de corrupção, não é mesmo? Pois Rodrigo Maia não foge à regra e também aparece na Lava Jato. No celular do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, apreendido pela Polícia Federal, tem mensagem de Maia pedindo dinheiro para o empreiteiro. “A doação de 250 vai entrar?”, perguntou o deputado sem mais delongas.

É de se compreender, portanto, que o projeto de reforma política do qual foi relator tente dificultar ainda mais a fiscalização das doações eleitorais aos partidos. Como explicar, por exemplo, que o BMG, banco protagonista do escândalo do mensalão cuja CPI o deputado integrou, tenha sido um dos principais financiadores de sua última campanha?

PT e PCdoB ressuscitam o velho PFL
Mais grave que a biografia de Rodrigo Maia é o ressurgimento do PFL na vida política do país. O partido, surgido de um braço do PDS, sucessor da Arena, o partido da ditadura, estava à beira da extinção nos últimos anos, e ganha novo fôlego. Já comanda o Ministério da Educação do governo Temer e agora ganha a direção da Câmara. Com os votos do PT e PCdoB.

A política de colaboração de classes, do vale-tudo parlamentar e de alianças com os setores mais retrógrados e reacionários levado a cabo pelo PT nos anos de governo Lula e Dilma deram força e impulso ao PMDB e figuras como Michel Temer e o próprio Eduardo Cunha.  Agora, ajuda a conduzir o “golpista” DEM ao comando da Câmara.

Uma vez sentado na cadeira deixada por Cunha, Rodrigo Maia já avisou quais serão suas prioridades: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelece um teto para os gastos públicos e a reforma da Previdência. Não coincidentemente, duas medidas anunciadas pelo governo Dilma no primeiro semestre deste ano.

Os votos dados pelo PT e PCdoB ao DEM, assim, só escandaliza quem divide o Congresso Nacional em “golpistas” e “antigolpistas”. Em “direita” e no “mal menor” que seria o PT. Na verdade, estão todos juntos em torno a um só golpe, não contra Dilma, mas contra a classe trabalhadora e os nossos direitos.

Fora Temer! Fora Todos! Eleições Gerais já!
A conturbada eleição da Câmara, porém, expressa não só o papel cumprido por partidos como PT e PCdoB. Mostram também uma divisão profunda da base do governo Temer e uma fragilidade que tende a se aprofundar com a iminente queda de Cunha.  Como disse o agora ex-presidente da Câmara: “Hoje sou eu. É o efeito Orloff. Vocês, amanhã. Não tenho a menor dúvida”.

É preciso botar Temer para fora, assim como esse Congresso Nacional formado por corruptos e picaretas, exigindo eleições gerais já, com outras regras. Mas esse país só vai mudar de verdade com um governo socialista dos trabalhadores amparado não num congresso corrupto, mas em conselhos formados pelos trabalhadores em suas próprias lutas.

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